Para conhecer a riqueza da cultura afro-brasileira e da ancestralidade negra, é preciso dar espaço para que autores e ilustradores negros possam contar suas histórias. Há cada vez mais nomes despontando no mercado editorial, com narrativas que desafiam a lógica eurocêntrica e resgatam as raízes e a identidade da negritude. Para as crianças negras que entram em contato com essas obras, é uma oportunidade de se reconhecer e celebrar a própria identidade. Para a branquitude, é uma possilidade de experimentar na prática a importância da representatividade e ampliar seus horizontes com novas referências.
Ilustração de Bárbara Quintino em 'Neguinha, sim! Companhia das Letrinhas, 2024)
Confira uma seleção de autores e ilustradores negros para ler e ter como referência:
Kiusam de Oliveira
A autora e educadora é conhecida internacionalmente por uma literatura que tem como ponto central o encantamento, que atrai o público infantil e juvenil. Este campo teórico é conhecido como Literatura Negro-Brasileira do Encantamento Infantil e Juvenil e é objeto de pesquisa da autora, que também é doutora em Educação, Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e terapeuta integrativa. Kiusam escreve para crianças e jovens histórias com personagens fortes, que celebram a ancestralidade negra e abordam questões de representatividade e diversidade étnico-racial e de gênero. Entre elas estão Tayó em quadrinhos (Companhia das Letrinhas, 2021), Omo-oba: histórias de princesas e príncipes (Companhia das Letrinhas, 2023), Mãos (Companhia das Letrinhas, 2024). Como educadora, atua na formação de professores com foco em uma educação antirracista.
Chimamanda Adichie
Uma das autoras mais proeminentes de sua geração, a nigeriana já teve sua obra traduzida para mais de 30 idiomas. Suas conferências no TED já somam mais de 20 milhões de visualizações. Uma delas ganhou uma edição impressa e ilustrada: Sejamos todos feministas (Companhia das Letrinhas, 2021), que traz reflexões consistentes sobre o que significa ser feminista em pleno século 21. Chimamanda também fez sua estreia na literatura infantil com O lenço de cetim da mamãe (Companhia das Letrinhas, 2024), que gira em torno do lenço, um objeto simbólico para tantas culturas, que é transformado por uma menina em uma ferramenta para despertar imaginação e afeto.
Jarid Arraes
Cordelista e poeta, nasceu em Juazeiro do Norte (CE), e hoje vive em São Paulo. Tem mais de 70 títulos publicados em literatura de cordel. Para crianças, escreveu Cordéis para crianças incríveis (Companhia das Letrinhas, 2024), uma antologia de cordéis com personagens inspiradores que desafiam expectativas ao tocar em questões como ancestralidade, preconceito e um tanto de encanto e mistério.
Caio Zero
Autor, ilustrador, quadrinista e arte-educador carioca, Caio fez licenciatura em Belas Artes na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O premiado Aqui e aqui (Companhia das Letrinhas, 2023), com texto e ilustrações dele, nasceu de suas próprias memórias de infância. E Vejamos (Companhia das Letrinhas, 2024) foi feito em parceria com Otávio Junior - o próximo autor desta lista.
Otávio Junior
Autor, ator, contador de histórias e produtor teatral, Otávio é cria das favelas do Rio de Janeiro. Em Da minha janela (Companhia das Letrinhas, 2019), que lhe rendeu o prêmio Jabuti 2020 de Melhor Livro Infantil, ele narra de forma sensível a paisagem que se vê do morro, como um retrato do cotidiano das favelas cariocas. O autor também publicou pelos selos infantis da Companhia das Letras: De passinho em passinho (Companhia das Letrinhas, 2021) e Vejamos (Brinque-Book, 2024) com Caio Zero. Otávio também ficou conhecido por abrir a primeira biblioteca das favelas do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha.
Renato Gama
Escritor, músico, produtor musical e musicoterapeuta, ele teve uma de suas canções-poema transformadas em livro: Neguinha, sim! (Companhia das Letrinhas, 2023), publicado pela Coleção Canoa e semifinalista do Jabuti 2024. Ele também é co-fundador da plataforma de artes Sá Menina e do Centro Cultural Viela em Dia de Lua, na Vila Nhocuné, em São Paulo.
