
Amor no gelo: romances de hóquei que vão derreter seu coração
Paixões intensas, atletas irresistíveis e muito drama no gelo: venha se apaixonar no rinque.
A Escreva Em Casa é uma série com oficinas online ministradas por escritores do catálogo da Companhia das Letras. Inicialmente, faremos quatro vídeos temáticos com diferentes gêneros: poesia, conto, cordel e romance. Estreando a série, Marília Garcia fala sobre as vozes do poema e propõe a escrita de um poema que descentralize o “eu”. Assista ao vídeo completo aqui. Durante a oficina, a poeta lê alguns poemas e os trechos lidos podem ser consultados abaixo:
A mulher de Lot
Wislawa Szymborska
Poema presente no livro Poemas, com tradução de Regina Przybycien:
Dizem que olhei para trás curiosa.
Mas quem sabe eu também tinha outras razões.
Olhei para trás de pena pela tigela de prata.
Por distração – amarrando a tira da sandália.
Para não olhar mais para a nuca virtuosa
do meu marido Lot.
Pela súbita certeza de que se eu morresse
ele nem diminuiria o passo.
Pela desobediência dos mansos.
Alerta à perseguição.
Afetada pelo silêncio, na esperança de Deus ter mudado de ideia.
Nossas duas filhas já sumiam para lá do cimo do morro.
Senti em mim a velhice. O afastamento.
A futilidade da errância. Sonolência.
Olhei para trás enquanto punha a trouxa no chão.
Olhei para trás por receio de onde pisar.
No meu caminho surgiram serpentes,
aranhas, ratos silvestres e filhotes de abutres.
Já não eram bons nem maus –simplesmente tudo o que vivia
serpenteava ou pulava em pânico consorte.
Olhei para trás de solidão.
De vergonha de fugir às escondidas.
De vontade de gritar, de voltar.
Ou foi só quando um vento me bateu,
despenteou o meu cabelo e levantou meu vestido.
Tive a impressão de que me viam dos muros de Sodoma
e caíam na risada, uma vez, outra vez.
Olhei para trás de raiva.
Para me saciar de sua enorme ruína.
Olhei para trás por todas as razões mencionadas acima.
Olhei para trás sem querer.Foi somente uma rocha que virou, roncando sob meus pés.
Foi uma fenda que de súbito me podou o passo.
Na beira trotava um hamster apoiado nas duas patas.
E foi então que ambos olhamos para trás.
Não, não. Eu continuava correndo,
me arrastava e levantava,
enquanto a escuridão não caiu do céu
e com ela o cascalho ardente e as aves mortas.
Sem poder respirar, rodopiei várias vezes.
Se alguém me visse, por certo acharia que eu dançava.
É concebível que meus olhos estivessem abertos.
É possível que ao cair meu rosto fitasse a cidade.
Um boi vê os homens
Carlos Drummond de Andrade
Poema presente no livro Claro enigma.
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos – e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias.
Têm, talvez, certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.
Uma baleia vê os homens
Antonio Tabucchi
Trecho retirado do livro A mulher de Porto Pim.
Sempre tão afobados e com longos membros que agitam com frequência. E são tão pouco redondos, sem a majestade das formas plenas e acabadas, e com uma pequena cabeça móvel na qual parece se concentrar toda a sua estranha vida. Chegam deslizando sobre o mar mas não a nado, quase fossem pássaros e dão a morte com fragilidade e amável ferócia. Ficam muito tempo em silêncio, mas depois, com fúria repentina, gritam entre eles, num emaranhado de sons que quase não varia e ao qual falta a perfeição dos nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto. E como deve ser penosa a sua forma de amar: e rude, quase brusca, imediata, sem uma fofa manta de gordura, favorecida pela natureza filiforme deles que não pressupõe a heroica dificuldade da união, nem os magníficos e ternos esforços para consegui-la.
Não gostam da água, receiam-na, e não se entende por que a frequentam. Eles também andam em bandos, mas não levam fêmeas, e se imagina que elas fiquem em outro lugar, mas sempre visíveis. Às vezes cantam, mas só para si, e o canto deles não é um chamamento mas uma forma de lamento comovente. Cansam-se depressa e quando a noite cai deitam-se sobre as pequenas ilhas que os conduzem e talvez durmam ou olhem a lua. Deslizam em silêncio e percebe-se que estão tristes.
Quadrilha
Carlos Drummond de Andrade
Poema presente no livro Alguma poesia.
"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história."
Os três mal amados
trecho de João Cabral de Melo Neto
Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
Paixões intensas, atletas irresistíveis e muito drama no gelo: venha se apaixonar no rinque.
Entre gravações e coraçõezinhos no Orkut, um romance nostálgico entre uma nerd apaixonada por cinema e a garota mais popular da escola. , Marília descobre que o amor pode estar fora do roteiro.
Javier A. Contreras reflete sobre o título do seu novo romance e a violência do Brasil cordial