Se 2017 marcou os 100 anos da Revolução Russa, 2018 será o ano da Copa do Mundo. Ou seja, ainda vamos falar muito sobre a Rússia. Vai levar um tempinho para junho chegar e nossa atenção se voltar para o futebol, mas não vamos deixar os livros de lado! Para quem quer conhecer autores russos ou ler mais sobre a sua história, preparamos uma lista com dez títulos para mergulhar na leitura. Confira!
1- Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha, de Liudmila Petruchévskaia (tradução de Cecília Rosas)
Liudmila Petruchévskaia pertence ao grupo de escritores que não encontram equivalente em nenhum outro autor, tradição ou país. Considerada por alguns herdeira de Edgar Allan Poe e Gogol, a maior autora russa viva combina o contexto soviético em que produziu grande parte de sua obra com uma realidade povoada por assombrações, pesadelos, acontecimentos macabros e personagens sinistras. O resultado são histórias sobrenaturais que retomam a tradição dos contos folclóricos, porém dotadas de um humor contemporâneo e de uma carga política que não precisa se expressar diretamente para existir, pois, assim como não é à toa que a autora teve sua obra banida da União Soviética até o final dos anos 1990, tampouco é por acaso que ela recebeu em 2002 o prêmio de maior prestígio na Rússia pelo conjunto de sua obra.
Leia um trecho de Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha.
2- O jogador, de Fiódor Dostoiévski (tradução de Rubens Figueiredo)
Impressionante retrato psicológico do vício destrutivo do jogo, compulsão que o próprio Dostoiévski conhecia intimamente, O jogador retrata com perfeição a busca incessante por uma lógica que norteie o acaso e a necessidade de controle que acometem todo jogador inveterado. Numa estação de águas na sugestiva cidade alemã de Roletemburgo, Aleksei Ivánovitch, jovem professor de origens humildes, vivencia a emoção do jogo e o infortúnio amoroso enquanto tenta entender as confabulações que definirão o seu destino e o de seus próximos. Num ambiente em que fortunas se dilapidam e o futuro se decide ao sabor da sorte, a tentação do risco e a necessidade imperiosa de experimentar o abismo são o motor deste que continua sendo um dos romances mais perturbadores que o século XIX viu nascer. O jogador marca a chegada de Dostoiévski na Penguin-Companhia.
Leia um trecho de O jogador.
3- O dom, de Vladimir Nabokov (tradução de José Rubens Siqueira)
Considerado por Vladimir Nabokov sua melhor obra escrita em russo, O dom condensa, com extrema virtuose estilística, o melhor de sua produção no período. Ele capta, com riqueza de detalhes, a difícil vida dos emigrados no país que lhes é hostil. Com ironia, reconstrói os círculos literários da época, onde todos, por menor que fosse o grupo de escritores, se tratavam com gentileza para depois se criticarem mutuamente pelas costas. Sem dinheiro, com aspirações a se tornar um grande escritor, o poeta iniciante e sonhador Fyodor navega por esse mundo vago e sombrio. Enquanto sonha com versos, com sua juventude perdida e com o pai, desaparecido anos antes, ele nos conta duas histórias de amor. Por Zina, a filha do senhorio que aluga um quarto para ele, e pela própria literatura russa, que permeia todo este grandioso romance.
Leia um trecho de O dom.
4- Primeiro amor, de Ivan Turguêniev (tradução de Rubens Figueiredo)
Em um passeio por sua casa de veraneio nos arredores de Moscou, o garoto Vladímir Petróvitch, filho único de uma família tradicional, vê uma moça exuberante brincando nos fundos da propriedade. Trata-se de Zinaida, filha de sua vizinha, por quem se apaixonará de forma avassaladora.
À medida que eles se aproximam, fica claro quem está no controle da situação. Disposto a tudo para ser correspondido, Vladímir terá de aprender rapidamente o intrincado jogo da sedução, em que as regras são tão aleatórias quanto obscuras. Admirado por Henry James e Gustave Flaubert, Ivan Turguêniev foi o primeiro autor russo a ser traduzido na Europa, reconhecido, ainda em vida, como um dos grandes escritores de sua época.
Leia um trecho de Primeiro amor.
5- Guerra e paz, de Liev Tolstói (tradução de Rubens Figueiredo)
O grande clássico de Tolstói não poderia ficar de fora desta lista. Ao acompanhar o percurso de cinco famílias aristocráticas russas no período de 1805 a 1820, o autor narra a marcha das tropas napoleônicas e seu impacto brutal sobre a vida de centenas de personagens. Em meio a cenas de batalha, bailes da alta sociedade e intrigas veladas, destacam-se as figuras memoráveis dos irmãos Nikolai e Natacha Rostóv, do príncipe Andrei Bolkónski e de Pierre Bezúkhov, filho ilegítimo de um conde, cuja busca espiritual serve como espécie de fio condutor e o torna uma das mais complexas personalidades da literatura do século XIX. Ao descrever o cotidiano e os grandes acontecimentos que se sucederam à invasão de Napoleão em 1812, Tolstói retrata uma Rússia magistral, imponente e, sobretudo, profundamente humana.