Emicida
Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, nasceu na zona norte de São Paulo e cresceu em uma família pobre. Se destacou na cena no hip hop nos anos 2000 e se tornou conhecido por sua grande capacidade de fazer rimas por improvisação. É rapper, cantor, compositor, apresentador e autor de livros infantis com Amoras (Companhia das Letrinhas, 2018) e E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas (Companhia das Letrinhas, 2020).
Bárbara Quintino
A ilustradora e ceramista, que se apresenta como Barah, tem um fraco pelas cores e texturas. Mineira, formou-se em Arquitetura e Urbanismo, que foi sua porta de entrada para a arte. Pelos selos infantis da Companhia das letras, ilustrou: Meu nome é Raquel Trindade, mas pode me chamar de Rainha Kambinda (Pequena Zahar, 2023), Neguinha, sim! (Companhia das Letrinhas, 2023) e Papaco e Lilico, a floresta e o circo (Brinque-Book, 2022).
Ayodê França
Criado na periferia de Pernambuco, o artista plástico, ilustrador, designer, tatuador e produtor audiovisual assina algumas animações premiadas. Ele é ilustrador de Omo-oba: histórias de princesas e príncipes (Companhia das Letrinhas, 2023).
Ana Fátima
Nascida em Salvador (BA), é educadora, pesquisadora, escritora, candomblecista e ativista do movimento negro. Licenciada em Letras Vernáculas, é especialista em docência do Ensino Superior e mestra em Crítica Cultural pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb). É autora de Os dengos da moringa de voinha (Brinque-Book, 2023).
Waldete Tristão
A autora de O quintal das irmãs (Pequena Zahar, 2024) é graduada em letras e pedagogia, mestra em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutora em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Professora, autora e roteirista, também é integrante do coletivo de mulheres Ilú Obá De Min.
Inaldete Pinheiro de Andrade
Autora, contadora de histórias e pesquisadora de maracatu, Inadete é uma das fundadoras do Movimento Negro do Recife e participa ativamente do Movimento Feminista desde 1979. Atua pelo fortalecimento da cultura afro-brasileira com ações no campo educacional em escolas do Recife e de outros municípios de Pernambuco. Sua obra Uma aventura do velho baobá (Pequena Zahar, 2022) é uma narrativa-alegoria, que faz referência à diáspora negra no Brasil e celebra a ancestralidade.
Sonia Rosa
A autora de Raquel Trindade, mas pode me chamar de Rainha Kambinda (Pequena Zahar, 2023) e Os tesouros de Moninfa (Brinque-Book, 2009) tem mais de 50 títulos publicados e é criadora do conceito de iteratura negro-afetiva, como se refere à sua produção literária. Carioca, mestre em relações étnico-raciais e professora, oferece consultorias em letramento racial em escolas do Rio de Janeiro.
Joana Gabriela Mendes
Sua primeira obra publicada é Manual de penteados para crianças negras (Companhia das Letrinhas, 2022) em parceria com Mari Santos. Joana Nasceu em Rondônia e atua como diretora criativa, com vários reconhecimentos sobre sua atuação na comunicação. É fundadora do Young Lions Creative Academy Alumna “YGB.Black”, um banco de imagens desenvolvido por mulheres negras, e em 2022 participou do júri do Festival de Cannes.
Mari Santos
A co-autora de Manual de penteados para crianças negras (Companhia das Letrinhas, 2022) nasceu no Rio de Janeiro (RJ), formou-se em cinema, mas trabalha com publicidade e mercado criativo, com foco em construção de narrativas.
Heloisa Pires Lima
Editora, escritora e antropóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), é autora de Histórias da preta (Companhia das Letrinhas, 2023). Nascida em Porto Alegre (RS), em 1955, estreou no circuito editorial aos 40 anos, pesquisando sobre representações culturais da origem africana nos repertórios para jovens leitores.
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