Leve História: formação de leitores por meio de carinho e doação de livros

29/05/2021

Desde o início da pandemia, milhares de crianças e jovens brasileiros ficaram em casa, sem escola e sem livros. Angustiados com essa situação e com a ameaça da evasão escolar, um grupo de educadores, pais e autores, como Patricia Auerbach, Blandina Franco e José Carlos Lollo, resolveram criar uma ponte entre as escolas e famílias que têm farto acesso ao universo literário e aquelas com acesso mais restrito. Assim nasceu o Leve História, uma iniciativa voluntária que, por meio da arrecadação e doação de livros, promove a formação de leitores e encontros em torno do prazer de ler.

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O projeto funciona assim: a organização encontra escolas particulares parceiras e as ajuda a pensar numa estratégia de arrecadação de livros. “Cada escola faz de um jeito e usa uma estratégia diferente que tenha a ver com seu projeto pedagógico. Tem escola onde os alunos estão puxando o movimento de arrecadação, em outras, são as famílias. A própria escola faz a triagem dos livros e embala em caixas de acordo com ciclos para onde eles vão ser enviados”, explica Patricia Auerbach.

 

Distribuição de carinho e prazer de ler por meio dos livros

Mas o Leve História não é apenas uma coleta e doação de livros. A ideia é formar leitores e criar uma rede para conectar as crianças dessas duas pontas, que vivem realidades tão díspares, por meio do afeto e do gosto pela leitura. Para que isso aconteça, um dos pilares é que o livro doado seja uma obra de qualidade estética e querida pela criança que vai doar.

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Projeto promove a formação de leitores por meio de vínculos entre as crianças que doam e as que recebem

“O objetivo principal do projeto é entregar livro com afeto, não é só o objeto físico, mas o prazer pela leitura, tudo o que envolve a leitura, além do objeto em si”, explica Luciana Loew, que é mãe, pesquisadora de literatura infantil e organizadora do projeto.

Ela diz que a iniciativa busca “oferecer uma leitura de fruição para essas crianças que ficaram muito tempo afastadas da escola e, consequentemente, dos livros e da literatura. Queremos que esse retorno ao mundo da leitura seja o mais bonito possível”.

Assim, já na ponta inicial, o livro vai revestido de carinho de uma criança que gosta dele para outra criança, como uma indicação de leitura. As organizadoras inclusive sugerem que as crianças que doam o livro escrevam uma dedicatória, um bilhetinho ou façam um desenho que acompanhe a obra. 

Patrícia conta que algumas escolas inclusive têm incentivado as dedicatórias com o nome dos leitores. “O livro vai do Joaquim de uma escola para o Pedro da outra escola, e o Pedro deixa de ser só alguém que vai receber uma doação e passa a ser um indivíduo, que vai dividir uma história comigo, que vai ler o mesmo livro que eu li.”

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Patricia reforça que acredita muito na potência da literatura para criar vínculos e, de acordo com ela, “é de vínculos com a escola que essas crianças precisam neste momento, para ter vontade de voltar. Precisam de um olhar carinhoso, de um olho no olho, de uma mão estendida para ter vontade de recomeçar. Muitas delas já estão há um ano e meio sem nenhum contato com a escola, então esse retorno precisa ser incrível, precisa ser muito encantador, e eu de verdade acredito que a literatura pode fazer isso”, diz a autora de Os direitos do pequeno leitor.

 

Compartilhar leituras e criar vínculos

Enquanto a arrecadação acontece, os organizadores e formadores de leitores que já trabalham com isso na rede pública encontram as escolas que vão receber os livros. “São esses guerreiros incríveis, com histórias maravilhosas, fazedores mesmo, que ajudam a gente a encontrar as escolas e fazem a ponte com os professores, coordenadores e, nessa mediação, nessa troca de ideias, a gente elabora boas práticas para usar esses livros”, conta Patricia.

Iniciativa de formação de leitores envolve mais que a doação de livros infantis

Assim, além das dedicatórias, os livros vão acompanhados de um material de apoio, com orientações simples e práticas para que os professores e as famílias façam a melhor leitura possível com as crianças.

Uma primeira etapa de arrecadação já foi finalizada e reuniu perto de 2 mil livros, que estão “em quarentena” de cinco dias antes de seguirem para as escolas que vão distribuí-los, por conta dos protocolos de prevenção da covid-19. Patricia explica que os professores vão fazer a entrega aos alunos, numa estratégia para fortalecer o vínculo entre eles.

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O direito das crianças de ler livros como quiserem é um passo importante para a formação de leitores

Para que haja a formação de leitores, a criança
precisa poder ler da maneira que quiser. Leia +.

“É importante que os alunos recebam esses livros da mão dos professores, e há todo um esforço para criar um ambiente acolhedor na escola. Tem escola pensando em cortejo para a chegada dos livros, tem escola fazendo contação de história pra despertar a curiosidade; cada uma está fazendo de um jeito”, explica a autora.

O projeto, por enquanto, acontece na cidade de São Paulo, mas aqui há mais informações para quem deseja começar uma iniciativa como essa em outras cidades. Em São Paulo, mesmo quem não está vinculado a nenhuma escola, mas deseja participar com doação, pode entregar os livros em alguma destas livrarias, que são postos de arrecadação:

Casa de Livros: (11) 5185-4227 Rua Capitão Otávio Machado 259 - Chácara Santo Antônio

Livraria Royal Book: (11) 3842-4644 R. Vahia de Abreu, 380 - Vila Olímpia

Livraria Mandarina: (11) 3819-5953 Ferreira de Araújo, 373 – Pinheiros

Quem quiser ajudar o projeto de outras formas pode ter mais informações aqui.

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