Contar histórias: um convite à imaginação

31/01/2014
Ouvir histórias é maravilhoso! Para falar sobre isso, convidamos a atriz e contadora, Marina Bastos, para um bate-papo. A entrevista segue abaixo, mas antes, se você mora em São Paulo, saiba que ela estará a partir de amanhã (dia 1 de fevereiro) até o dia 22, no Sesc Vila Mariana. Sempre aos sábados, às 15h30, num convite à imaginação. Brinque-Book: Há quanto tempo conta histórias e como se interessou por isso? Marina Bastos: Eu conto histórias profissionalmente há sete anos. Sou atriz e comecei pelo caminho do teatro, contando histórias em eventos. Fui me apaixonando pelo ofício do contador de histórias e procurei me especializar fazendo vários cursos. E até hoje procuro aprender com outros profissionais. Acredito que não precisa ser ator ou contador de histórias para se contar bem uma história. Mas é necessário gostar muito da história e estudar como contá-la. E penso que lugar de história é agora! Podemos levar as histórias para todos os lugares! Eu conto histórias em livrarias, escolas, bibliotecas, empresas, aniversários e até casamentos! Mas minha história com a contação de histórias começou antes mesmo de eu me dar conta disso. Começou quando eu aprendi a ler. Tive a sorte de vir de uma família de leitores e acredito que quando a criança vê os pais lendo, esse momento é mágico e incentiva o gosto da criança pela leitura. Minhas avós e meus pais sempre leram muito e eu tive a alegria de ter acesso a muitos livros e gibis. Quando criança, eu era “ratinha” da biblioteca da escola. Lia muito! Até bula de remédio e dicionários! E por isso aprendi a ler rápido. Quando criança, você gostava de brincar de contar histórias? No natal, reunia os primos e distribuía os personagens. Contávamos histórias em formato de teatro, música, mágica e também como narração de histórias. Mas era tudo uma deliciosa brincadeira, sem ter a pretensão de ser um espetáculo e sem ter noção que aquilo já era, de alguma forma, uma contação de histórias. Mas houve um período que eu me afastei dos livros e perdi o interesse pela leitura. Foi na época em os livros viraram obrigatórios na escola e nós não podíamos escolher o que ler. Logo depois veio o vestibular e os livros da lista não eram os que me interessavam e não li quase nada. Sorte que nesta época, comecei a fazer teatro e o teatro exige muita leitura. Então aos poucos o amor pelos livros voltou e com o habito da leitura, comecei a escrever textos mais interessantes. Cheguei a ter um blog no Uol que foi indicado entre os 10 Melhores blogs do mês por duas vezes. Atualmente não tenho mais o blog, mas continuo escrevendo histórias infantis para escolas e eventos e também roteiros para empresas e celebração de casamentos. Como você enxerga a contação de história e o que ela estimula nas crianças? As histórias possuem valores fundamentais que proporcionam um encontro com o que há de melhor em cada um de nós. Ouvindo e lendo histórias, a pessoa aprende sobre ela mesma e sobre o mundo. E é convidada a entrar no maravilhoso mundo dos livros. Esse efeito mágico acontece com crianças de todas as idades, até com as vovós e vovôs, e é por isso que acredito que ler e contar histórias para alguém é um ato de amor. Para você, ouvir ou ler uma história é uma experiência parecida? Acho que são experiências que se completam. Ouvir uma história é uma experiência mais imaginativa, pois não há ilustrações e nem tempo para voltar e reler o parágrafo. Quem cria as imagens conforme o contador vai contando. E costuma ser uma experiência coletiva. Ou seja, a história é criada em conjunto: o tom de voz e maneira de contar do contador com as interações e entendimentos de quem ouve. Já a leitura é uma experiência individual, com mais foco e tempo para que o leitor crie suas imagens. E ele pode aproveitar as ilustrações e a textura do livro. Pode levar o livro para passear e ler várias vezes. No caso de pais que leem para crianças, acho que temos um bom exemplo da junção das duas experiências, somado com o lado afetivo. Talvez por isso, seja uma atitude que gera tantos frutos e incentiva efetivamente a formação de leitores. O que faz uma história contada ser