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Por Aguinaldo Silva
Durante 47 anos, com uma interrupção de quatro anos na década de 1990, um comboio de passageiros, que imitava com algum êxito o Expresso do Oriente, cruzou a distância entre Rio e São Paulo e vice-versa. A maioria dos seus usuários já cantou para subir. Mas eu, que era um deles e ainda estou penando por aqui, lhes pergunto: vocês já ouviram falar no Trem de Prata?
A maioria, não. O que restou dele (alguns vagões prateados) apodrece numa linha férrea sem saída na estação Leopoldina, aqui no Rio. De vez em quando se ouvem boatos sobre seu retorno -- sem falar no delírio, do qual acordamos muito cedo —, que foi a possível instalação de um "trem-bala" entre as duas cidades. Mas isso não saiu do papel. E os restos do comboio Rio-São Paulo continuam lá, pois todos nós sabemos: assim como a época mais risonha e linda durante a qual ele trafegou, e que de erro em erro, de concessão em concessão, desembocou nesta cidade violenta que agora é o Rio de Janeiro, requintes como o Trem de Prata não têm volta.
Ainda me lembro da última viagem que fiz nele, em 1998. Depois de me instalar na cabine -- com cama, armário e banheiro com chuveiro —, passei no bar em que serviam champanhe e depois fui até o vagão-restaurante para um jantar de muito bom gosto. Lá, sentado à minha mesa, notei duas novidades. A primeira: os barracos das favelas dentro das quais o trem circulava tinham avançado até quase ocupar o leito da via férrea. E a segunda: os enfatiotados garçons, à espera de nossos chamados, se postavam estrategicamente na parte de aço do vagão, entre as janelas.
Achei que o motivo da segunda novidade era não impedir o acesso dos comensais à paisagem... Até que uma pedra, lançada da via férrea, atingiu com extrema violência uma das janelas, e eu percebi: embora o vidro fosse blindado, os funcionários do trem não descartavam a possibilidade de serem atingidos por uma pedrada e até por uma “bala perdida” disparadas de uma das comunidades entre as quais passavam na saída do Rio.
Dois meses depois desta minha última viagem, o Trem de Prata foi desativado e este foi apenas um dos muitos sinais do fim de uma era. Hoje, no chamado Grande Rio, restam apenas os trens de subúrbio e mesmo assim -- e com certo jogo de palavras -- pelo andar da carruagem haverá um momento em que nem mesmo eles poderão circular livremente.
Por quê? Simples: é que, com o avançar inexorável das favelas, o leito da via férrea está praticamente ocupado. Neste ano de 2016, só no ramal de Belford Roxo a circulação de trens teve que ser suspensa catorze vezes. O motivo? Tiroteios, protestos na via férrea, tentativa de incendiar as composições cheias de passageiros... “O horror, o horror”, como diria aquele personagem de Joseph Conrad.
Mas, fazer o que se permitimos que se chegasse a esse estado? É com o horror que agora rotineiramente convivemos. De erro em erro, de concessão em concessão -- digo mais uma vez —, foi lá que chegamos. No começo do século XX, por causa da febre amarela, o Rio de Janeiro era conhecido como a “cidade da morte”. Anos depois ela se tornou “maravilhosa”. E agora, se eu fosse chamado a lhe dar um novo epíteto, eu diria que ela é a Cidade do Medo.
TURNO DA NOITE
Sinopse: Um dos maiores novelistas do país, Aguinaldo Silva revela em seu livro uma faceta que poucos conhecem: a de repórter policial. A íntima relação de Aguinaldo Silva com a escrita começou cedo. Publicou seu primeiro romance pouco antes de completar dezoito anos e logo estreou como repórter. Sua vida como jornalista daria uma novela com lances dramáticos e episódios extraordinários, todos narrados na primeira parte deste livro, que traz as memórias de sua juventude no Recife dos anos 1960 e na efervescente cena cultural carioca da década de 1970. A partir de 1969, Aguinaldo passou a se interessar pela reportagem policial. Junto à apuração dos fatos, imprimiu um tom pessoal às matérias, produzindo textos inesquecíveis sobre o mundo do crime e da violência policial, muitos deles reproduzidos na segunda parte deste livro.
Turno da noite já está nas livrarias.
Aguinaldo Silva nasceu em Pernambuco, em 1943. Começou a carreira de jornalista no Recife e entrou para a seção de Polícia de O Globo, no Rio de Janeiro, em 1968. Trocou as redações pela TV em 1978, tornando-se um dos maiores novelistas do país. Em junho, lança pela editora Objetiva o livro Turno da noite.
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