Pergunte ao Editor: autores nacionais e sucesso comercial

21/12/2016

 

No começo do mês, convidamos nossos leitores a deixarem suas dúvidas sobre o mercado editorial aqui no blog. A partir de hoje, Luiz Schwarcz e mais editores do Grupo Companhia das Letras começam a responder a essas perguntas no Pergunte ao Editor. 

* * *

Erlangueiro: Por que a editora insiste em títulos nacionais que não visam o grande público? Muito se fala em escritores nacionais que publicam “para amigos” e não para o mercado. Inclusive teve um escritor (que não merece ser citado) falando bobagens de livros populares.

Visto que a editora visa o lucro, por que não direciona os escritores nacionais para um maior sucesso de mercado, em vez de mirarem apenas os prêmios e os críticos?

É claro que boa qualidade conta, mas por que livros nacionais que não vendem tanto sempre estão em catálogo, enquanto bons livros estrangeiros (como os do Thomas Pynchon, por exemplo) nem sequer são reimpressos?

Luiz Schwarcz: Caro leitor, a sua pergunta é bem interessante. Nela se misturam dois assuntos, a validade de editar livros brasileiros que vendem mal e a possível priorização dos livros nacionais nos critérios de reimpressão.

Considero a descoberta e publicação de grandes livros do país em que se encontra a editora um dos aspectos mais importantes da minha profissão. Se o editor não se ocupar disso, a literatura, mesmo sendo uma arte internacional por natureza, não sobreviverá. Imagine se a mesma pergunta fosse feita ao editor de Thomas Pynchon, que vende bem no seu país de origem, mas se comparado aos grandes best-sellers americanos tem venda diminuta. E a literatura de qualidade pode ser tanto comercial quanto destinada a um público pequeno. Não é possível pensar quantitativamente quando se trata de arte ou literatura. Um bom editor equilibra em seu catálogo as duas coisas. Com uma visão exclusivamente comercial, a literatura não chega longe, não decola junto com seu leitor e não poderá refletir o país nem sobre o lugar em que vivemos. Se a arte em geral se pautar apenas por critérios comerciais, a vida cultural de um país empobrecerá sobremaneira. Um excelente livro pode ter uma importância significativa para a cultura mesmo sem ter um grande número de vendas. E há valor também na literatura de maior alcance. Mas em qualquer dos casos, de alguma forma o romance, o conto ou a poesia que não dialogam com os leitores perdem de vista seu fim maior. Um monólogo literário em algum momento tem que deixar de ser monólogo e virar um diálogo com a imaginação alheia. No entanto, é bom frisar que é um perigo o escritor (até o mais comercial deles) escrever pensando no resultado financeiro acima de tudo, acima do respeito à imaginação do leitor.

Nas reimpressões, o critério deveria ser um pouco mais comercial, já que é nesse momento que uma editora lucra e garante sua sobrevivência. Mesmo assim, em alguns casos pode bater mais forte o fator local, dependendo da importância do livro e do conjunto da obra de um escritor nacional. De toda forma, acho que, em geral, nesse momento o raciocínio puro de mercado é mais aceitável. É uma pena que, devido à extensão do mercado editorial no Brasil, muitas vezes livros importantes tardam a serem reeditados. Nesse aspecto, as edições digitais podem ser muito positivas. 

* * * * *

Luiz Schwarcz é editor da Companhia das Letras e autor de Linguagem de sinais, entre outros. 

 

Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog