“Fica a imagem de um homem apaixonado pela vida, pela arte e pelas pessoas. E dá vontade de reagir como a plateia do Programa do Jô (Globo), que soltava um ‘aaaaahhhh’ quando não queria que o entrevistado fosse embora”, escreveu Tony Goes, em 2018, sobre a autobiografia de Jô. Hoje, sua declaração representa o sentimento de saudade e pesar dos brasileiros.
A Companhia das Letras lamenta profundamente a morte de seu autor e amigo Jô Soares. José Eugênio (Jô) Soares nasceu no Rio de Janeiro em 1938. Comediante, humorista, dramaturgo e romancista, foi também um dos mais importantes entrevistadores da televisão brasileira.
Em seus sessenta anos de carreira, representou mais de duzentos personagens humorísticos e criou dezenas de bordões que entraram para o repertório oficial do Brasil. Durante seus 28 anos de talk show, fez mais de 14 mil entrevistas. Apresentou oito espetáculos solos em longas temporadas, dirigiu 24 peças de teatro e fez dez peças como ator.
Escreveu oito livros que já venderam centenas de milhares de exemplares no mercado brasileiro, tendo sido traduzidos em vários países, entre eles Estados Unidos, França, Itália, Japão e Argentina. Consagrou-se escrevendo romances policiais, como o "Xangô de Baker Street" e "O homem que matou Getúlio Vargas". Além do mistério, característico do gênero, suas tramas traziam um humor sutil e diversos personagens e elementos da nossa cultura.
Recentemente, entre 2017 e 2018, também publicou os dois volumes de sua "Autobiografia Desautorizada: O livro de Jô", escrita em parceria com Matinas Suzuki Jr. Nela, narra com humor os bastidores dos episódios que nesses 84 anos fizeram dele um dos maiores artistas brasileiros.
“Multipliquem esses números pela quantidade de profissionais que trabalharam comigo ao longo desses anos. Impossível lembrar de tudo e de todos. A única certeza é que eu não teria feito nada disso sozinho. Eu sou o conjunto dessas pessoas — e felizmente sou gordo o bastante pra que todas caibam no meu corpinho", escreveu Jô no segundo volume de “O livro de Jô”, obra em que compartilha suas memórias.
A editora se solidariza com seus leitores, fãs e amigos.
Viva Jô, viva o gordo!
Abaixo, saiba mais sobre as obras de Jô:
O homem que matou Getúlio Vargas (1998)
Biografia de um anarquista fictício que, entre 1914 e 1954, percorre várias partes do mundo para cumprir uma gloriosa e desastrada missão: matar tiranos. Romance em que até a História (a verdadeira) parece coisa de humorista.
Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (2005)
Tudo parece bem no Rio de Janeiro da década de 1920 - menos para os imortais da Academia Brasileira de Letras, que começam a tombar mortos, um depois do outro. O comissário Machado Machado está obstinado em provar que os crimes não são mera coincidência, mas obra de um assassino. Neste romance, Jô Soares (e o leitor) revisita uma deliciosa época da então capital do país e seus tipos exóticos e burlescos.
As esganadas (2011)
Rio, 1938. Um perigoso assassino está à solta nas ruas. Seu alvo: mulheres jovens, bonitas e... gordas. Sua arma: irresistíveis doces portugueses. Ele mata sem piedade suas vítimas, e depois expõe seus cadáveres acintosamente, escarnecendo das autoridades. Com a verve que lhe é característica, Jô consegue realizar a façanha de narrar uma série de crimes brutais, com requintes inimagináveis de crueldade, e deixar o leitor com um sorriso satisfeito nos lábios.
O xangô de Baker Street (2011)
Neste livro hilariante, Jô Soares alia uma rigorosa pesquisa histórica sobre a vida no Rio de Janeiro do Segundo Reinado à sua inventividade sem fronteiras. Romance "cômico-policial", "O xangô de Baker Street" constitui uma engraçada mistura de cenário muito preciso do passado - a capital do país por ocasião da primeira visita da legendária atriz francesa Sarah Bernhardt -, figuras conhecidas da história política e cultural do país - como Olavo Bilac, Chiquinha Gonzaga, Paula Nei, d. Pedro II -, e personagens de ficção - Sherlock Holmes e o indefectível dr. Watson, importados para desvendar o desaparecimento inconveniente de um violino Stradivarius que deixara o imperador em sérios apuros.
O livro de Jô - Volume 1 (2017)
Com verve mais afiada do que nunca, Jô Soares compartilha sua trajetória de astro midiático num livro de memórias escrito para fazer rir, chorar e, sobretudo, não esquecer. O primeiro volume resgata fatos, lugares e pessoas marcantes da juventude de Jô e reconstitui seus primeiros passos no mundo dos espetáculos, nas décadas de 1950 e 1960. Entre a infância dourada no Copacabana Palace e a dura conquista do estrelato, acompanhamos o autor do nascimento aos trinta anos.
O livro de Jô - Volume 2 (2018)
No volume 2 desta autobiografia desautorizada, revela como chegou a distribuir hóstias ao lado de Dom Hélder Câmara, sua vida de motoqueiro encerrada com dois acidentes, o processo que sofreu durante o período da presidência do general Emílio Garrastazu Médici (e como foi absolvido com um testemunho do poeta Carlos Drummond de Andrade), a saída para o SBT no auge do sucesso na Globo, os casamentos, a perda do filho Rafael, além de sua admiração profunda por figuras – gordas – como Orson Welles e Winston Churchill. Mas, mais do que tudo, o leitor se deliciará novamente com as histórias dele e dos outros, contadas com o melhor da verve de Jô Soares.