Publicado pela primeira vez no Brasil, O arqueiro, novo livro de Paulo Coelho, traz uma história rica em ensinamentos sobre como ter uma vida plena e repleta de propósito. Na obra, acompanhamos Tetsuya, o melhor arqueiro do seu país, que, após receber uma visita inesperada, transmite seus conhecimentos a um jovem da aldeia onde vive. Assim, conhecemos o caminho do arco, que nos inspira a seguir nossa intuição e a viver plenamente.
Confira abaixo uma entrevista em que Paulo Coelho fala sobre a essência da vida, como ter foco e o processo de criação do novo livro, que chega às livrarias brasileiras em capa dura e com ilustrações de Joana Lira. O texto foi originalmente publicado no blog do autor, e traduzida para esta publicação.
Você é um arqueiro também — o que te atraiu no esporte?
Paulo Coelho: Sempre achei muito elegante quando eu era jovem. Eu disse pra mim mesmo: “Um dia, eu vou fazer isso.” Então, comecei a viver nos Pirenéus, onde eu tinha uma casa pequena e conheci alguém por acaso. Essa pessoa começou a me ensinar a como usar o arco e as flechas, e ele me ensinou o básico da arquearia. É ir de uma tensão extrema a um relaxamento total, no momento exato em que você abre sua mão. E isso realmente é elegante, porque você precisa da postura para atirar bem. É sobre aprender como ter foco e fazer esse tipo de exercício não só por fazer, mas por fazer algo que você queira fazer. Então, eu aprendi.
Como suas experiências com arquearia te ajudaram a escrever esse livro?
PC: De certa forma, foi um ensaio sobre a minha experiência na arquearia. E, claro, eu tinha um princípio, uma história. Ao longo da leitura, você aprende tudo o que eu aprendi, tudo o que precisei. Atirar flechas não é simplesmente para acertar um alvo vazio, mas para realmente tentar ver o mundo através do arco. O momento de tensão extrema antes de você abrir a mão, a conexão. Se você acerta o alvo ou não, é irrelevante. Porém o que é relevante é se tornar o arco, a flecha e o alvo em si.
Houve alguma experiência em especial que te inspirou a escrever O Arqueiro?
PC: Um dia, eu estava na minha casa nos Pirenéus e pensei como era incrível, a arquearia, e eu queria escrever um livro sobre a minha experiência. Queria escrevê-lo mesmo que fosse apenas para eu mesmo ler, ou para resumi-la. Eu tentei me ensinar o que eu aprendi instintivamente. Às vezes, quando você aprende, você tem que sentar e entender o que você aprendeu. Ao fazer isso, eu escrevi o livro. Está nas suas mãos agora.
Como você sente que Santiago de Compostela influenciou suas obras e, especificamente, esse livro?
PC: A [peregrinação] de Santiago de Compostela é isso: você conhece seu alvo e vai em direção a ele. Isso me influenciou muito no sentido de que eu sabia que tinha que focar num certo ponto e seguir em frente.
O Arqueiro oferece diretrizes simples para uma vida bem vivida. Você acha que uma fábula ou alegoria é a maneira mais efetiva de ensinar o que você aprendeu sobre as verdades essenciais da vida?
PC: É um livro curto, você não precisa complicar as coisas. (risos) De fato, a vida é simples. Nós que complicamos demais. E uma fábula ou alegoria conversa com as partes ocultas de nós mesmos. Você aprende a essência da vida ao prestar atenção nas coisas simples que te rodeiam. Essa é basicamente a ideia de O Arqueiro. Estou falando sobre tudo em relação à amizade e além: a importância do arco, a importância da concentração. No fim das contas, é a vida. Você aprende vivendo sua vida ao máximo.
Você já teve um mentor como Tetsuya? Se sim, que ensinamentos você aprendeu?
PC: Não no sentido metafórico que uso no meu livro. Eu tive um mentor no sentido que eu precisava aprender o básico de como atirar, como evitar lesões. Sou muito grato a ele, porque foi ele que me ensinou tudo que sei. Mas, no fim das contas, como eu disse, você aprende fazendo algo. Algo que você gosta. Então na verdade, você não precisa de um mentor — só precisa dos passos. Uma vez que os passos foram tomados, você pode seguir em frente e repetir e repetir até um dia, não é que se torna automático, mas, de alguma forma, seu subconsciente toma o controle e segue em frente.
Você tenta seguir o exemplo de Tetsuya quando você aconselha jovens escritores?
PC: Eu não sou um mentor de jovens escritores. Quem sou eu pra aconselhar alguém sobre qualquer coisa? Claro que recebo convites para MaterClasses, mas nunca aceito, porque não tenho nada a ensinar. Acho que escrever é uma experiência por si só.
Pode nos dizer sobre as influências religiosas e espirituais na sua escrita? Como você se sente sobre O Alquimista sendo usado por muitos leitores como um guia espiritual, e você vê os leitores recebendo O Arqueiro da mesma forma?
PC: Claro, eu espero que nos passos de O Arqueiro, as pessoas vejam a mesma jornada que existe em O Alquimista. Claro, eles são diferentes. O Alquimista é um livro sobre a jornada e, apesar de O Arqueiro também ser, espero que usem O Arqueiro para ajudá-los a aprender o básico sobre a vida. Eu realmente torço por isso.
O que você espera que os leitores aprendam com o livro O Arqueiro?
PC: É impossível saber o que ele ou ela espera, porque todos os leitores experienciam o livro de formas diferentes. Eu recebo muitas cartas sobre meus livros e, às vezes, eles enxergam coisas que eu não enxergo e me contam sobre elas. Fico muito feliz de ler sobre, porque eu aprendo com eles. Aprendo com eles sobre mim mesmo.
Entrevista retirada e traduzida do blog do autor. Leia o original em: https://paulocoelhoblog.com/2020/11/10/today-the-archer-in-english/