O que você faria se o fim do mundo chegasse hoje? Este é o mote do filme A ordem do tempo, que marca a volta de Liliana Cavani, de 91 anos, à direção cinematográfica. No longa-metragem, um grupo de amigos se encontra em uma casa de praia na Itália, para comemorar o aniversário de 50 anos de Elsa. Lá, eles ficam sabendo por Enrico, físico reconhecido internacionalmente detalhes sobre o Anaconda, asteróide que entrou em nosso sistema solar em alta velocidade e que pode provocar o fim de qualquer vida nas próximas horas.
Inspirado no livro homônimo do conhecido físico italiano Carlo Rovelli, obra publicada no Brasil pela Editora Objetiva, a produção ficcional é carrega de reflexões a cerca da essência humana e sobre nossa finitude e faz uma importante conexão da física com o universo. Mostra ainda que, embora em nosso cotidiano não percebamos, muito do que acontece em nosso entorno não podemos controlar. Essa percepção cai como um peso nos ombros dos amigos que ao se verem diante de sua finitude sem escolhas, repensam seus caminhos, seus relacionamentos e seus amores.
O mar aparece também neste filme como um elemento de ligação com o tempo, o ir e vir das ondas em primeiro plano ou perifericamente nos remete à liberdade e ao fluxo da vida e da natureza. Não espere bebedeiras sem fim e disrupções, a linguagem italiana de Cavani traz mais delicadezas, reflexões internas e conversas francas do que revoluções distópicas.
Em plena atividade, aos 91 anos de idade, Liliana pertence a uma brilhante geração de cineastas italianos que se destacaram enormemente na década de 1970, entre eles Bernardo Bertolucci, Lina Wertmüller, Pier Paolo Pasolini e Marco Bellocchio.
Carlo Rovelli, por sua vez, é conhecido por sua interpretação relacional da mecânica quântica e já escreveu diversos livros sobre o tema, entre os quais Sete breves lições de física, A realidade não é o que parece, A ordem do tempo, O abismo vertiginoso e o recém-lançado Buracos brancos, todos traduzidos para mais de 40 idiomas e publicados pela Editora Objetiva.
Cavani conta que quando leu o livro de Rovelli sentiu a necessidade de transformar a obra de física num longa de ficção. “Quando fico tão absorta na leitura de algo, e sinto as emoções surgirem, quero transmiti-las ao meu público e geralmente decido fazer um filme sobre isso. Mergulhei profundamente em palavras emocionantes como: ‘Toda a nossa física, e a ciência em geral, trata de como as coisas se desenvolvem conforme a ordem do tempo’”, diz a cineasta. Cavani tem no currículo filmes como O porteiro da noite, A pele e O retorno do talentoso Ripley.
Quando fico tão absorta na leitura de algo, e sinto as emoções surgirem, quero transmiti-las ao meu público e geralmente decido fazer um filme sobre isso.