Vencedor do Prêmio Literário André Gide de 2016
Nessas páginas de memórias, Catherine Millot relembra com doçura, firmeza, sinceridade e humor os anos de convivência e relacionamento pessoal com Lacan, de 1972 até sua morte, em 1981 - dando ao leitor acesso a um prisma peculiar do mestre francês da psicanálise.
"Houve um tempo em que eu tinha a sensação de ter apreendido o ser de Lacan em sua essência. De ter uma espécie de intuição de sua relação com o mundo, um acesso misterioso ao lugar íntimo de onde emanava sua ligação com os seres e as coisas, e também com ele próprio. Era como se eu houvesse deslizado para dentro dele. Essa sensação ia de par com a impressão de estar compreendida, no sentido de estar integralmente incluída nessa sua compreensão, cuja extensão me ultrapassava. ... Eu me sentia transparente para Lacan, convencida de que ele detinha um saber absoluto a meu respeito. Não ter nada a dissimular, nenhum mistério a preservar, dava-me uma total liberdade com ele, mas não só. Uma parte essencial de meu ser lhe era entregue, ele tinha sua guarda, eu me sentia aliviada. Vivi a seu lado anos a fio nessa leveza."