Especial Dia da Consciência Negra - Os Tesouros de Monifa

12/11/2013
Já pensou ganhar de presente escritos antigos de sua tataravó? Imagem: Os tesouros de Monifa, de Sonia Rosa (texto) e Rosinha (ilustrações) "Os Tesouros de Monifa" fala do encontro de uma brasileirinha afrodescendente com sua tataravó, Monifa, que chegou do outro lado do oceano, em um navio negreiro. Mesmo escrava, aprendeu a escrever e, por meio das letras que aprendeu, deixou para os "filhos e filhos dos filhos" o maior de todos os tesouros que alguém pode herdar. Passado de geração em geração, chega o dia desse tesouro ir para as mãos da garotinha, que se encanta e emociona muito ao receber tamanha preciosidade e, com ela, descobrir suas próprias raízes. Essa é primeira história do nosso especial Dia da Consciência Negra. Nesta semana, traremos aqui uma seleção de livros temáticos, além de entrevistas com autores e ilustradores, e sugestões para o professor que quiser trabalhar o tema em sala de aula. Sabemos que a literatura é uma forma de fortalecer identidades e ampliar conhecimentos. E isso, portanto, também é nosso papel. Escrito por Sonia Rosa e ilustrado por Rosinha, "Os Tesouros de Monifa" contribui muito nesse sentido, além de mostrar o encontro de gerações e abordar as relações entre os familiares. Para a ilustradora, que acredita ser importante colocar em foco reflexões sobre minorias, "livros com histórias positivas, que reafirmam a importância e a riqueza dos nossos ancestrais e da nossa cultura fortalecem a identidade das crianças e jovens", disse em entrevista para o Blog da Brinque. Concluiu, ainda, que em casa ou na sala de aula, ela gostaria que o livro ampliasse o olhar estético e os valores das crianças, e que assim elas entendessem o colorido que existe em nossa sociedade. "Gosto muito de criar personagens coloridos. Verde, rosa, azul, lilás, vermelho, rosa, amarelo. É assim que eu vejo a sociedade brasileira, com inúmeros e infinitos tons de pele. Gostaria que o livro fosse passado de forma que a criança conhecesse seus ancestrais e então pudesse compreender e valorizar quem ela é, e aprender a conviver e respeitar o diferente", disse Rosinha.

"Gostaria que o livro fosse passado de forma que a criança conhecesse seus ancestrais e então pudesse compreender e valorizar quem ela é", nos conta Rosinha, a ilustradora. Imagem:Os tesouros de Monifa, de Sonia Rosa (texto) e Rosinha (ilustrações)

A conversa continuou com a autora do livro, Sonia Rosa, que nos concedeu a entrevista que você lê a seguir. Brinque-Book: De que forma "Os Tesouros de Monifa" pode reforçar a identidade cultural de crianças e jovens afrodescendentes?  Sonia Rosa: O meu livro contribui para o fortalecimento da nossa identidade afro-brasileira porque a história ali contada amplia o conhecimento sobre esta temática. Trata-se de uma escrava sensível e inteligente que acreditou na força das palavras, e por isso escreveu uma carta para que sua geração futura tomasse ciência da sua forma de viver naqueles tempos sofridos e longínquos. Um escrava que tinha esperança por dias melhores, apesar da indignação, da desumanidade e dos horrores da escravidão. A criança leitora dessa minha obra encontra ali a possibilidade de Monifa ser sua tataravó, independente da cor de pele. Uma avó muito amorosa que deixou está marca para toda uma geração, uma nação. Para você, qual a importância dessa data, o Dia da Consciência Negra? A data reforça a alegria de representar uma história. Uma história de luta, dor, injustiça e conquistas. Precisamos estudar, celebrar e não esquecer da importância das relações étnico-raciais dentro da nossa sociedade como um todo - na escola, na família e no trabalho. A data é uma conquista interessante e legítima. É preciso que o sentimento dessa consciência se propague por todos os outros 364 dias.

Relações familiares e de afeto também são pano de fundo desta obra. Imagem: Os tesouros deMonifa, de Sonia Rosa (texto) e Rosinha (ilustrações)

Qual a sua opinião sobre a lei 10.639/2003, que instituiu a obrigatoriedade da discussão e questões afro-brasileiras e africanas nas escolas de todo o País? Penso que não precisaria ter uma lei para que estas questões visitassem as salas de aulas brasileiras. Mas foi extremamente necessário para que, de fato, essa temática fosse vista, revista, estudada, compreendida e acolhida em nossas escolas. O estudo e o conhecimento desenvolve nosso senso crítico, nossa humanidade. Por conta dessa lei, tivemos uma repercussão positiva no nosso mercador editorial, tanto na produção de livros técnicos para fundamentar o professor, como de livros de literatura voltados para jovens leitores. O bom resultado disso é que hoje, felizmente, encontramos livros infantis com textos e imagens respeitosas que contemplam as crianças brasileiras de todos tons de pele - uma conquista realmente muito boa! A literatura é sempre um bom começo de conversa. Ao imaginar essa história sendo contada e trabalhada em sala de aula, o que você gostaria de ver e ouvir? Como você gostaria que ela fosse passada às crianças? Gostaria que as crianças se sentissem tocadas pela história. Que os professores lessem para elas e começassem a conversar sobre o teor do texto. E gostaria também que as crianças pensassem nas suas próprias família: mãe, avó, tios e irmãos. Que, com isso, pudessem perceber e pesquisar as próprias histórias familiares, viajando pelo “túnel do tempo” e chegando a uma outra época, onde elas encontrassem o mundo da Monifa e tudo o que ele significava para essa personagem. Neste aspecto, pode ser muito rico para a turma a vivência de uma outra forma de pensar, vestir, comer e viver. O professor poderá trabalhar a poesia. E a poesia é de muito agrado das crianças, diz muito em poucas palavras, é boa demais! Viver, fazer e brincar com as palavras através da poesia seria uma sugestão. Assim como também sugiro fazer uma carta resposta para Monifa. Para os pequenos pode ser uma carta coletiva. Outra sugestão é dramatizar a história. Enfim, são muitas as possibilidades de trabalho criativo e sensível com o texto literário. São ampliações das ideias ali contidas que o professor poderá usufruir com imaginação (sua e dos alunos) para que a leitura alimente de fato as ideias de todos envolvidos. Por fim, a minha maior alegria é saber que muitos de meus leitores encontrarão dentro dessa minha história a possibilidade de Monifa realmente ser a sua tatataravózinha linda, querida, sensível e amorosa. Vou contar um segredo: eu acho mesmo que ela era a minha avó! Obrigada, Sonia, pelas palavras inspiradoras. 
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