Muitos adeuses a Marina Colasanti

28/01/2025

Escritora, contista, poeta. 

Tradutora, artista plástica, jornalista.


Marina Colasanti tem muitos predicados, mas talvez o principal deles seja contadora de histórias. 

Marina Colasanti


Com quase 60 anos dedicados à literatura e mais de 70 obras entre livros, contos e ensaios, a autora faleceu em 28 de janeiro de 2025, aos 87 anos, deixando um legado inestimável.


Marina foi capaz de trazer faces contemporâneas aos contos de fadas, de construir personagens complexas e de se tornar eterna por sua forma de fazer poesia. Ilustrava os próprios livros com sua bagagem de artista e gravurista. Colocava o feminismo no centro de sua obra e defendia mais espaço para as mulheres no meio editorial. Bebia da fonte do realismo fantástico como tantos de seus pares latinoamericanos sem deixar de lado a crítica social. Escrevia para crianças e também para adultos, transitando com naturalidade entre os dois mundos. Se consolidou como uma referência não apenas no Brasil, mas entre os grandes nomes da literatura produzida em Língua Portuguesa.


Filha de um oficial italiano, Marina nasceu em Asmara, capital de Eritreia, e viveu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) durante boa parte de sua infância. Chegou ao Brasil aos 10 anos com sua família, por causa de uma tia cantora que já estava por essas bandas. Na entrevista que concedeu por ocasião do lançamento de Tudo tem princípio e fim (Escarlate, 2017),  contou que os livros sempre fizeram parte de sua vida.

 


Não me formei leitora, sempre fui leitora, sempre tive livros ao meu alcance, sempre vi pessoas lendo ao meu redor. Quando ainda não sabia ler, liam para mim. A leitura foi mais divertida, interessante, emocionante, enriquecedora, surpreendente do que qualquer brincadeira” Marina Colasanti


Dezenas de obras, dezenas de prêmios, dezenas de admiradores


No Brasil, a obra de Marina foi reconhecida por muitas honrarias. Entre elas, o Prêmio Machado de Assis, que recebeu em 2023, e diversos Jabutis - nas edições de 1993, 1994, 1997, 2010, 2011 e 2014 -,  incluindo uma homenagem na categoria Personalidade Literária na 66ª edição do prêmio, em 2024. Na ocasião, Alessandra Colasanti, filha de Marina, que é atriz, roteirista e diretora, representou a mãe na cerimônia enquanto a autora acompanhou as celebrações de casa. 2024 foi também o ano em que Marina foi finalista do Prêmio Hans Christian Andersen, a honraria máxima da literatura infantojuvenil.


Além de ter seu trabalho celebrado por tantos prêmios, Marina era reconhecida e admirada por seus pares e por tantos parceiros do meio editorial. Veja algumas das homenagens feitas à autora em sua despedida:


“Eu a conheci, anos atrás, quando fez a tradução do original italiano de Peter Pan. Fiquei impressionada com a erudição, a gentileza, e a escuta no trato. Excelente escritora, ela trafegava com igual leveza e seriedade a literatura infanto/ juvenil para a adulta e vice versa; mostrando como essas são mesmo fronteiras porosas. Vai fazer muita falta, mas lega uma imensa obra no rastro brilhante de cometa que deixa com sua partida.” Lilian Schwarcz


“Lembrar para sempre esse abraço e esse sorriso.

Lembrar para sempre os poemas surpreendentes, inteligentes, divertidos e provocadores.

Lembrar para sempre os contos fantásticos, misteriosos, emocionantes.

Lembrar para sempre uma das maiores escritoras, uma das maiores pensadoras, uma das maiores figuras que nossa literatura conheceu.” Leo Cunha

 

"(...) Dia desses ouvi a entrevista que Clarice Lispector ofertou à Marina (Colasanti) e Affonso Romano de Sant’anna … recomendo. Está num dos episódios do podcast da revista 451… lembro do Luiz Raul Machado afirmando que Marina seria nosso Andersen. Acho que ela é mais. Embora ambos sejam mestres em nos contar maravilhas, faltaria ao dinamarquês a fala mansa, precisa, o sorriso largo, a elegância no trato, o amor presente. Obrigado, Marina. Pelas histórias, pelo gesto, pelo exemplo. Obrigado. Aos familiares, amigos e fãs, meu melhor e solidário abraço nesse momento tão singular de encantamento. O mundo fica um tanto vazio e triste sem a presença física de Marina. Que suas histórias possam nos acalentar e semear um mundo melhor. Teimosia e esperança. Sempre. " Tino Freitas

 

 

 

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