Semana dos Tradutores: Regiane Winarski

27/09/2018

No dia 30 de setembro, comemora-se o Dia Internacional da Tradução. A Companhia das Letras realiza este ano uma homenagem ao ofício: convidamos cinco tradutores de diferentes estilos literários para escrever depoimentos sobre suas trajetórias profissionais. O segundo texto do especial é de Regiane Winarski, que traduz, entre outros autores, o mestre do terror Stephen King.

Leia também o texto de Denise Bottmann

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Era uma vez uma garotinha, leitora ávida, que descobriu um conto chamado “O fantasma”, escrito por um tal de Stephen King e publicado no livro Sombras da noite. Essa garotinha ficou louca com o conto e quis conhecer mais daquele autor. A partir daí, procurou tudo que havia dele traduzido e publicado no Brasil. Essa garotinha era eu. E foi assim que me tornei fã de Stephen King.

Aí você pode estar pensando: legal, foi por causa dos livros do King que ela quis ser tradutora. Não. Eu não quis ser tradutora. Quis ser engenheira química, mas acabou não dando muito certo... e foi meu amor pelos livros que me levou a estudar produção editorial e meu amor pelo inglês que me levou às salas de aula por dez anos. Mas e a tradução? Foi a maternidade que me deu a tradução. Ter um bebê me fez querer ter uma profissão que me deixasse mais disponível, mais presente. Abandonei a vida de professora e fui estudar e tentar aprender sobre essa atividade que eu nunca tinha executado, mas com a qual flertei quando escolhi o tema da monografia da faculdade.

A vida no mercado editorial é meio imprevisível, mas aconteceu. A história é sinuosa e cheia de detalhes, mas o sonho de traduzir Stephen King, que nasceu com a profissão, sempre esteve presente. Em 2013 veio minha grande chance: fazer a nova tradução de It: A coisa, um dos livros mais conhecidos do autor e o segundo mais extenso, com 450 mil palavras no original.

Não é exagero dizer que foi o maior desafio da minha carreira. Foram nove meses de trabalho e sentimentos constantes de conflito por amar tanto o livro e os personagens e acabar ficando meio cansada deles de tempos em tempos. Mas consegui ir até o fim, e foi It que abriu as portas do autor pra mim.

Hoje, já são 11 livros traduzidos (dez publicados e A pequena caixa de Gwendy, que será lançado em breve), um conto gratuito e os trechos extras de O iluminado da coleção Biblioteca Stephen King, além do meu companheiro de trabalho da vez. Até onde consegui descobrir, a pessoa que acumulava mais traduções do autor assinava nove livros dele. É, o orgulho mal cabe no peito.

Olhando para trás, King é como um velho amigo. Eu e ele nos conhecemos na minha adolescência, e nossa amizade se solidificou ao longo dos anos. Tivemos desentendimentos e alguns afastamentos, mas ele sempre esteve lá, na estante, me olhando. Nosso reencontro foi conflitante e difícil, mas maravilhoso e gratificante. Agora, somos companheiros das manhãs e trabalhamos juntos para levar as palavras dele aos ávidos leitores.

Com o Dia do Tradutor se aproximando, não posso deixar de olhar para trás e refletir sobre esse caminho, que me trouxe a uma carreira tão rica e gratificante. Foram aqueles livros lá atrás que alimentaram meu prazer pela leitura, trabalho de tantos tradutores esquecidos que me doaram suas palavras, para o meu entretenimento. Guerreiros que trabalhavam em textos sem a ajuda da internet, cercados de dicionários e gramáticas de papel, empenhados em traduzir da melhor forma possível não só o idioma, mas a mensagem, a ideia. Obrigada, meus precursores, que tanto me inspiraram a me tornar o que sou hoje e tanto me deram, sem que eu nem percebesse na época. Hoje, além de tradutora, luto pela visibilidade e reconhecimento da minha profissão, e sonho em inspirar e motivar jovens leitores a lerem sempre mais e quem sabe enveredarem por esse caminho tão mágico.

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Regiane Winarski é formada em produção editorial pela ECO/UFRJ e trabalha como tradutora desde 2009. Traduz livros de vários gêneros, como os de terror e suspense do Stephen King, e de vários segmentos, como literatura Young Adult. Mora no Rio de Janeiro e gosta de ler nas horas vagas, mesmo depois de passar o dia lendo.

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