Os evangelhos - e a interpretação teológica que se tem feito deles ao longo da história - mostram Jesus de Nazaré como um líder religioso que fundou uma nova igreja a partir dos preceitos do judaismo. No entanto, a intenção de Jesus nunca foi a de criar uma nova religião, e sim ir além de todas elas. O significado de suas palavras, seus gestos e sua vida superam o religioso e está relacionado com a natureza do ser humano e sua futura transformação numa sociedade baseada no perdão e no amor. Graças à aparição recente dos evangelhos gnósticos é possível completar as análises tradicionais das sagradas escrituras e lançar uma nova luz sobre o já conhecido. Em O grande segredo de Jesus, o jornalista espanhol Juan Arias questiona toda a teologia tradicional da cruz e da redenção e mostra a direção para uma teologia da felicidade. Por meio de uma leitura renovada dos textos evangélicos, busca evidenciar que Jesus se dirigia sobretudo a uma nova humanidade solidária. Atualmente residindo no Brasil como correspondente internacional do El País, Arias acompanhou os pontificados de Paulo VI e João Paulo II durante 14 anos, também como correspondente do maior jornal espanhol em circulação. "Jesus sempre foi apresentado como um líder religioso, o que não é exatamente uma verdade. Ao contrário, ele se opunha a todas as religiões por estarem baseadas na violência, nos rituais de sacrifício, na dor e na falta de liberdade.", pondera o jornalista em debate promovido pelo El País. No livro, Arias apresenta sua interpretação sobre os evangelhos canônicos e gnósticos e torna acessíveis as ideias de Jesus sobre questões que hoje são uma crescente preocupação. O que Jesus achava do consumismo? A força da oração e da fé podem de fato promover milagres? O que importa mais: o amor ou o sexo? A ação individual tem importância? Arias acrescenta ainda que hoje não se deve analisar os quatro evangelhos canônicos, os únicos reconhecidos pela igreja católica como inspirados diretamente por Deus, sem levar em conta os textos gnósticos, descobertos há pouco mais de 60 anos e rechaçados pelo catolicismo como heresia. O jornalista contabiliza a recusa da igreja em reconhecer os textos por revelarem traços da personalidade do profeta de Nazaré e de sua doutrina. "As escrituras gnósticas oferecem una leitura nova dos evangelhos canônicos no que diz respeito ao anúncio de Jesus de um novo reino. Este conceito já não se refere a uma nova forma religiosa nem sequer a uma nova ética superior à judaica, mas algo inédito e revolucionário: um salto da espécie humana a outra diferente. Jesus seria o encarregado de revelar o rosto desta humanidade de acordo com o conhecimento e sabedoria gnósticos e o fez em parte através dos segredos revelados com exclusividade a Maria Madalena." Segundo o autor, o grande segredo de Jesus se traduz hoje na ideia moderna de solidariedade, um mundo sem violência, ódio, inveja e vingança. Talvez um paraíso impossível, mas Jesus e outros ao longo da história da humanidade deram a vida para que isso fosse possível.