Qual vai ser a sua leitura de verão? Se você ainda está na dúvida, sugerimos alguns dos melhores lançamentos em ficção estrangeira de 2017 para você passar o verão em boa companhia. ?
O ministério da felicidade absoluta, de Arundhati Roy (tradução de José Rubens Siqueira)
Após exatos vinte anos longe da ficção, a autora do best-seller O deus das pequenas coisas volta ao romance com O ministério da felicidade absoluta, que foi cosiderado pela imprensa internacional um dos melhores lançamentos do ano. Pela emocionante história do jovem Aftab, que mais tarde se torna a bela Anjum, descortina-se uma Índia repleta de conflitos e beleza. Dos bairros sinuosos e pobres aos shoppings reluzentes de Delhi, passando pelas montanhas nevadas da Kashmira, onde guerra e paz se mesclam em ciclos de vida e morte, a vida de Anjum transcorre e, com ela, a história de um país. A um só tempo história de amor e protesto, este romance tem como heróis pessoas que foram destruídas pelo mundo no qual vivem e em seguida resgatadas por atos de amor e esperança. Dessa forma, por mais frágeis que pareçam ser, elas nunca se rendem. Aos entrelaçar vidas complexas, este romance arrebatador e profundamente humano reinventa o que um romance pode ser e fazer. E demonstra a cada página o talento de Roy para contar histórias.
As fúrias invisíveis do coração, de John Boyne (tradução de Luiz A. de Araújo)
O novo livro do autor de O menino do pijama listrado passa pela história da Irlanda desde os anos 1940 até os dias atuais. Cyril Avery não é um Avery de verdade ou, pelo menos, é o que seus pais adotivos lhe dizem. E ele nunca será. Mas se não é um Avery, então quem é ele? Nascido nos anos 1940, filho de uma jovem solteira expulsa de sua comunidade e criado por uma família rica irlandesa, Cyril passará a vida inteira à mercê da sorte e da coincidência, tentando descobrir de onde veio — e, ao longo de muitos anos, lutará para encontrar uma identidade, uma casa, um país e muito mais. Além das incertezas de sua origem, ele tem de enfrentar outro dilema: é gay numa sociedade que não admite sua orientação sexual. John Boyne nos apresenta à sua maior empreitada literária até então, construindo uma saga arrebatadora sobre aceitar-se e ser aceito num mundo que pode ser cruelmente hostil. Uma leitura necessária para os dias de hoje, que reitera o poder do amor, da esperança e da tolerância.
No seu pescoço, de Chimamanda Ngozi Adichie (tradução de Julia Romeu)
Em 2017, os contos de Chimamanda Ngozi Adichie finalmente ganharam uma edição brasileira. Autora de Americanah e Hibisco roxo, a força de seus romances também está presente nas suas narrativas curtas. Publicado em inglês em 2009, No seu pescoço contém todos os elementos que fazem de Adichie uma das principais escritoras contemporâneas. Nos doze contos que compõem o volume, encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas da narrativa convencional com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro - escrito em segunda pessoa -, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência da empatia, bem escassa em nossos tempos.
Manual da faxineira, de Lucia Berlin (tradução de Sonia Moreira)
Lucia Berlin teve uma vida repleta de eventos e reviravoltas. Aos 32 anos, já havia vivido em diversas cidades e países, passado por três casamentos e trabalhado como professora, telefonista, faxineira e enfermeira para sustentar os quatro filhos. Lutou contra o alcoolismo por anos antes de superar o vício e tornou-se uma aclamada professora universitária em seus últimos anos de vida. Porém, até o lançamento da coletânea Manual da faxineira nos EUA, em 2014, seu nome era quase desconhecido, mas felizmente sua obra foi resgatada e chegou neste ano às livrarias brasileiras. Desse vasto repertório pessoal, Berlin tira inspiração para escrever os contos que a consagraram como uma mestre do gênero. Com a bravura de Raymond Carver, o humor de Grace Paley e uma mistura de inteligência e melancolia, Berlin retrata milagres da vida cotidiana, desvendando momentos de graça em lavanderias, clínicas de desintoxicação e residências de classe alta da Bay Area.
