Elas por elas: Carol Bensimon

08/03/2018

Por João Lourenço

Foto: Renato Parada

Para celebrar a semana do Dia Internacional da Mulher, conversamos com quatro escritoras da Companhia das Letras sobre o papel da mulher na ficção. Além de compartilhar suas descobertas mais recentes, elas também falam sobre mulheres inspiradoras que influenciaram seu trabalho. 

Hoje, confira o papo com Carol Bensimon, autora de O clube dos jardineiros de fumaça

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Na década de 1970, Joyce Carol Oates disse em entrevista à Paris Review que existem algumas desvantagens para mulheres na ficção. Ela disse, por exemplo, que pelo simples fato de ser mulher ela não é levada a serio pelos críticos do sexo oposto. Para você, a afirmação de Oates permanece verdadeira? Quais as vantagens e desvantagens em ser uma escritora de ficção? 

As coisas estão melhorando, mas não posso dizer que mulheres escritoras são levadas tão a sério quanto seus colegas homens. No entanto, é o tipo de coisa velada e difícil de medir. As vantagens e desvantagens de ser uma escritora de ficção? Assim, no geral? As vantagens basicamente relacionam-se com o fato de que é algo que se encaixa com meu temperamento e com o tipo de vida que quero ter (e, se formos pensar em estereótipos de gênero, o próprio fato de uma mulher tornar-se escritora é um ato bastante político). As desvantagens? Não se ganha muito dinheiro.

 

Qual sua personagem fictícia favorita? 

Pensei bastante nisso, mas acho que não tenho personagens favoritos.

 

Se você tivesse que escolher um livro para figurar em todas as bibliotecas da rede pública, qual seria? 

Morangos mofados, do Caio Fernando Abreu.

 

Durante sua formação, qual escritora mais te impactou? Você recomenda algum livro especifico da autora? 

Acho que demorei a ter contato com a obra de escritoras mulheres, porque realmente não era a coisa “óbvia” a se ler. A primeira escritora que me fascinou, pelo estilo absolutamente único da prosa, foi a escocesa Ali Smith. Quando li Por acaso e Garota encontra garoto, a mistura de sensibilidade com sarcasmo corrosivo me deixou empolgada e certa de que uma mulher podia escrever qualquer coisa que bem entendesse.

 

Qual foi a sua última grande descoberta literária? 

No último ano, Lucia Berlin e Elvira Vigna. Já tinha lido Elvira antes, mas Como se estivéssemos em palimpsesto de putas superou até minha já alta expectativa.

 

Literatura feminina. Às vezes, esse termo soa excludente, ruim, quase como um subnível de literatura. Além das razões comerciais, você acredita que essa divisão em gêneros ainda é importante? 

Não tenho certeza. Depende muito. Às vezes pode funcionar como uma política de afirmação identitária. Outras vezes, parece haver algo de muito depreciativo no termo. Uma espécie de exclusão que se dá pela criação de uma categoria à parte, afastada da “literatura de verdade”.

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João Lourenço é editor at large da revista semestral *ffwMAG* e escreve sobre cinema, literatura, música e comportamento para publicações como Harper’s BazaarABD Conceitual. Atualmente, ele planeja lançar uma revista literária independente nos EUA e está terminando de escrever uma coletânea de contos.

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