Reflexão sobre a questão das diferenças de uma forma bem-humorada

13/11/2013

No segundo post do nosso Especial Dia da Consciência Negra, trazemos aqui uma conversa com a autora e artista plástica francesa Maté, que vive no Brasil desde 1979, e duas sugestões de leitura: "Krokô e Galinhola" (altamente recomendável pela FNLIJ) e "Galinhola e o Monstro Escamoso".

Relacionados com contos ou fábulas africanas, além de animais, amizade e aventura, esse são ótimos títulos para trabalhar a temática em casa ou sala de aula. "Acho o dia 20 de novembro um marco simbólico importante para uma questão que deveria ser trabalhada diariamente. O ideal seria que fosse um dia de confraternização através das mais diversas manifestações artísticas afro-brasileiras", diz a autora ao blog da Brinque-Book.

Leia a seguir a entrevista completa, e conheça assim a história desses dois livros.

Brinque-Book: "Krokô e Galinhola" e "Galinhola e o Monstro Escamoso" contribuem muito nesse papel que a literatura tem de fortalecer identidades e ampliar conhecimentos. O que pensa sobre isso?

Maté: Para lutar contra a discriminação, é fundamental valorizar a herança africana que é parte integrante da cultura brasileira. Como o preconceito nasce muitas vezes do medo do que é diferente ou desconhecido, procuro estimular a reflexão sobre a questão das diferenças de uma forma bem-humorada.

Capa Kroko e Galinhola.indd

E o que os pequenos leitores podem descobrir nessas leituras? Lendo “Krokô e Galinhola”, baseado num conto tradicional africano, o pequeno leitor vai descobrir que até o grande crocodilo mal-encarado precisa respeitar a galinha-d'angola - já que, apesar de tantas diferenças, os dois são mesmo parentes. Em toda África a família é sagrada, é a base da sociedade. Gostaria que a leitura do meu livro levasse à seguinte reflexão: da mesma forma que as espécies animais estão interligadas pelos laços da evolução, a família humana também é uma só. A ciência já demonstrou que não existem raças diferentes, somente adaptações a ambientes diferentes. A arte africana também está muito presente nessa obra... Sim, para contextualizar a história de “Krokô e Galinhola”, ritmada pelas águas do rio Luvironza, inseri na paisagem motivos dos bordados tradicionais do povo Kuba. Acho importante divulgar a beleza da arte africana, presente em tantos museus pelo mundo afora, mas ainda pouco conhecida no Brasil. Porque a arte africana, com sua beleza e sofisticação, é um motivo de orgulho não só para os afrodescendentes, mas para toda a humanidade. Galinhola e _a6fb59428cdb9466e5cde224eef59e62

Da mesma forma, natureza, beleza e aparência estão presentes em "Galinhola e o Monstro Escamoso". Por quê?

Mais uma vez, a natureza é para mim uma grande fonte de inspiração e de reflexão. Em “Galinhola e o Monstro Escamoso”, apresento um animal muito raro e estranho da savana africana: o pangolim. Tudo o que é diferente e desconhecido assusta, mas com a Galinhola o pequeno leitor vai descobrindo que as aparências enganam. O terrível monstro escamoso é, na verdade, um bicho pacato, muito útil e amistoso. Nada como uma conversa franca para vencer o medo e as ideias preconcebidas de Galinhola e fazer nascer uma bela amizade.

***

Maté, pensando em como apresentar essas histórias às crianças, acredita que os dois livros se prestam à teatralização. "As ilustrações são bastante ricas em detalhes e permitem fazer um bom exercício de leitura visual", diz a autora, indicando as fichas pedagógicas, elaboradas pela Alba Regina Spinardi, como ótimos modelos a serem trabalhados na sala de aula. Clique nas imagens de cada livro abaixo para visualizá-las em PDF e imprimir.

Ah, se quiser mais sobre o trabalho de Maté (como autora ou ilustradora), clique aqui para ver os livros publicados pela Brinque-Book, incluindo uma boa lista de lendas indígenas escritas por Daniel Munduruku. E se tiver alguma dica ou história para contar sobre esses livros, deixe aqui um comentário, para que outros pais e professores também possam se inspirar.

Até o próximo post da série, com "Escola de Chuva" e "Chuva de Manga", de James Rumford.

Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog