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Traduzir de dia: tradutores de “Quem vai te ouvir gritar” contam bastidores do processo
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Por Naoíse Mac Sweeney* **
A capa da edição brasileira de O Ocidente, de Naoíse Mac Sweeney, brinca com a tela "Moça com o Brinco de Pérola", de Johannes Vermeer (Foto: Desenho Editorial)
Quando vi a capa da edição brasileira de O Ocidente pela primeira vez, algo imediatamente pareceu se encaixar.
É uma imagem tão poderosa.
Primeiro, ela é visualmente impressionante, com o equilíbrio entre o claro e o escuro, a linha rígida do pano e a curva arrebatadora da testa, acima da qual estão aqueles olhos que nos demandam e prendem nosso olhar. Mas também, de uma perspectiva conceitual, essa imagem indica exatamente o ponto que eu esperava atingir com o livro. Por pegar algo tão famoso e instantaneamente reconhecível, e literalmente virá-lo de cabeça para baixo, acaba desafiando nosso olhar a ver as coisas de outro modo. Esta é a maneira como eu gostaria que meus leitores pensassem sobre o Ocidente moderno e sua história – eu gostaria que eles virassem a narrativa padrão de cabeça para baixo, e vissem a beleza a partir de outro ponto de vista.
Fiquei ansiosa para ver a imagem de capa brasileira desde o momento em que ouvi que meu livro seria publicado no Brasil. O Brasil que recebeu o maior número de pessoas escravizadas da África, e que permanece até os dias de hoje demograficamente diverso, dando aos brasileiros uma perspectiva única da identidade e história do Ocidente.
Eu soube também que uma das figuras históricas que apresento em meu livro – Njinga, Rainha de Angola – ressoa especialmente no Brasil, e tenho muito interesse em ouvir as perspectivas dos leitores brasileiros sobre sua vida e seu lugar na história ocidental. Brasileiros também possuem, neste momento, um papel crucial na remodelação do futuro do Ocidente de novas formas, com a iminente alteração nas próximas décadas da posição um dia ocupada pelo mundo anglófono e pela Europa.
Eu me pergunto: o que eles farão com O Ocidente?
Naoíse Mac Sweeney, autora de O Ocidente (foto: Desiree Adams)
*Naoíse Mac Sweeney nasceu na Inglaterra em 1982. É arqueóloga, historiadora e professora do Departamento de Arqueologia Clássica da Universidade de Viena, com interesse em Antiguidade, políticas de recepção e identidade.
**Tradução do texto por Luiza Lunardi.
Que outra história do Ocidente poderia ser construída se a rainha Njinga de Angola, a poeta escravizada Phillis Wheatley e o intelectual palestino Edward Said fossem vistos como figuras relevantes na história da civilização ocidental? Ao descentralizar o papel da Europa, Naoíse Mac Sweeney desafia essa versão já conhecida e desconstrói a história hegemônica do Ocidente, jogando luz em importantes personagens históricos que foram escanteados por todo este tempo. A autora apresenta catorze perfis que oferecem um retrato multifacetado do passado e escancaram o mito do Ocidente. Ela desenvolve um percurso analítico, mostrando ao leitor como o passado sempre foi habitado por múltiplas vozes, em que o legado da antiguidade greco-romana passou por disputas, apropriações e intercâmbios por povos não europeus, mas que foram invisibilizados em prol da invenção de um Ocidente coeso e branco. Assim, Mac Sweeney nos convida a ampliar nosso olhar sobre o passado, pois não é possível transformar o presente sem desmontar a "narrativa grandiosa da Civilização Ocidental", cuja grandeza se deu às custas do sangue e do pensamento daqueles que foram historicamente marginalizados. A tradução do livro é de Denise Bottmann.
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