Publicado originalmente em 1985, Agrestes retoma os temas comuns à obra de João Cabral de Melo Neto, principalmente os abordados em seu livro anterior, Museu de tudo, que ele considerava como uma coleção aleatória de poemas. Essa retomada, no entanto, traz sempre algo de novo. João Cabral fala de Recife e Pernambuco, mesclados com certa nostalgia e com suas lembranças de infância; faz descrições da Espanha e, sobretudo, de Sevilha, onde sua poesia ganha um aspecto feminino, sensual; versa sobre autores consagrados, como Henry James, Murilo Mendes e Paul Valéry; descreve suas impressões como embaixador na África e na América Latina; e, finalmente, compõe poemas ligados à morte, muitas vezes com uma certa ironia que lhe é característica. Nos versos que encerram o volume, ele diz que "Aos sessenta, o pulso é pesado: / faz sentir alarmes de dentro", e parece querer deixar de escrever. Mas a desistência é passageira. Nos anos seguintes publicará novos volumes de poesia que, como Agrestes, reafirmam toda sua genialidade.