Os livros carregam mais do que as histórias que contam.
São capazes de despertar sentimentos, resgatar memórias, descortinar novas perspectivas, tocam em temas sensíveis. Há livros que nos acompanham por toda a vida e vão ganhando novos significados à medida que amadurecemos, mudamos e passamos por novas experiências. Há outros que têm o poder de permanecer, como um lugar familiar para onde sempre podemos voltar. É por isso que presentar com livros pode ser tão especial.
Para este Natal, fizemos uma lista com 24 livros que marcaram o ano de 2024 por trazerem reflexões e emoções profundas. Tocando em temas universais, essas histórias nos aproximam de nós mesmos, despertam empatia pelo próximo, pelo planeta e podem se conectar a momentos importantes da nossa vida. Um livro pode ser para sempre.
Presenteie com livros para…
… recordar o primeiro amor
Foi súbito. Assim que colocou os olhos em Clara, no primeiro dia de aula, não tinha mais jeito: era amor. E para atrair o olhar da menina, o garoto se veste daquilo que ela mais gosta, fazendo sua própria fantasia de pássaro. Imune ao medo do ridículo, o garoto vai à escola com penas e bico em O dia em que virei um pássaro (Companhia das Letrinhas, 2024), de Ingrid Chabbert, que fala com poesia sobre a beleza de descobrir o amor.
Em Um mar de amor (Companhia das Letrinhas, 2024), o pinguim também percebe que está sentindo algo diferente. Cheio de coragem, viaja até a casa do Urso, porque não aguenta mais manter em segredo o que sente. Pode ser o fim do relacionamento dos dois… ou pode ser o começo de algo novo.Um livro sensível que fala sobre o amor que se constroi na presença do dia a dia, no prazer em desfrutar da companhia do outro nas coisas mais simples.
Não que o amor não possa brotar de forma avassaladora - e inesperada. Em A mamãe do pintinho (Companhia das Letrinhas, 2024), da autora sul coreana Heena Baek, a gata Nhiá não era nem um pouco amigável. Egoísta e sempre faminta, vivia importunando os animais menores… até o dia em que, justo ela, que adorava comer ovos bem fresquinhos, se vê paralisada por um pintinho. Ai, aquela cabecinha macia... O pequeno faz brotar na gata algo que nem ela sabia ser capaz de ter: o amor e a ternura de uma mãe.
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… se reconectar com a natureza
É na conexão com a terra - no plantio das sementes, na colheita dos frutos, na arte feita com o barro - que a avó demonstra o que não consegue dizer com palavras. Terra (Companhia das Letrinhas, 2024), de Yuri de Francco com ilustrações de Carol Fernandes, é uma obra tocante em que uma neta relata sua relação com a matriarca da família. Com ela, observamos como as raízes da ancestralidade permanecem fincadas com força à natureza, nos conectando a nós mesmos e ao planeta.
Kuján e os meninos sabidos (Companhia das Letrinhas, 2024), de Ailton Krenak e Rita Carelli, fala da vinda do próprio criador à Terra e da perspicácia de dois meninos. Para espiar de perto suas criaturas, o criador toma a forma de um tamanduá. Mas enquanto toda a aldeia prepara um grande banquete para transformar o bicho em jantar, apenas os dois meninos percebem qual era a identidade do animal...
Tuiupé é uma menina sapeca que nos faz viajar a um tempo distante em que a terra pertencia aos povos originários. Era tempo de pescar no rio, colher frutos e trançar cestos de palha. Era também um tempo em que coisas mágicas aconteciam. Em Tuiupé e o maracá mágico (Companhia das Letrinhas, 2024), de Auritha Tabajara e Paola Tôrres, com ilustrações de Tai, narrado em formato de cordel, acompanhamos essa menina corajosa e sonhadora, que não poderia prever onde iria parar quando uma forte chuva veio.
