Lourenço, um dos maiores intelectuais de Portugal, analisa em nove ensaios o imaginário português e os mitos que o sustentam, como o sebastianismo e o sentimento de fragilidade e isolamento. A expressão maior dessa mitologia singular seria a idéia de saudade.
Lourenço, um dos maiores intelectuais de Portugal, analisa em nove ensaios o imaginário português e os mitos que o sustentam, como o sebastianismo e o sentimento de fragilidade e isolamento. A expressão maior dessa mitologia singular seria a idéia de saudade.
Na orelha de Mitologia da saudade, José Saramago escreve a respeito de Eduardo Lourenço: "Tudo o que o autor de Nós como futuro escreveu até hoje obedece a uma imperiosa necessidade de ver e compreender o que há por trás dos véus em que parecem esconder-se, mais do que Portugal, os portugueses. Por isso creio poder interpretar a visão de Lourenço como duplamente crepuscular. Há um crepúsculo da tarde que precede a noite e há um crepúsculo da manhã que anuncia o sol. É neste que Eduardo Lourenço profundamente aposta, ainda que algumas vezes desesperado".Estes nove ensaios constituem um convite irrecusável à exploração da "alma portuguesa". Aliando sensibilidade, erudição e elegância expositiva, os nove ensaios desvendam as matrizes de uma mitologia construída e reconstruída através do tempo, com o auxílio dos grandes líricos nacionais: Camões, Pascoaes, Garrett, Herculano, Pessoa, entre vários outros. Na trama do imaginário português convivem: a imagem de reino cristão, o sentimento de isolamento e fragilidade, o sebastianismo e a idéia de um povo messiânico, a visão de um país "predestinadamente colonizador e oniricamente imperial". Mas é a saudade, ícone maior da cultura de Portugal, o elemento que alinhava todos os demais. Instaurada como mitologia nacional pelos Lusíadas e revisitada por românticos e modernistas, a saudade ergue-se como uma espécie de "brasão da sensibilidade nacional".A publicação deste último livro do crítico literário e ensaísta Eduardo Lourenço (nascido em 1923) só vem confirmar seu lugar como um dos maiores intelectuais portugueses da atualidade. Maître-assistant na Universidade de Nice, França, Lourenço é autor de uma vasta obra voltada para os grandes nomes da literatura de seu país; o seu estudo Pessoa revisitado (1973), por exemplo, é considerado um marco na crítica pessoana. As preocupações com as ficções mitológicas nacionais, por sua vez, não são recentes, como atestam alguns de seus títulos anteriores, entre os quais, O labirinto da saudade - Psicanálise mítica do destino português (1978).