Leia um trecho de Guerra e paz.
6- O túmulo de Lênin, de David Remnick (tradução de José Geraldo Couto)
Mudando para a não ficção, O túmulo de Lênin é a clássica reportagem em que David Remnick retrata o colapso do regime soviético. Atual diretor da revista New Yorker, David Remnick foi correspondente do Washington Post na Rússia entre 1985 e 1991. Durante aqueles anos, assistiu à desintegração do império soviético e a sua transformação numa democracia turbulenta. As centenas de reportagens que produziu à época são a matéria-prima deste relato vencedor do prêmio Pulitzer. Remnick esteve por toda parte. Visitou minas de carvão. Foi a estações de trem em busca de pedintes, ladrões e viajantes. Esteve nas fazendas da elite, foi à casa de dissidentes do governo e também registrou o relato de fervorosos antissemitas. Contradizendo uns aos outros, essas pessoas compõem um retrato exuberante de um povo ciente de que a história estava se movendo sob seus pés.
Leia um trecho de O túmulo de Lênin.
7- O fim do homem soviético, de Svetlana Aleksiévitch (tradução de Lucas Simone)
O fim da União Soviética também foi retratado pela Nobel de Literatura Svetlana Aleksiévitch. Em O fim do homem soviético, ela examina a vida das pessoas afetadas por essa transformação. Em cada personagem está um pouco da história russa - a mãe cuja filha morreu em um atentado; a antiga funcionária do Partido Comunista que coleciona carteiras abandonadas de ex-filiados; o velho militante que passou dez anos em um campo de trabalhos forçados. O livro traz um painel fantástico de russos de todas as idades que se movem entre a possibilidade de uma vida diferente e a derrocada da sociedade que conhecem.
Leia um trecho de O fim do homem soviético.
8- Doutor Jivago, de Boris Pasternak (tradução de Sônia Branco e Aurora Fornoni Bernardini)
Publicado originalmente em 1957 fora da União Soviética, após ser banido pela censura do Partido Comunista, Doutor Jivago, que só seria lido por seus conterrâneos em 1987 — 27 anos após a morte de seu autor —, continua sendo o maior e mais importante romance da Rússia pós-revolucionária. Nele, Boris Pasternak traz à luz o drama e a imensidão da Revolução Russa pela história do médico e poeta Iúri Andréievitch Jivago em seu constante esforço de se colocar em consonância com a Revolução. Por seus olhos hesitantes o leitor testemunha a eclosão e as consequências deste que foi um dos eventos mais decisivos do século. Em tempos em que a simples aspiração a uma vida normal é desprovida de qualquer esperança, o amor de Jivago por Lara e sua crença no indivíduo ganham contornos de um ato de resistência.
Leia um trecho de Doutor Jivago.
9- O mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov (tradução de Zoia Prestes)
O mestre e Margarida narra a fantástica chegada do diabo em plena Moscou comunista dos anos 1930. Tudo começa em uma tarde de primavera, quando Satanás e seu séquito diabólico decidem visitar a cidade e encontram poetas, editores, burocratas e todo tipo de pessoas tentando levar a vida em pleno regime comunista. Depois dessa visita, nada será como antes: um rastro de destruição e loucura mudará o destino de quem cruzá-lo.
A brilhante narrativa de Bulgákov vai muito além de seus aspectos fantásticos e cômicos. Com um estilo absolutamente original, Bulgákov aborda a liberdade da escrita e a força do amor em tempos adversos, e faz uma sátira devastadora da vida sob o regime soviético.
10- Os Románov, de Simon Sebag Montefiore (tradução de Denise Bottmann, Donaldson M. Garschagen, Claudio Carina, Renata Guerra e Rogério W. Galindo)
Para encerrar, uma leitura que percorre 300 anos da história da Rússia: Os Románov, do historiador Simon Sebag Montefiore. Os Románov foram a mais bem-sucedida dinastia dos tempos modernos, tendo governado um sexto da superfície da Terra. Neste livro envolvente, Montefiore revela o mundo secreto de poder ilimitado e a implacável construção de um império fervilhante, repleto de conspirações palacianas, rivalidades familiares, excessos sexuais e extravagâncias selvagens (um Game of Thrones da vida real). Um palco composto de um elenco de aventureiros, cortesãos, revolucionários e poetas: de Ivan, O terrível, a Tolstói; da Rainha Vitória a Lênin. Escrito com uma verve literária admirável e baseado em recente pesquisa, Os Románov é ao mesmo tempo uma história de triunfo e tragédia, amor e morte, um estudo universal do poder e um retrato essencial do império que ainda define a Rússia de hoje.