100 anos de Antonio Callado

26/01/2017

Fonte: Correio Braziliense

Há 100 anos nasceu Antonio Callado, um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro. Callado nasceu em Niterói, em 1917, estudou direito e começou sua carreira jornalística como repórter do Correio da Manhã, em 1937. Trabalhou em diversos veículos da imprensa nacional e estrangeira. Por suas obras jornalísticas e romances, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1994. Três anos depois, Callado morreu aos 80 anos.

Autor de A Madona de cedro (1957), Quarup (1967) e Reflexos do baile (1976), Antonio Callado via a profissão de jornalista como uma segunda vocação - a primeira era a literatura. No posfácio de Esqueleto na Lagoa Verde, lançado na coleção Jornalismo Literário em 2010, Mauricio Stycer fala sobre a relação de Callado com o jornalismo e as viagens que fez para realizar suas reportagens. "Do final dos anos 1940 até meados da década de 1970, quando se aposentou, Callado percorreu como repórter todos os locais que colocou em sua lista de prioridades. Mesmo considerando o jornalismo uma atividade secundária em sua vida, produziu reportagens marcantes, que resistiram ao tempo, na Amazônia, no Xingu e no Nordeste", escreve Stycer. 

Sobre essas viagens, Callado falou: "Realmente, viagem e jornalismo andam sempre juntos, mas eu diria que viagem e literatura também. Há sempre uma viagem real ou imaginária no início da carreira de um escritor, especialmente do latino-americano. Eu viajei, de fato." 

Uma dessas viagens marcantes foi a que fez para o Xingu, em 1952. Vinte e sete anos após o desaparecimento do coronel britânico Percy Harrison Fawcett no meio da mata, Callado vai até a região do Xingu para investigar o que aconteceu. Fawcett, em 1925, tentou encontrar no interior do Brasil uma fabulosa cidade perdida no sertão. Não era a prmeira vez que procurava a Atlântida tropical, mas foi a última - Fawcett e seus companheiros de expedição desapareceram na mata.

Fawcett era um oficial britânico que servia no Ceilão e já tinha visitado o Brasil quando leu um documento que falava sobre uma antiga cidade abandonada no sertão, que teria sido localizada por bandeirantes no século XVIII. Com autorização do governo brasileiro, o coronel fez duas expedições, em 1920 e 1925, a fim de tentar localizar esse Eldorado. Na segunda vez em que se aventurou, Fawcett estava acompanhado de seu filho mais velho, Jack, e do jovem Raleigh Rimmel. Desapareceram os três na selva. Mais de vinte e cinco anos depois, foram encontrados em uma lagoa à beira do rio Caluene, no Xingu, ossos que poderiam ser dos exploradores. 

Acompanhado do filho mais novo do coronel Fawcett, Brian, Antonio Callado viaja até a região não para descobrir a verdade sobre o esqueleto e o desaparecimento do explorador, mas mais interessado em investigar as diversas visões sobre o episódio. Callado pesquisou sobre a infância e a personalidade de Fawcett, especula sobre os motivos que o teriam levado à aventura, ensaia teorias sobre os desdobramentos do projeto imperial britânico, analisa as formas de povoação e desenvolvimento do Brasil, registra impressões sobre os índios calapalos e defende a criação de um parque nacional indígena. Essa reportagem é um dos mais fascinantes relatos jornalísticos já feitos no Brasil - e a experiência no Xingu serviu de inspiração para o romance Quarup, publicado em 1967. 

Ao reconstituir os passos do explorador britânico e de outros que procuraram decifrar o sentido de sua obsessão, Callado produziu uma reportagem incomum sobre o sonho de um vitoriano nos trópicos, sobre o encontro com os índios, sobre um país que ainda estava por se descobrir e sobre sua própria arte de fazer jornalismo.

No dia de seu centenário, conheça ou relembre a obra de Antonio Callado. Leia aqui um trecho do livro

 

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