Geovani Martins: guarde este nome

02/03/2018

Foto: Chico Cerchiaro

O escritor carioca Geovani Martins, de 26 anos, lança hoje (2) o seu primeiro livro pela Companhia das Letras. Reunindo 13 contos inéditos, O sol na cabeça retrata com um realismo impactante e crueza a vida dos jovens de comunidades do país, sem perder o foco na ação e com um domínio técnico raro. O escritor nasceu em Bangu, morou na Rocinha e vive atualmente no Vidigal. Seus contos se passam no Rio de Janeiro, mas falam de um Brasil que não se vê e que não sabe de si.

O autor conta que durante dois anos escreveu 12 dos 13 contos que estão no livro. “Trabalhava seis horas por dia, de segunda a sexta em uma máquina de escrever que ganhei da minha mãe. Na virada de 2015 para 2016, após reescrever diversas versões, o livro começou finalmente a ganhar forma”, relata. Geovani buscava criar histórias que dessem vida às várias vozes que, apesar de relacionadas a um mesmo universo, são bem diversas e contrastantes. O processo, no entanto, não foi fácil: “Fazer esse livro foi desesperador. Parei de estudar na oitava série e estava desempregado. Era uma mistura de desespero com falta de perspectiva. O sol na cabeça é todo pautado por essa claustrofobia”.

Revelado pela Flup, a Festa Literária das Periferias, o autor relata também a importância da iniciativa para apurar a própria escrita. “Sempre fui um leitor obcecado. Li quatro vezes Memórias póstumas de Brás Cubas para entender o ritmo, a estrutura do texto, a divisão dos parágrafos, mas foi também muito importante ouvir escritores experientes nos debates promovidos para um público que geralmente não tem acesso aos livros.”

A linguagem, quase falada, torna as histórias ainda mais viscerais e se aproxima do realismo sujo de Rubem Fonseca. Antes mesmo de sair no Brasil, o livro já encontrou entusiastas no exterior e teve os direitos adquiridos por nove países. Nos Estados Unidos, será publicado pela prestigiosa editora Farrar, Straus & Giroux e na França pela Gallimard, igualmente reconhecida por sua tradição literária. No Reino Unido, a obra será publicada pela Faber & Faber e, na Itália, pela Mondadori. Na Espanha, sairá pelo tradicional selo literário Alfaguara, enquanto a edição portuguesa foi fechada com a Companhia das Letras de Portugal. Na Holanda, caberá à editora Atlas Contact o lançamento e, na China, à Penguin Random House. Já na Alemanha, a publicação ficou a cargo da editora Suhrkamp, que adquiriu também os direitos do romance recém-iniciado por Geovani e previsto para 2020.

“Geovani Martins tem talento e sensibilidade extraordinários que lhe conferem versatilidade para diferentes tipos de narrativas, desde as mais minimalistas e intimistas, como em ‘O caso da borboleta’ e a perfeita ‘Espiral de ilusão’, até aquelas que podem ser lidas como um roteiro do Tarantino, é o caso de ‘A história do periquito e do macaco’ e ‘Travessia’.”, escreveu o editor alemão Frank Wegner em seu parecer sobre o livro. “Da nova safra de autores brasileiros, ele é o mais interessante que tive a oportunidade de ler em muito, mas muito tempo. Geovani reúne todas as qualidades que se pode esperar: o talento que utiliza para expor a vida no Brasil dos dias de hoje – nas favelas do Rio, mas não só – diante dos nossos olhos de um jeito fascinante, cheio de personalidade e imaginação.”, acrescentou o editor alemão. 

Os elogios no exterior foram unânimes. Para Pilar Reyes e Pilar Álvarez, editoras da Alfaguara Espanha, O sol na cabeça é um livro “emocionante, cheio de vida e altamente sugestivo”. Clara Capitão, da Companhia das Letras em Portugal, afirmou que o autor reúne o ritmo contemporâneo e a agilidade narrativa de Irvine Welsh ao realismo tradicional de Jorge Amado na maneira de contar histórias.

Por aqui, o jovem escritor chamou a atenção de Chico Buarque, que declarou após a leitura: “Fiquei chapado”. O documentarista João Moreira Salles foi além e não poupou elogios ao auspicioso autor: “Geovani pula da oralidade mais rasgada para o português canônico como quem respira. Uma nova língua brasileira chega à literatura com força inédita”. Os direitos de adaptação para o cinema foram adquiridos pelo produtor Rodrigo Teixeira, que planeja um longa-metragem com direção de Karim Aïnouz.

Entusiasmo é uma palavra recorrente do editor Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras, para falar da originalidade do texto que recebeu em mãos. “Encontrar um escritor como Geovani Martins é uma das grandes emoções da minha vida. Estive com ele pela primeira vez no final do ano passado, ouvi sua história depois de ler seus contos, em um dia memorável da minha carreira de editor. O conto sempre foi um gênero próximo de mim, de forma que reconheci a força de O sol na cabeça a cada palavra, nas entrelinhas e a cada ponto final”, conta Schwarcz.   

