Num quadro de Brueghel, a nau de Ícaro carrega o brasão português. Lourenço toma essa imagem como mote e, com a elegância e o rigor habituais, expõe a idéia de Portugal como nação fadada à glosa interminável de mitos imperiais, saudosa de si mesma e de um espaço ultramarino e lusófono constituído a sua imagem e semelhança.
Num quadro de Brueghel, a nau de Ícaro carrega o brasão português. Lourenço toma essa imagem como mote e, com a elegância e o rigor habituais, expõe a idéia de Portugal como nação fadada à glosa interminável de mitos imperiais, saudosa de si mesma e de um espaço ultramarino e lusófono constituído a sua imagem e semelhança.
Há uma imagem surpreendente num quadro do pintor holandês Brueghel: a nau de Ícaro carrega uma bandeira com o brasão português. Essa imagem serve de mote para que Eduardo Lourenço reflita sobre temas centrais da cultura portuguesa, à luz de um horizonte histórico preciso: o recuo definitivo do império ultramarino de Portugal, com a descolonização da África e a devolução de Macau, e o ingresso da nação no concerto europeu. Portugal parece fadado à glosa interminável de glórias antigas, mesmo quando retorna solitário ao porto de onde partiu há quinhentos anos. Com a elegância habitual, Lourenço examina como essa nostalgia nacional se desdobra na noção de lusofonia, no sonho de uma comunidade ultramarina dos países de herança lusitana. Os dois ensaios que fecham o livro - um sobre literatura brasileira, outro especificamente sobre Guimarães Rosa - fazem parte desse empenho em compreender melhor as relações entre os países de língua portuguesa.