Os monstros habitam a literatura e o imaginário humano desde que nossos ancestrais se reuniam em torno de fogueiras, à noite, e contavam histórias para expurgar e sublimar as dificuldades de uma vida penosa. Eles também vivem dentro de nós e usam sua carapuça para corporificar nossos medos, incertezas, sentimentos ambivalentes e o que mais estiver por aí, na vida real mesmo, para nos assustar.
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A artista mexicana Ixchel Estrada ilustrou o poema de Hilda Hilst para crianças
Para diversificar ainda mais a longa linhagem de monstros da literatura infantil, a Companhia das Letrinhas vai lançar em maio Eu sou a monstra (em pré-venda), única obra de Hilda Hilst voltada para as crianças, e Fuja do Garabuja (em pré-venda), do aclamado escritor e ilustrador Shel Silverstein.
E não é preciso ter medo de aproximar as crianças dos monstros de faz de conta. Isso porque as histórias com personagens monstruosos, que tanto fascinam os pequenos leitores, permitem que eles enfrentem os perigos do mundo de outra forma, dando-se “ao luxo de lutar contra monstros, ursos e lobos e sair ilesos”, como explica a educadora colombiana e especialista em formação de leitores Yolanda Reyes, no livro A casa imaginária (Global, 2010).
Assim, elas podem se fortalecer emocionalmente e travar contato com recursos próprios para enfrentar seus medos reais, depois da experiência atenuada de “susto” que a literatura proporciona.
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A Murda, o Brólio Bulboso e o Gúdio, monstros criados por Shel Silverstein
Ela argumenta ainda que a literatura e a arte permitem “que as crianças exteriorizem os monstros interiores para olhá-los fixamente e domesticá-los”. É como a jornada de Max, do clássico da literatura infantil Onde vivem os monstros?, de Maurice Sendak, que, depois de uma briga com a mãe, parte em seu barquinho num mar tormentoso para seu mundo interior de assombrações, na tentativa de se aproximar delas e sobre elas se impor.
Além disso, segundo Yolanda, esse tipo de leitura compartilhada oferece aos adultos um “cenário diferente” de conversa e escuta, em que possam se inteirar das necessidades emocionais dos pequenos.
Então, que tal conhecer mais monstros?
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1) Eu sou a monstra, de Hilda Hilst e Ixchel Estrada
O poema ilustrado pela artista mexicana Ixchel Estrada é a única produção da cultuada Hilda Hilst para o público infantil. Escrito em 1988, foi dedicado ao então menino Daniel Fuentes, filho de um grande amigo da escritora. O sujeito do poema, a Monstra, pede ajuda ao garoto para definir quem e como ela é, como se esboçassem uma criatura que tateia para se conhecer melhor.
2) Fuja do Garabuja, de Shel Silverstein
Último livro de Shel - o autor de A parte que falta - a ser publicado pela Letrinhas, este "monstruário" reúne mais quarenta criaturas muito esquisitas com nomes engraçados, todas apresentadas em pequenos poemas pontuados por brincadeiras com as palavras e um quê de non-sense. Conheça o Agripanta, o Funchalo Devorador de Gente e o próprio Garabuja. Nesta edição, o prefácio é assinado por Zeca baleiro.
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3) Monstro que é monstro, de Renata Bueno e Fernando de Almeida
Quem aí conhece pequenos monstrinhos que pisam na poça de chuva e se lambuzam de picolé? Neste livro, são essas criaturas, feitas de colagem, que aprontam todas. Apostamos que vocês devem ter pelo menos um exemplar aí na sua casa.
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4) Nove monstros perigosos, poderosos, fabulosos do Brasil, de Flávio de Souza
Os monstros deste livro povoam lendas do folclore brasileiro, adaptadas por Flávio de Souza. O leitor vai conhecer a história do Caboclo d’Água, o Curupira, Pé de Garrafa, Cabra Cabriola, o Labatut, o Saci e outros, com uma ficha informativa que mostra qual é o poder de cada um, o que aprontam e - o mais importante - como fazer para vencê-los. Ah também é preciso encontrá-los em meio a uma ilustração cheia de cores, traços e formas embaralhados, num jogo visual que enriquece a narrativa com a pergunta: quem já viu?
5) A ilha sinistra, de William Steig
Nesta ilha feiosérrima e pedregosérrima todas as criaturas, as vivas e as inanimadas, assumem a forma mais terrível e superlativa. Só havia pedras pontudas, vulcões que expeliam lava fervendo, flechas envenenadas e sapos de duas cabeças. As plantas eram retorcidas, cheias de espinho e nunca davam flor. À noite, tudo congelava. Nesse lugar hostil e inóspito, até os habitantes mais monstruosos e apavorantes ficam com medo quando, contra todas as probabilidades, nasce uma forma de vida delicada, frágil e linda.
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6) Shrek!, de William Steig
O ogro mais famoso do cinema já era conhecido das crianças pelas páginas deste livro, em que William Steig, um dos autores mais importantes da literatura infantil, conta a história que deu origem ao filme. Shrek era um ogro muito, muito feio, que assustava todo mundo: flores e árvores vergavam à sua passagem, e até raios e trovões fugiam dele. Mas não é que, à sua maneira, ele encontra o amor e a sua cara-metade?
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7) O Minotauro, de Monteiro Lobato e Lole
Tia Nastácia é raptada despois de uma festança no Sítio do Picapau Aamarelo, e Pedrinho e Emília desconfiam que ela foi levada para a Grécia Antiga. Com o pó de pirlimpimpim, a turma embarca para a Antiguidade Clássica e descobre que os bolinhos de Tia Nastácia amansaram e engordaram um dos monstros mais temidos da mitologia.
8) O coiso estranho, de Blandina Franco e José Carlos Lollo
Esse coiso era muito esquisito e mudava de formas todos os dias, mas permanecia sempre o mesmo estrambólico. Cheio de palavras mirabolantes de sons engraçados, o esdrúxulo era feito de material inusitado: a areia colorida transformada em monstrinhos muito simpáticos por José Carlos Lollo.
9) O Yark, de Bertrand Santini e Laurent Gapaillard
Este monstro terrível devora criancinhas enquanto dormem, mas seu estômago é muito sensível às crianças modernas, que não se comportam bem. E, nos dias de hoje, está cada vez mais difícil encontrar crianças realmente boazinhas para comer. Quando ele conhece Madeleine, porém, uma menina que é muito legal, o monstro se afeiçoa tanto a ela que não consegue devorá-la.
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