Apresentado pelo cronista Antonio Prata ao editor Ricardo Teperman na Flip de 2017, Geovani cria suas histórias com uma clara inspiração em sua autobiografia, e a força de sua narrativa está associada ao lugar social e geográfico de onde o autor vê o mundo. No entanto, como escreve Prata no texto de apresentação do livro, “Geovani Martins é um escritor, ponto” e, ao escrever sobre determinado assunto, “o faz com o talento e a sensibilidade de um narrador habilidoso, pouco importando sua origem”.

Confira mais comentários sobre O sol na cabeça: 

Farrar, Straus and Giroux (EUA) – Eric Chinski e Laird Gallagher
“Nossos dois editores reconheceram a força literária do texto, o domínio dos diversos registros nos diálogos e a rica evocação da vida nas favelas, sem recair nos clichês. Eles ficaram também impressionados com o tratamento poderoso e, ao mesmo tempo, sutil dado a temas como racismo, violência e pobreza – assuntos que, embora enraizados na realidade do Rio de Janeiro, terão um profundo impacto entre os leitores americanos.” 

Suhrkamp (Alemanha) – Frank Wegner
“Geovani Martins tem talento e sensibilidade extraordinários que lhe conferem versatilidade para criar diferentes tipos de narrativas, desde as mais minimalistas e intimistas, como em ‘O “caso da borboleta”’ e a perfeita ‘Espiral de ilusão’, até aquelas que podem ser lidas como um roteiro do Tarantino (caso de ‘A história do periquito e do macaco’ e ‘Travessia’). Na sequência, deparamos com contos fascinantes e de uma beleza sensível, como ‘Roleta russa’, ‘O cego’ e, especialmente, ‘O mistério da vila’ – uma obra-prima a meu ver. Há ainda os contos de aventura, como ‘A viagem’ e ‘Estação Padre Miguel’, que me fazem lembrar a escritora chinesa Sanmao. Em todas as narrativas, Geovani Martins demonstra o domínio vigoroso e sutil da linguagem, repleta de nuances, deslocamentos precisos no tempo, reviravoltas que só aparecem quando analisamos o texto, mas não enquanto apreciamos a leitura tal qual um copo de água pura e cristalina. Da nova safra de autores brasileiros, ele é o mais interessante que tive a oportunidade de ler em muito, mas muito tempo, sem exagero. Geovani reúne todas as qualidades que se pode esperar de um autor: o talento que utiliza para expor a vida no Brasil dos dias de hoje – nas favelas do Rio, mas não só – diante dos nossos olhos de um jeito fascinante, cheio de personalidade e imaginação. Ele sabe como criar a partir do nada um ambiente de tensão e explorá-lo de acordo com a sua vontade, e sabe também como resolver uma situação de modo que os leitores entendam tudo e saibam nada. Ele consegue simular a voz de praticamente qualquer pessoa com quem tenha convivido. E sabe como começar e terminar uma história, assim como consegue escolher assuntos e depois deixá-los de lado ou dar um rumo totalmente inesperado para eles.”

Mondadori (Itália) - Serena Bellinello
“Ao ler os contos de Geovani, ficou evidente que o local que ele descreve lhe é realmente muito familiar. Um lugar onde a escassez, o medo e a violência encontram um jeito para coexistir com o amor e a amizade e não é possível deter a energia vital. A injustiça é o que move esse sistema, na mesma proporção que o sentimento humano. E é justamente essa experiência que os leitores se deparam na escrita de Geovani.”

Alfaguara (Espanha) – Pilar Reyes e Pilar Álvarez            
“Emocionante, cheio de vida e altamente sugestivo.”

Companhia das Letras (Portugal) – Clara Capitão
“Uma bela, emocionante e incomum coleção de contos; uma rara combinação de ritmo cinematográfico acelerado e contemporâneo (à la Irvine Welsh) com a tradição realista de contar histórias (Jorge Amado em Capitães da areia).”

Folha de S. Paulo – Roberto Taddei
"O sol na cabeça revela um autor capaz de olhar o mundo com liberdade, sem raiva ou ressentimento, mesmo tratando de personagens vítimas de segregação racial. E o faz no melhor da tradição do realismo literário.
[...] Eis aí a pequena maravilha desse livro: enfraquecer o privilégio dos grupos dominantes na batalha pela representação do que é o humano na literatura brasileira." 

O Estado de S. Paulo – Ubiratan Brasil
"Para Geovani, a experiência é uma característica irredutível da vida, e não há experiência mais intensa do que a arte."

Veja – Jerônimo Teixeira
"No retrato desse universo juvenil, Geovani Martins esbanja maturidade na técnica literária. Sabe suspender o conto no momento crucial, antes que uma palavra a mais desfaça a tensão. [...] Versátil, passeia tanto pela linguagem padrão - ainda que pontuada por gírias - quanto pelo inventivo registro da fala urbana carioca. [...] Um livro potente como O sol na cabeça faz o leitor ver como pode ser próximo o que ele julgava distante, e vice-versa."

 

Geovani Martins lança O sol na cabeça em São Paulo no dia 19 de março em uma conversa com Antonio Prata. O evento acontece às 19h no Teatro Eva Herz na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. As senhas para o encontro serão distribuídas às 18h em frente ao tearo. 

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