Poetas ganham fortunas por um soneto; roteiristas de cinema vivem à míngua; homossexuais dominam a sociedade; heterossexuais são mantidos em guetos. Inversões irônicas desse tipo desencadeiam a diabólica arte narrativa de Martin Amis, uma voz capaz de fazer face a toda a arrogância do mundo moderno.
Poetas ganham fortunas por um soneto; roteiristas de cinema vivem à míngua; homossexuais dominam a sociedade; heterossexuais são mantidos em guetos. Inversões irônicas desse tipo desencadeiam a diabólica arte narrativa de Martin Amis, uma voz capaz de fazer face a toda a arrogância do mundo moderno.
A diabólica arte narrativa de Martin Amis sempre desafia os lugares-comuns e afronta as convenções literárias e sociais, como se confirma em Água pesada. Esta reunião de contos abrange vinte anos de atividade, desde Morte de Denton (1976) - uma proeza de construção, em que as primeiras frases de cada parágrafo, repetidas ao final, recontam toda a história de forma resumida - até O zelador de Marte (1997) - narrativa de um sarcasmo apocalíptico em que um robô marciano transmite notícias nada agradáveis aos terráqueos. Em outros contos, a ironia de Amis inverte situações corriqueiras, iluminando o grotesco que por vezes se abriga em convicções honradas. Assim, os poetas são contratados por milhões enquanto roteiristas de cinema vivem à míngua, heroicamente devotados à sua arte; os homossexuais dominam a sociedade e condenam os heterossexuais a viver em guetos e reproduzir-se às escondidas.Amis não perdoa nem o fracasso nem o sucesso, não dá trégua nem ao ridículo nem à beleza. O mundo moderno encontra aqui uma voz capaz de fazer face à arrogância de seu poderio.