Contorções interiores, retratos das paisagens por onde circulou, homenagens a amigos mortos, sonetos moldados pela urgência, confissões e versos dedicados à morte. Uma coletânea que aponta para as diversas facetas de Vinicius - o sonetista, o escritor metafísico, o bon vivant.
Contorções interiores, retratos das paisagens por onde circulou, homenagens a amigos mortos, sonetos moldados pela urgência, confissões e versos dedicados à morte. Uma coletânea que aponta para as diversas facetas de Vinicius - o sonetista, o escritor metafísico, o bon vivant.
O vasto acervo, legado por Vinicius de Moraes, de poemas inéditos, hoje nos arquivos da Fundação Casa de Rui Barbosa, se parece com um jogo de armar. Debruçada sobre essa montanha de versos, a romancista Ana Miranda pinçou, com a delicadeza e o rigor que os leitores já se acostumaram a encontrar em suas ficções históricas, as preciosidades que compõem este Jardim noturno. Montado o jogo, aparece não só a força de sua poesia, mas um precioso retrato do poeta.O livro deve ser lido, antes de tudo, com um olho fixado na figura de Vinicius. Se esses são poemas que ele preferiu não publicar, ou não teve tempo de publicar, é o que menos importa. São, de fato, versos de extrema intimidade. Contorções interiores, retratos das paisagens por onde circulou, homenagens a amigos mortos, sonetos moldados pelo calor do transitório, confissões cifradas como sonhos noturnos.Há preciosidades como "O haver", de 1962, poema que abriria O deve e o haver, livro em que Vinicius de Moraes trabalhou durante três décadas, e que o poeta morreu sem publicar. E que ficou perdido para sempre, já que as pistas deixadas no acervo de manuscritos da Casa de Rui não bastam para a aventura de sua reconstituição.Poemas mais remotos que traçam um perfil de mocidade, em que aparecem as fixações religiosas, as primeiras paixões intelectuais e os fantasmas de família. Versos de amor, inspirados em musas imaginárias ou em mulheres de carne e osso, igualadas pela mesma febre. E poemas, por fim, dedicados à última de todas as musas, que rondou desde a juventude - com uma incômoda força sedutora - o coração do poeta: a morte.Vinicius de Moraes se afirma, neste livro, como um poeta dos três temas fundamentais que lhe foram legados pela religião - vida, paixão e morte - e que ele soube, sem deixar que o viço se perdesse, transportar da metafísica para o mundo real. Um poeta indiferente a modismos, a escolas, a preceitos literários, a lutas de prestígio. Um poeta para quem os versos são, antes de tudo, um terreno para o cultivo da paixão.José CastelloPrêmio Jabuti 1994 de Melhor Livro de Poesia