Bons exemplos: Acaia cria rádio para comunidade escolar

21/08/2020

Esta é a terceira reportagem da série Bons exemplos da quarentena, que mostra como a criatividade dos educadores para reinventar as aulas tem propiciado excelentes ações para se inspirar.

 

Lives, aulas por plataformas de reunião, conteúdo escolar enviado por WhatsApp... A pandemia e o isolamento social obrigaram as escolas a improvisar seu modo de ensinar e transpor o conteúdo presencial para a aula virtual acabou sendo a forma mais comum de fazer isso. Mas essa também foi uma oportunidade para testar novos formatos e outras maneiras de compreender o papel da escola. E, assim, foi em uma mídia bastante tradicional, mas com recursos tecnológicos modernos, que o Ateliescola Acaia, de São Paulo, encontrou uma forma de inovar e trazer mais acolhimento para esse período já tão difícil: o programa de rádio Fala, fi!

Todo sábado, um programa novo, de 7 a 10 minutos de duração, é disponibilizado para os alunos, a comunidade escolar e quem mais quiser ouvir, já que o link é enviado por WhatsApp para as famílias dos 182 estudantes, mas também fica disponível nas redes sociais do Acaia (Instagram, Facebook, Twitter e YouTube). A produção conta com a ajuda de toda a rede escolar e os locutores são os próprios educadores, que um dia já foram alunos da instituição.

“Queríamos que a voz deles e delas fosse condutora dos quadros por possibilitar conexões pedagógicas e de vínculos afetivos que procuramos no dia a dia na escola”, explica o Ateliescola, em entrevista respondida por educadores e coordenadores, de um modo tão colaborativo que fica impossível creditar a uma pessoa só, assim como acontece com a rádio. A comunicação é feita de um modo muito informal na rádio, com gírias e expressões da comunidade e de forma muito dinâmica, contemporânea e que dialoga bem com o universo das crianças e dos jovens.

Para planejar as pautas e fazer os roteiros e a edição, um grupo de quatro pessoas se reúne duas vezes por semana, mas depois todo mundo é envolvido: alunos, famílias, educadores, profissionais de saúde e comunicação. “A rádio acaba sendo um instrumento pedagógico de todos, com alcance para além das propostas e atividades, e mais no lugar de acolhimento e diversão, embora traga conteúdos pedagógicos também”, comentam.

Entre os quadros fixos, há sempre o de enigma, o "Verdade ou mentira?" para combater as fake news, o "É chave, parça" com atividades para fazer em casa, "Ouve aí" com depoimentos da comunidade e uma música ou história produzida pelas crianças. Além disso, serviços urgentes e importantes para a comunidade, como o auxílio emergencial, também podem virar tema. As crianças gostam de enigmas, mandar recados, falar sobre o que estão lendo e participar dos quadros. E há programas temáticos, como os que ocorreram em agosto sobre capoeira, que é parte importante do currículo da escola. 

“A criação de uma rádio era algo que sempre foi desejado e que não tínhamos conseguido ainda colocar em prática, apesar do trabalho realizado nas aulas de música e som.” Mais do que oferecer conteúdo, a rádio aproxima as pessoas nesse momento tão particular de distanciamento e o fato de ouvir vozes conhecidas, dentro de suas casas, também ajuda no acolhimento.

Apesar de ser um projeto que surgiu (ou foi acelerado) por causa da Covid-19, ela é “fruto de um trabalho que acontece na biblioteca, nos ateliês, na sala de aula, na quadra e nos barracos-escola (postos dentro das favelas do Nove e da Linha, em São Paulo), ou seja: parte do vínculo diário de todas as educadoras e educadores com as crianças e os jovens”.

A experiência deu tão certo que, quando as aulas presenciais voltarem, o Acaia pensa em aumentar a participação dos alunos nos programas, dando a eles a oportunidade de escrever roteiros e de fazer os educadores participarem da edição no estúdio. “Temos certeza de que essa experiência será ainda mais especial quando estivermos juntos na escola.” Além da rádio, o Ateliescola entrega kits a cada três semanas, há propostas veiculadas por grupo de WhatsApp, acompanhamento por telefone entre outras estratégias de ensino remoto.

 

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