Foi-se o tempo em que acreditávamos que o leão era o rei da floresta. Quem manda mesmo, não só na floresta, como nos oceanos e até no céu, é você mesmo, ou melhor, a sua espécie, o Homo sapiens. Isso pode ser bom, mas também pode ser ruim. O que não dá para negar é que toda essa história é uma aventura e tanto. Implacáveis: Como conquistamos o mundo (Companhia das Letrinhas), o primeiro volume de uma série de três livros, assinado pelo consagrado autor de Sapiens e 21 lições para o século 21, Yuval Noah Harari (Companhia das Letras), é uma boa pedida para entender melhor como nossa espécie e o mundo transformado diversas vezes por ela são como são atualmente.
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Selecionamos algumas das incríveis informações sobre a história da nossa espécie, explicadas de maneira didática e bem-humorada, que os jovens leitores encontrarão nas páginas do livro. Confira:
1. Cozinhar fez os homens mais inteligentes
O homem não é o maior, o mais forte, o mais pesado ser, e com os dentes mais afiados, do planeta. Mas ele descobriu o fogo e isso o ajudou (embora isso não seja tudo, como você entenderá no livro) a controlar um pouco melhor algumas situações, como espantar animais maiores, mais velozes e mais fortes que ele. A descoberta do fogo também ajudou os homens a comerem com mais facilidade. Assados, os alimentos ficam mais macios, o que torna a mastigação e a digestão mais tranquilas. Isso permitiu que, com a evolução, ao longo dos anos, os dentes e o estômago de indivíduos da nossa espécie ficassem menores e que boa parte da energia do nosso corpo fosse direcionada não ao sistema digestivo, mas ao cérebro.
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2. Uma ilha de anões
Há milhares de anos, havia mais de uma espécie de homem - e não somente Homo sapiens, que foi a que sobreviveu e a que está (estamos, na verdade!) aqui até hoje. Uma dessas espécies, por exemplo, era de um povo anão. Eles moravam numa terra que se separou em ilha e foi ficando cada vez menor conforme o volume de água ao redor ia subindo. Animais e homens ficaram presos ali e os alimentos foram se tornando escassos. Sobrevivia quem conseguia viver com menos. Por isso, os menores foram permanecendo e os maiores morrendo, chegando a um ponto da evolução local em que os habitantes humanos da ilha tinham, no máximo, 1 metro de altura e pesavam 25 quilos. Eram os Homo floresiensis.
3. Alguns de nós têm antepassados neandertais
Outra espécie humana que existia, sobretudo na região onde hoje fica a Europa e o Oriente Médio, eram os Neandertais. Eles tinham uma estrutura física maior e mais forte que o Sapiens, mas, mesmo assim, foram eliminados por eles (os detalhes de como isso aconteceu, você vê no livro). Embora tenham desaparecido, algumas pessoas ainda hoje carregam em seu código genético uma parte do DNA Neandertal - o que significa que, em algum momento, ao menos um Homo sapiens teve um filho com um Neandertal, há dezenas de milhares de anos.
4. Nem tudo era de pedra, na Idade da Pedra
Quando dizemos Idade da Pedra, isso logo nos remete a homens que viveram nas cavernas e só usavam ferramentas de pedra. Só que não era bem assim… Na verdade, os artefatos e outros itens feitos de pedra foram o que restou dessa época, porque as pedras não apodrecem, como o couro, a pele dos animais e os vegetais. Há indícios de que grupos humanos não viviam nas cavernas, embora as frequentassem. Eles montavam acampamentos na superfície da terra mesmo, com barracas cobertas com peles de animais.
5. Por que comemos muitos doces?
É possível que uma mãe lá na Idade da Pedra desse uma bronca no filho, parecida com: “Pare já de comer essas folhas de alface molengas e trate de comer doces!”. Naquele período, todos sabiam que deveriam comer o maior número de doces que encontrassem, o que se resumia a frutas e mel. Se não comessem, outros comeriam e eles ficariam sem. Hoje, a disponibilidade de doces é bem maior. Mesmo assim, guardamos essa espécie de “memória alimentar”, está no nosso DNA.
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6. Eles também faziam selfies
Sim, eles também gostavam de registrar sua presença, de um jeito bem mais peculiar, claro. Registros de pinturas de mãos foram encontradas em cavernas e os pesquisadores deduziram que eles apoiavam a mão esquerda na parede e sopravam um tubo (feito com talos de plantas, madeira ou ossos), com um pó feito de pedras de diferentes cores esmagadas. O pigmento marcava o contorno das mãos. Quando tiravam a mão, o auto registro estava lá!
7. Eles ouviam, enxergavam e até se moviam bem melhor que nós
Os alimentos eram escassos e, como ainda não plantavam, tudo era caçado ou coletado. Por isso, conseguir comida era uma missão difícil. Quando acabavam os alimentos disponíveis em uma área, eles tinham de se mudar para outra. Com isso, foram aperfeiçoando os sentidos de busca. Nossos ancestrais olhavam com atenção para as árvores em sua volta e enxergavam frutos, colmeias e ninhos de aves escondidos nas folhas. Pelo cheiro, podiam perceber se um tigre se aproximava ou se um cervo fugia. Quando colocavam uma fruta na boca, prestavam bastante atenção ao sabor. Assim, conseguiam, rapidamente, compreender quando uma fruta era venenosa. Era uma questão de sobrevivência!
8. Foram os primeiros animais da história a chegar a quase todos os continentes e ilhas do mundo
Antes, os humanos viviam concentrados nos locais com mais massa de terra. Os Homo sapiens viviam na África, os Neandertais, na Europa, no Oriente Médio, os denisovanos (uma outra espécie), e na Ásia, os anões de Flores, na Ilha de Flores. Em muitas outras partes do mundo, não havia humanos porque eles não eram bons nadadores. Em certos momentos, conseguiam alcançar as ilhas mais próximas, como Flores, mas não sabiam se havia algo além de grandes distâncias. Era difícil arriscar. Mas, eventualmente, isso aconteceu. Eles conseguiram construir espécies de jangadas e chegar à Austrália, por exemplo. E foi nesse momento que o homem se tornou o animal mais perigoso do mundo, os “senhores do Planeta Terra”.
9. Tudo isso porque temos um superpoder…
Mas por que só o Homo sapiens conseguiu fazer tudo isso e eliminar várias espécies de animais e as outras espécies de hominínios? A resposta é que nossos ancestrais tinham um superpoder que possibilitou aos humanos cooperar em grandes grupos, inclusive com pessoas de fora do seu círculo familiar e desconhecidos, e mudar e adaptar a forma de cooperar. Essa cooperação e interação é que possibilitou que mais ideias inovadoras surgissem e que grandes obstáculos fossem superados, como você nas páginas de Implacáveis: Como conquistamos o mundo. Mas qual superpoder é esse? Um que as crianças exercitam o tempo todo: "a capacidade de imaginar coisas que não existem e contar todo tipo de histórias imaginárias", diz Harari no livro. Ou seja, é a nossa imaginação, o poder de inventar histórias e tecer narrativas, e acreditar nelas, que nos fazem superespeciais e nos unem para cooperar e seguir algumas regras. E não estamos falando apenas de lendas e contos de fadas, mas também de dinheiro, empresas, ações e tudo aquilo que não é exatamente palpável.