Breve história de um podcast

27/10/2017

Por Fabio Uehara

Às vezes a vida pode ser boa, sabe?

Quem me conhece sabe que não sou a pessoa mais “alegria de viver” que existe. Isso fica claro pelo meu gosto musical, que tem o Radiohead como ícone maior; pelas minhas cores favoritas, que variam do preto/cinza ao azul-escuro; e pelo meu gosto literário, que passa por autores como Murakami, Drummond e muitos outros que não são tão, digamos assim, otimistas. E no cinema, então? Não me chame para um musical feliz, pois mesmo as minhas animações favoritas são aquelas que fazem gente chorar na sala de cinema, como Wall-E e Up.

Imagino se o pequeno Fabio soubesse que um dia ia trabalhar não só com livros, mas com livros de meus ídolos juvenis, como Caetano Veloso, Renato Russo e – por que não? – Star Wars. E mais: que, além de fazer livros, eu iria mexer com tecnologia ao mesmo tempo. Consigo ver os olhos daquele japinha nerd e tímido brilhando.

Tudo isso para dizer que, também na minha juventude solitária passada entre livros, uma descoberta foi o rádio. Era algo que me acompanhava tanto no meu walkman (o iPod da época) quanto no meu aparelho de som três-em-um (vinil, toca-fitas e rádio). Era onde eu ficava sabendo das notícias, descobria novas músicas e acompanhava as mais pedidas. E é claro que o locutor (ou disc jockey) – uma figura mítica, que conhecia tudo sobre aquelas músicas e falava com todos – era uma referência para aquele magrelo nipo-brasileiro.

Corta para o presente: hoje sou marido, pai e Coordenador de Novos Negócios na Companhia das Letras. Há mais de três anos uma ideia estava no ar aqui na editora, resumida em uma palavra: podcast.

Segundo o dicionário Oxford, “podcast” é um arquivo de áudio digital disponível na internet para download em computador ou dispositivo móvel, tipicamente disponível em séries, em que os episódios podem ser recebidos por assinatura automática. Em outras palavras, é uma rádio sob demanda, sobre os assuntos mais diversos. Então, por que não fazer um da Companhia das Letras? Mas falar do quê? Conversar sobre o que mais gostamos: livros, seus autores, como eles são produzidos. Para mim, era uma oportunidade de falar com mais profundidade sobre determinados assuntos, e estimular uma conversa plural em torno dos livros que publicamos.

Hoje completamos um ano de podcast (e 31 anos da Companhia das Letras), com trinta programas produzidos. No começo eu tinha muita vergonha, muita insegurança. Afinal, não sou a pessoa que tem a melhor dicção do mundo e parecia que não ia ser possível lançar um programa a cada 15 dias (ou “semana sim, semana não”, para quem ouve desde o começo). Hoje sinto que ficou mais fácil, melhoramos a parte técnica e os assuntos são tantos que passamos a produzir um programa por semana, sempre com uma conversa franca e descontraída. Nesses trinta episódios, falamos dos bastidores dos livros – sempre com a colaboração de colegas da editora, como Elisa Braga, nossa diretora de produção, que explicou como nasce o objeto livro, e os editores Julia Bussius e Marcelo Ferroni, que falaram sobre o processo de edição –; tivemos entrevistas com autores de diversos gêneros, como Lira Neto, Juca Kfouri, Marília Garcia e Angélica Freitas; e lançamos o Clube Rádio Companhia, um clube de leitura mensal com participação dos leitores via Facebook. 

Consigo ver de novo o pequeno Fabio que deixava de brincar para ler, que ficava digitando em uma máquina de escrever antiga fingindo escrever um livro, que se via falando ao microfone de uma cabine de rádio imaginária. Vários anos depois, acho que posso colocar um “feito” na lista de coisas que eu queria ter feito na vida: ter uma família incrível, ver a aurora boreal, trabalhar com o que mais gosto. E  de um jeito um pouco diagonal: fazendo um programa de rádio.   

A Rádio Companhia é Zé Barrichello, Marina, Taize, Diana, Laura, Lilia e Clara, e agradeço a eles e a toda a equipe da Comunicação, os editores do Grupo Companhia, o pessoal da produção, comercial e todo mundo da editora que faz o programa toda a semana. E, claro, a todos os ouvintes que nos acompanham a cada episódio.

E a Rádio Companhia também ganhou um presente: agora estamos no Spotify!

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A Rádio Companhia também está disponível no iTunes, Soundcloud e aqui no blog

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Fabio Uehara é marido, pai e Coordenador de Novos Negócios do Grupo Companhia das Letras, além de astro do nosso podcast. 

 

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