Vivenciar as estações, sentir a passagem do tempo, observar a mudança da temperatura e da luz ao longo do ano, é algo que nos reconecta à natureza. Em Verão (Companhia das Letrinhas), de Suzy Lee, somos inundados pela atmosfera da estação mais quente do ano em uma experiência sinestésica. As cores, os sons, o calor do sol na pele são despertados pelas imagens produzidas com diferentes técnicas e inspiradas na sinfonia "Verão", que faz parte de As quatro estações, de Vivaldi. Em uma edição caprichada, com capa dura e uma sobrecapa que se transforma em pôster, esse livro é um desses presentes para se guardar com carinho pelo resto da vida.
No segundo volume da série Implacáveis, Por que o mundo não é justo (Companhia das Letrinhas, 2024), do escritor e historiador Yuval Noah Harari, conhecemos como a revolução agrícola mudou nossa relação com a natureza e desenhou o modo de vida que conhecemos hoje. A exploração de terras e recursos, a disputa por poder, tudo isso continua determinando o que colocamos no nosso prato e moldando as relações tão desiguais que sustentamos. Um convite para refletirmos sobre o mundo que conhecemos e aquele que queremos construir.
…ressignificar a dor
Liz é uma menina que vê sua vida mudar de repente após a morte inesperada da mãe. Ela dá adeus ao apartamento em que vivia com sua família no meio da cidade grande e vai morar no meio do mato, na casa de uma avó que é praticamente uma desconhecida. Mas Liz sem medo (Escarlate, 2024), de Martha Batalha com ilustrações de Joana Penna, não é um livro sobre luto. É um livro sobre esperança e sobre a capacidade que todos temos de encontrar uma fortaleza dentro de nós mesmos, com o poder da imaginação.
Envelhecer não é fácil. Ver alguém querido ir aos poucos perdendo suas memórias, ao ponto de se desvincular de sua própria identidade, é um processo doloroso. Mas em O astronauta (Companhia das Letrinhas, 2024), de Carol Fedatto e Amma, o apagamento das lembranças é retratado em uma metáfora poderosa, quando o avô, que "sempre teve os pés no chão”, agora parece se afastar cada vez mais da Terra… como um astronauta em uma viagem sem volta.
Para crianças pequenas, a ausência de seus cuidadores, em especial da mãe, pode ser desesperadora. Em Quando você sai (Pequena Zahar, 2024), de Gastón Hauviller, acompanhamos o intenso turbilhão de sentimentos que invade uma criança quando sua mãe sai de casa. Com ilustrações riquíssimas que bailam com o texto e muitas referências ao clássico Onde vivem os montros (Companhia das Letrinhas, 2023), é umas dessas obras que merece ser lida e relida muitas vezes, para contemplar cada detalhe.
…conservar - e resgatar - memórias
Um menino e a sua avó não compartilham a mesma língua, mas se entendem por gestos e pelo olhar em O jardim da minha baba (Pequena Zahar, 2024), de Jordan Scott , com ilustrações de Sydney Smith. Na casa dela, eles passam a tarde juntos, caçam minhocas depois da chuva e compartilham lembranças que vão durar para sempre, marcadas pelos cheiros, gostos, cores e pela forma como a luz do sol incide em cada uma das delicadas ilustrações.
Já fazia tempo que o vô Cacá andava diferente, mais quieto, confuso… Mal notava o tempo passar sentado em sua cadeira de balanço. Em Bento vento tempo (Companhia das Letrinhas, 2024), primeiro livro infantil de Stênio Gardel, com ilustrações de Nelson Cruz, acompanhamos os esforços do menino Bento, que tenta reconectar o avô consigo mesmo perseguindo suas memórias. Uma narrativa em cordel emocionante para todos que já testemunharam o que acontece quando as lembranças insistem em escapar.
…celebrar a amizade
O poder transformador da amizade é retratado em A lenda dos amigos (Pequena Zahar, 2024), de Lee Gee Eun. O tigre amarelão não dava a menor bola para os outros animais, pelo contrário: não fazia a menor questão de ser gentil. Até que um dia um dente-de-leão fica grudado em sua cauda. E a convivência forçada faz brotar uma amizade inusitada, que faz o tigre se tornar uma versão melhor - e mais querida por todos - dele mesmo.
