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Finalmente, eles soltaram o Pum no banho
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Você já deve ter se feito essa pergunta algumas vezes. “Ele não presta atenção”, “ele não para quieto”, “ele não entende a história” são alguns questionamentos que surgem quando pegamos um livro e tentamos ler para um bebê. Mas fique calmo: o que precisamos fazer, de fato, é alinhar expectativas e saber que o objetivo da leitura com o bebê não é somente que ele aprenda a falar e amplie o vocabulário, mas sim o vínculo, o gosto pelas histórias, a experiência em si. “A leitura com o bebê é afeto, não é compreensão. Não devemos esperar que ele entenda a história, temos que pensar nas experiências que serão construídas nesse momento”, defende a pedagoga Ana Paula Lemes, fundadora da Movimento Literário, que faz curadoria de livros infantis e assessoria literária em escolas e famílias.
(Ler para bebês é mais do que entonação, é afeto. Crédito: Getty Images)
Ana Paula lembra, ainda, do que fala a escritora colombiana Yolanda Reyes sobre o triângulo amoroso da leitura na primeira infância, formado por pais, filhos e livros. “Quando temos um filho, a gente enche a casa de roupas e brinquedos, e normalmente o livro demora a aparecer, mas não deve ser assim. Não existe receita de como ler para o bebê, mas gosto de pensar em três palavras-chave: afeto, generosidade e escuta. Espera-se que seja um momento riquíssimo de afeto, seja com pai, mãe, babá, berçarista. Nesta fase, o livro não precisa ensinar algo, como as cores, as formas ou o som dos animais”, complementa ela.
Essa experiência pode ser vivida desde a gravidez. Você pode ler para o bebê ainda na barriga, não necessariamente histórias infantis, pode ser algum livro que você esteja lendo mesmo. A leitura em voz alta já cria conexão, reconhecimento da sua voz, vínculo com aquele que será seu cuidador quando chegar ao mundo. “Voz e presença de um adulto contando história traz acolhimento, afeto e lugar de segurança. O bebê entende que está acolhido e tem pessoas que o amam e cuidam dele, não necessariamente entende a narrativa”, diz a contadora de histórias e mediadora de leitura Renata Rossi, criadora do projeto Primeiras Leituras, com foco na leitura para bebês e crianças pequenas.
Mas como fazer na prática?
A experiência da leitura compartilhada tem de ser gostosa para quem ouve e também para quem lê. Não dá para esquecer que o tempo de atenção do bebê é reduzido, então, claro que você não vai ler o mesmo livro que leria para sua sobrinha de 10 anos. Mas é fundamental que você goste do livro: leia antes a história, veja se você se diverte ou se emociona com ela. “É importante que você se encante com o livro. O bebê vive a experiência da leitura compartilhada, então, se você lê um livro que gosta, passa a emoção para ele também”, diz Renata.
O livro para o bebê não precisa ser somente aquele com texturas ou sons. Eles são válidos? Sim, toda experiência com um livro é proveitosa. Mas não limite seu filho somente a isso, experimente também histórias que tenham uma narrativa, livros só com imagens, contos de repetição, poesia, brincadeiras rimadas, cantigas e parlendas. “Por isso é importante escolher livros de qualidade. Como saber? O livro te surpreendeu, fez rir, deu medinho, você curtiu ler ou achou bobo? Não tem que ser só livros simples, o bebê não precisa entender, mas sim se conectar”, explica Ana Paula.
Ok, escolhi um livro bom. Mas, agora, como leio? “Quando a gente empresta a voz para um texto literário, acontece uma mágica. O bom texto tem ritmo, cadência, que já pede uma entonação, uma fluência. Isso acontece quando a gente vai lendo mais e mais”, diz Renata. Ou seja, é bacana, claro, interpretar a história, dar entonações diferentes, mudar a voz de acordo com o personagem. Mas isso tudo o próprio livro vai te mostrar. “O adulto tem um corpo inteiro para ler com a criança, tudo é válido: fantoches, caretas, mas já temos principalmente nossa voz e nosso corpo. O livro traz dicas: se a fonte do texto muda para maior ou menor, será que a palavra menor não é um cochicho? Outra palavra gigante será que não é um grito? Por isso é importante ler antes o livro, para saber os momentos de parada, a entonação”, complementa Ana Paula Lemes.
Eles querem explorar!
Não se esqueça disso. As crianças são curiosas, ativas, exploradoras - e os bebês também! Então, não dá para desistir de uma leitura porque ele não para sentado, por exemplo. Esqueça aquele sonho do bebê de olhos vidrados em você, ouvindo a história atentamente, por cinco minutos que seja. Para eles, a leitura e o livro também são uma brincadeira, uma investigação - então, não precisa desvirar o livro se o bebê estiver segurando de cabeça para baixo! “Precisamos ter generosidade e ser humildes, respeitar que o protagonista daquele momento é a criança e não o adulto”, defende Ana Paula.
Criança saudável gosta de estar em movimento mesmo, especialmente bebês engatinhantes e que estão começando a andar. Eles não vão ficar sentadinhos ouvindo história, a maneira deles de prestar atenção é outra, ouvem enquanto exploram. Experimente, por exemplo, dar uma entonação de suspense àquela parte do texto que traz uma surpresa ou reviravolta na narrativa. Mesmo a criança que já levantou e pegou um brinquedo ouve e presta atenção! “Quando nasce um bebê, nasce uma família, e por que não uma família de leitores? É uma ótima oportunidade. Não fique cheio das preocupações: tenho que fazer entonação, ler até o fim, prender a atenção. Entregue-se ao momento, esteja presente e seja feliz”, conclui Renata.
(Reportagem e texto de Fernanda Montano)
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