Conheça a história por trás da censura de “Verão de lenço vermelho”

19/06/2024

Verão de lenço vermelho, escrito por um duo de autoras ucranianas-russas, emergiu como um dos livros mais vendidos de 2022 na Rússia, alcançando a primeira posição nas listas de best-sellers por várias semanas. Publicado por uma editora independente, o livro de Katerina Silvánova e Elena Malíssova rapidamente se tornou uma sensação entre os jovens leitores russos, especialmente impulsionado pelo TikTok, onde se transformou em um verdadeiro fenômeno.

Só a hashtag oficial do livro na Rússia já conta com mais de 40 mil publicações. (Fonte: TikTok)

A trama do romance se desenrola vinte anos após o protagonista, Iura, ter passado seu último verão como pioneiro no Acampamento Andorinha. Ao retornar ao local, ele encontra apenas ruínas repletas de memórias daquele verão inesquecível. Entre aventuras no clube de teatro, histórias de terror inventadas para crianças e passeios à sombra de salgueiros, Iura viveu seu primeiro amor com Volódia, um jovem inteligente e educado. A narrativa captura de maneira sensível a nostalgia e as transformações que ocorrem durante a juventude enquanto acompanha o dia a dia dos anos finais da União Soviética.

Como o New York Times definiu, “a relação entre Iura e Volódia, que floresceu mesmo em circunstâncias adversas, é descrita com ternura. No fundo, é uma clássica história sobre o poder do amor jovem em triunfar, mesmo que contra todas as probabilidades”

No entanto, o sucesso do livro também trouxe consigo uma onda de ódio. Em maio de 2022, ativistas e políticos anti-LGBTQIAP+ lançaram uma campanha para banir o livro. As críticas giravam em torno da ideia de que a obra “desfigurava a ideia do que era a União Soviética”, “promovia valores ocidentais” e continha “propaganda LGBT”. As ameaças e a pressão crescente forçaram as autoras a deixar o país, buscando segurança diante das ameaças de morte. Mesmo assim, em agosto de 2022, foi anunciada uma sequência para o livro.

Katerina Silvánova e Elena Malíssova: duo de autoras ucranianas-russas escreveu o livro, um dos mais vendidos de 2022 na Rússia.

O anúncio da sequência intensificou ainda mais o descontentamento da extrema direita russa, resultando em novas ameaças às autoras e à editora. O Parlamento Russo começou a elaborar uma legislação mais rigorosa, visando criminalizar qualquer demonstração de homossexualidade em mídias, incluindo livros e filmes, inclusive entre o público adulto. Em outubro de 2022, desafiando o clima já hostil, a continuação de Verão de lenço vermelho foi publicada.

Em 5 de dezembro de 2022, a lei foi aprovada, banindo toda a literatura queer e qualquer menção a temas LGBTQIAP+ nas obras veiculadas no país. Esta legislação representou um golpe duro para a liberdade de expressão e os direitos LGBTQIAP+ na Rússia, silenciando vozes e histórias plurais.

Assim, Verão de lenço vermelho, de Katerina Silvánova e Elena Malíssova, tornou-se símbolo de resistência e coragem. As autoras, mesmo exiladas, continuam a inspirar leitores ao redor do mundo com essa história de amor. A batalha contra a censura e pela aceitação continua, e a jornada dessa obra é um testemunho do poder da literatura em desafiar normas e abrir caminhos para um futuro mais inclusivo.

Conheça o livro:

Vinte anos depois de ter passado seu último verão no acampamento Andorinha, Iura decide voltar. Os tempos são outros: já não existe União Soviética, o muro de Berlim caiu, sua vida seguiu adiante. Então não é nenhuma surpresa que, ao chegar lá, ele só encontre ruínas. Ruínas repletas de memórias.

Memórias daquele verão usando lenço vermelho no pescoço. O verão em que participou do clube de teatro ― e até acabou gostando. Em que inventou histórias de terror para divertir as crianças mais novas. Em que passeou de barco e deitou sob a sombra do salgueiro. O verão em que conheceu Volódia, um rapaz certinho, educado e muito inteligente. O verão em que viveu seu primeiro amor.

Talvez, enterrada ali em algum lugar, exista alguma pista que o leve até Volódia. Afinal, algumas pessoas marcam nossa vida para sempre ― e, mesmo décadas depois, ainda vale a pena lutar por elas.

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