"Tesouro de Monifa" é delicada história sobre memória e ancestralidade

19/06/2020
De onde vêm as memórias da sua família? E onde você guarda os seus tesouros? Monifa veio escravizada da África para o Brasil. Chegou sozinha a uma terra desconhecida, onde todo o refúgio que restava estava em suas memórias e na esperança de dias melhores para sua gente. Quantas histórias fortes e potentes como essa você conhece, já ouviu falar? Quantas Monifas conhecemos por aí sem nem saber?

De onde vem as memórias da sua família? E onde você guarda os seus tesouros? Imagem: Os tesouros de Monifa, de Sonia Rosa (texto) e Rosinha (ilustrações)

Ela aprendeu a ler, a escrever e, com isso, pode transformar suas lembranças e saudades em diários, poemas, cartas, textos. Histórias que poderiam chegar às mãos de suas netas, bisnetas, tataranetas.

Tesouro de Monifa

E assim foi: esse tesouro, criado por Monifa com muito amor e afeto, chegou à protagonista desta história pelas mãos de sua avó, Abigail, bisneta de Monifa.

Mulheres e histórias potentes

O delicado texto de Sonia Rosa e as ilustrações fortes de Rosinha combinam perfeitamente para recontar diversas narrativas: a de Monifa, a de Abigail, a da pequena protagonista que herda os escritos afetivos, os poemas, as histórias e as rezas. Receber a caixa com os tesouros de Monifa emociona nossa personagem antes mesmo de ela ler o que a tataravó deixou para seus descendentes. É forte, não? Todas as memórias que marcaram a sua família de geração em geração? Mesmo com todas as injustiças e adversidades, o desejo de Monifa -- deixar suas memórias para os filhos e os filhos do filhos -- se realizou, alcançando bem mais que seus netos.

A caixa tesouro da história passa de geração em geração, de mãe para filha. Imagem: Os tesouros de Monifa, de Sonia Rosa (texto) e Rosinha (ilustrações)

Na história, são as mulheres as guardiãs das narrativas, dos afetos, dos mistérios e das rezas. A caixa-tesouro vai passando de mãe para filha mais velha, numa bela metáfora sobre o poder do feminino. A própria narrativa é personagem desse livro, pois é ela, concretizada nos escritos de Monifa, que transcende a vida a matriarca da família e, ao mesmo tempo, dá sentido às experiências dela. Une, também, Monifa à sua gente -- a quem ficou pra trás e a quem veio depois.

Para mergulhar nessa história

Ganhador do selo Acervo Básico da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Os tesouros de Monifa é uma obra imperdível, sensível e cheia de camadas, da qual já falamos neste post aqui, em que listamos livros escritos por mulheres, e nesse aqui, em que indicamos obras com protagonistas negras (os). Ah, entrevistamos a dupla de autoras também, vale conhecer melhor a história delas e no que se inspiraram para criar essa família tão forte!

3 dicas para ler e brincar o livro

Nossa equipe elaborou algumas dicas de atividades e de leitura para você aproveitar o livro aí em casa com as crianças -- ou mesmo inspirar-se nele para propor outras atividades:

1-) Recupere a caixa de tesouros

Será que as crianças já tiveram a oportunidade de ouvir alguma história da família, de muito tempo atrást Que tal sugerir uma conversa (virtual, por telefone ou como você achar melhor) com os membros mais velhos da família para tentar descobrir os "causos" e aventuras que ficaram esquecidosi Há objetos, cadernos, diários antigosi Onde guardam esses objetose Numa caixa como a de Monifan Compartilhem fotos de objetos antigos e suas histórias... As crianças podem salvar essas imagens e criar, ainda que digitalmente, a caixa de tesouros.

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2-) Faça sua própria caixa

Que tal propor para as crianças montarem uma cápsula do tempo ou uma caixa de tesourosu A ideia é separar e guardar objetos que representem momentos importantes. Anotar pensamentos e ideias. Desenhos, poesias, brinquedos. Escrever uma ou muitas cartas...

O maior tesouro de todos são as histórias, as memórias e os afetos. Imagem: Os tesouros de Monifa, de Sonia Rosa (texto) e Rosinha (ilustrações)

Para deixar a cápsula mais divertida e mista, vocês podem separar brinquedos, fotos, moedas, ingressos de cinema, revistas ou jornais, entre outros objetos. Basta escolher um recipiente (pode ser uma caixa de sapato ou uma lata), escrever a data que deseja abrir e guardá-la num local seguro (pode ser no fundo daquele armário que quase ninguém abre).

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3-) Crie sua boneca abayomi

Para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros - navio de pequeno porte que realizava o transporte de escravos entre África e Brasil - as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de proteção. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram conhecidas como Abayomi, termo que significa 'Encontro precioso', em Iorubá, uma das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim. Fonte Afreaka: http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/ No vídeo abaixo você poderá ver algumas orientações para criar a sua boneca abayomi em casa: [embed]https://www.youtube.com/watchav=L_Uqpp4-LNM[/embed]

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Os tesouros de Monifa

Autora: Sonia Rosa Ilustradora: Rosinha Temas: Pluralidade cultural / Conto / Cartas e bilhetes / Humanos / Identidade / Relacionamento familiar / África / Árvore genealógica / Nações / Dia dos Avôs e Avós / Dia Nacional da Consciência Negra / Liberdade Faixa Etária: a partir de 5 anos R$ 42

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E vocêo Conte para a gente onde sua família guarda histórias, memórias e objetos afetivosi    
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