A descoberta da escrita, de Karl Ove Knausgård (tradução de Guilherme da Silva Braga)
Aqueles que acreditam que o talento literário se resume a uma vocação inata não podem deixar de ler A descoberta da escrita, quinto volume da série de Karl Ove Knausgård. Neste romance autobiográfico, o autor percorre seus anos de estudante de escrita criativa na cidade universitária de Bergen. Com a honestidade que lhe é característica, explicita as dificuldades e frustrações que permeiam o caminho de todo aspirante a romancista: "eu sabia pouco, queria muito e não conseguia nada", confessa o narrador. Às intempéries da formação de escritor somam-se os conflitos e inseguranças da juventude, permeados por episódios de bebedeira, brigas, insucessos românticos e toda sorte de golpes ao narcisismo pueril daquele que viria a se tornar o maior escritor vivo da Noruega.
Nem vem, de Lydia Davis (tradução de Branca Vianna)
Mais indicações de contos para quem gosta de narrativas breves - no caso de Lydia Davis, brevíssimas. Davis inaugurou um gênero literário para chamar de seu. O estilo desafia qualquer tentativa de classificação: não é exatamente poesia, nem conto, nem ficção, nem memória. Nem vem reúne 122 narrativas que se equilibram entre relatos de sonhos, passagens reescritas de Flaubert, cartas para gerentes de marketing, relatos de situações cotidianas, conversas entreouvidas e obituários locais. Seja observando o comportamento das vacas pela janela da cozinha, seja ponderando sobre o aspecto das ervilhas numa embalagem, a escritora deixa sua marca inconfundível que mistura inteligência, humor e uma boa dose de estranheza. No blog, publicamos uma entrevista com a autora em que fala sobre seu processo de escrita e seus livros.
Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe (tradução de José Paulo Paes)
Clássico da literatura de terror, Histórias extraordinárias reúne dezoito contos assombrosos de Edgar Allan Poe, com seleção, apresentação e tradução do poeta José Paulo Paes. Este livro traz, entre outras obras-primas do mestre do suspense e do mistério, “A carta roubada”, “O gato preto”, “O escaravelho de ouro”, “O poço e o pêndulo” e “O homem da multidão”. O caráter macabro das histórias, dotadas de profundidade psicológica e imersas em uma atmosfera eletrizante, continua a conquistar novos leitores e a afirmar sua condição de clássico. Nas palavras de Paes, “Poe sempre consegue […] provocar-nos aquele arrepio de morte ou aquela impressão de vida que, em literatura, constituem o melhor, senão o único, passaporte para a imortalidade”.
O último grito, de Thomas Pynchon (tradução de Paulo Henriques Britto)
Meio história de detetive, meio cyberpunk, híbrido de comédia familiar e thriller sobre terrorismo, O último grito é um romance inesquecível, obra máxima de um dos escritores mais cultuados do nosso tempo. Meses antes do ataque terrorista contra as Torres Gêmeas, a simpática Maxine, uma especialista em fraudes fiscais, é contratada por um documentarista para investigar as movimentações suspeitas de uma start-up. A trilha do dinheiro desviado parece levar a Gabriel Ice, misterioso investidor que anda interessado em comprar o código-fonte do DeepArcher, um novo videogame que transforma a deep web numa realidade virtual habitável. Todas as pistas levam a mais pistas, e os desdobramentos incluem o financiamento secreto de terroristas, contrabando de sorvete russo proibido e os meandros do mundo nerd da virada do milênio.
Anna Kariênina, de Liev Tolstói (tradução de Rubens Figueiredo)
Que tal aproveitar o verão para encarar aquele clássico? Publicado originalmente em forma de fascículos entre 1875 e 1877, antes de finalmente ganhar corpo de livro em 1877, Anna Kariênina continua a causar espanto. Com absoluta maestria, Tolstói conduz o leitor por um salão repleto de música, perfumes, vestidos de renda, num ambiente de imagens vívidas e quase palpáveis que têm como pano de fundo a Rússia czarista. Nessa galeria de personagens excessivamente humanos, ninguém está inteiramente a salvo de julgamento: não há heróis, tampouco fracassados, e sim pessoas complexas, ambíguas, que não se restringem a fórmulas prontas. Religião, família, política e classe social são postas à prova no trágico percurso traçado por uma aristocrata casada que, ao se envolver em um caso extraconjugal, experimenta as virtudes e as agruras de um amor profundamente conflituoso, "feito de sombra e de luz". E você ainda poderá participar do Clube Rádio Companhia discutindo o livro no nosso podcast.
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