Em Celeste, a skatista (Companhia das Letrinhas, 2024), é a amizade que ajuda a menina Celeste a se reerguer depois de um tombo daqueles. Acostumada a fazer as manobras mais desafiadoras em seu skate, Celeste sente sua confiança abalada por ter caído em uma descida vertiginosa. Ela até pensa em não subir mais no skate... mas ainda bem que o apoio dos amigos a faz desistir dessa ideia!
Em Cordéis para crianças incríveis (Companhia das Letrinhas, 2024), de JArid Arraes, quatro contos diferentes apresentam quatro meninas incríveis que têm muito em comum. Todas elas têm a coragem para lutar pelo que querem - e sabem que não precisam fazer isso sozinhas. Elas contam com ajuda para realizar seus desejos nos ensinando sobre o poder da amizade.
…ver beleza em envelhecer
Quando o menino pergunta ao seu avô o que ele tem no rosto, não está se referindo aos óculos nem o farto bigode, mas às rugas que marcam sua pele. Em Toda ruga tem uma história (Companhia das Letrinhas, 2024), de David Grossman, o avô Amnon e seu neto desenvolvem um diálogo sensível, que desperta o olhar para a beleza que os anos têm o poder de imprimir na pele.
Em Manuel, Rita, Flor… (Companhia das Letrinhas, 2024), Renata Bueno conta histórias de senhores e senhoras, reais ou inventados, mostrando como o fim da vida também pode carregar descobertas e alegrias que de certa forma remetem ao que se experiencia na infância. De forma afetuosa, o texto se mistura aos retratos despretensiosos de cada velhinho, evocando emoção e imaginação.
... quebrar padrões e expectativas
Uns e outros (Companhia das Letrinhas, 2024) é um daqueles livros que ampliam a nossa perspectiva sobre o mundo. De forma poética e com inspiração na natureza, Dipacho apresenta várias formas de existir e de se relacionar, todas válidas e significativas.
Um sentimento comum de Pessoas com Deficiência (PcD) é a dificuldade de se sentir visto para além de sua deficiência. Em ABPcD, Letras, infâncias e vidas de pessoas com deficiência (Companhia das Letrinhas, 2024), de Ana Clara Moniz e Lígia Azevedo, com ilustrações de Bruna Assis Brasil, as infâncias de 26 personalidades são contadas para muito além das deficiências - visíveis ou não - que elas carregam, mostrando que não há nada mais normal - e desejável - do que sermos únicos.
Com humor, Nem todo (Companhia das Letrinhas, 2024), de Marcelo Tolentino, também fala de como as expectativas podem ser desafiadas - com mais ou menos surpresas! - e quebrar estereótipos. Afinal, não quer dizer que se as lebres são rápidas, todas devem ser rápidas. Nem que porque os ursos são dorminhocos, todos têm dificuldade de acordar. O quanto aquilo que imaginamos é diferente do que se vê?
…reforçar os laços entre irmãos
Faz parte de ser irmão mais velho - ou irmã mais velha - querer assustar e provocar os irmãos mais novos. Mas no divertido Você não vai acreditar no que eu vi (Brinque-Book, 2024), de Fran Matsumoto, o jogo vira. É o irmão mais velho quem toma um susto ao querer pregar uma peça no menor, com o desfecho mais inesperado.
Já em Vejamos (Brinque-Book, 2024), de Otávio Junior com ilustrações de Caio Zero, dois irmãos gêmeos são tão diferentes que se tornam de certa forma complementares. As percepções de mundo dos dois são praticamente opostas: onde vê drama, o outro só encontra aventura. Enquanto um quer tudo organizado, o outro prefere o caos. Mas é nesse contraste que eles se entendem...
O quintal das irmãs (Pequena Zahar, 2024), de Waldete Tristão, é um relicário de preciosos momentos da infância compartilhados por duas irmãs. em um quintal que poderia ser um mundo inteiro. Com ilustrações delicadas, vemos os laços que se tecem entre as duas na cumplicidade de momentos singelos e repletos de encamentamento.
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