Passando a limpo os últimos quarenta anos do século XX, Doris Lessing fala dos desmandos cometidos em nome da ideologia pura, critica feministas, desmonta a esquerda, denuncia corrupção e não poupa sequer o trabalho das ONGS.
Passando a limpo os últimos quarenta anos do século XX, Doris Lessing fala dos desmandos cometidos em nome da ideologia pura, critica feministas, desmonta a esquerda, denuncia corrupção e não poupa sequer o trabalho das ONGS.
Logo na introdução de O sonho mais doce, Doris Lessing afirma que não vai escrever o terceiro volume de suas memórias - já publicadas em Debaixo da minha pele e Andando na sombra - por receio de ferir susceptibilidades. Isso não a impede, contudo, de fazer uma crítica ao que julga ter dado errado no século XX. Põe em xeque o manto real da esquerda, questiona o feminismo, as terapias alternativas, as organizações humanitárias e a já esquecida campanha em prol do desarmamento nuclear.
Na primeira parte, o foco é a ampla mesa da cozinha de um casarão londrino onde se reúnem jovens de diversas extrações que são alimentados de comida por Frances Lennox - a mão substituta, liberal e compreensiva de todos eles -, e de retórica pelo camarada Johnny ex-marido de Frances e stalinista convicto. Estamos na década de 60 e os jovens sonham mudar o mundo: participam de passeatas, protestos e comícios, abandonam os estudos, voltam a estudar, lutam em Paris, colhem uvas. Na segunda parte, esses jovens já entraram no espírito dos anos 80. A ação se transfere para uma missão católica na Zimlia, numa África assolada pela AIDS em meio a corrupção, seca e superstições.
Com a verve e a indignação que a caracterizam, Lessing traça um panorama do século XX acompanhando três gerações e transita, com conhecimento de causa, entre a Londres que tem tudo e a África carece de tudo.