especial? Acredito que quando uma história fala ao coração do leitor ou espectador, ele se identifica e essa história se torna especial pra ele. Uma mesma história terá imagens e significados diferentes para cada pessoa. Alguma dica para mães e pais que acham que não são muito bons nisso? Quando eu era criança bem pequena, não gostava de comer. Só comia macarrão e quiabo. Minha mãe inventou uma técnica para eu passar mais tempo na mesa e me interessar pela comida. Na mesa da cozinha havia uma bandeja com vários personagens desenhados. Era uma bandeja francesa que ela ganhou de presente de casamento. Todos os dias ela inventava uma história com os personagens da bandeja e assim me dava vontade de ficar ali, ouvindo a história e acabava comendo. O problema é que eu pedia para ela repetir a mesma história e ela nunca lembrava o que tinha contado no dia anterior [risos]. Acredito que este ritual de ouvir histórias antes de aprender a ler, me incentivou a gostar de ler para poder fazer o mesmo. Minha mãe não é atriz, nem escritora. Não usava adereços, instrumentos, nada! Usava a imaginação e o tempo dela. E era um momento muito especial entre a gente. Então, eu sempre digo para os pais e professores que me participam dos meus cursos de formação, que o contador de histórias está dentro de cada um, com os recursos que você já tem. E que cada história que for contada é um ato de amor. Como você escolhe os livros para trabalhar? O que analisa em cada história, narrativa ou potencial visual, imaginativo? Gosto de narrativas curtas e divertidas, com personagens fora do comum que nos ensinam algo sem dar lições de moral. Geralmente animais que fazem coisas incríveis. Como, por exemplo “O Lobo Sentimental” que não come os três porquinhos e nem a Chapeuzinho porque é muito sentimental. Ou “A Pequena tartaruga verde” que gostaria de ser como os outros animais, mas percebe que em dias de chuva só ela não precisa correr, pois já está dentro de casa.   Também gosto muito quando consigo encaixar musicalidade na história. Eu leio muitas histórias e gosto muito de música. Vou muita a livrarias e tem dias que chego a ler 10 livros infantis para pesquisa. Pesquiso por temas ou escolho pelo sentimento. Vejo a capa, se algo me chamar atenção, leio, releio e penso se aquela história está pedindo para ser contada. Às vezes namoro um livro por meses, até anos! E acredito que não somos nós que escolhemos a história, a história nos escolhe. E algumas histórias levam tempo para atingir o coração. Mas quando atingem o coração, você não consegue mais parar de contar aquela história. Pois ela já faz parte de você e você é parte da história. Um exemplo: Um dos meus livros preferidos é o “Bruxa, bruxa, venha a minha festa”. Eu já tinha ouvido falar dele e o vi várias vezes, mas não sabia como contá-lo sem mostrar as ilustrações que são maravilhosas! Então, namorava ele, mas não casava. Até que um dia eu passei num Edital para contar Contos de arrepiar. No projeto inicial eu contaria “Contos de enganar a morte”, que é um livro muito legal do Ricardo Azevedo. Porém, alteraram o público para crianças menores e esse livro é para crianças maiores. Então a dificuldade gerou a oportunidade! Lembrei do “Bruxa, bruxa, venha a minha festa” e criei uma música para contá-lo em formato de conto de repetição. Ficou bem bacana! As crianças gostam muito e as escolas sempre pedem essa história para trabalhar de uma maneira divertida, o medo do desconhecido. Outra história de arrepiar que conto para crianças menores é “O Grúfalo”. As crianças adoram imaginar o monstrinho e ver se o ratinho conseguirá se safar dele. Eu conto essa história com objetos do armário, para brincar com a idéia do medo: o Grufalo é um chapéu, a raposa é um boá, a cobra é um cinto e a coruja é um óculos. Algumas histórias eu conto usando objetos lúdicos, outras eu uso música e instrumentos de percussão. E há outras histórias que só utilizo a palavra e a interação com o público. É o caso do livro “Eu fico feliz, você fica feliz”, de Lorenz Pauli. Um livro lindo para crianças bem pequenas, que fala de amizade e de como compartilhar suas coisas. Quer dizer mais alguma coisa? Aproveite! Adorei participar dessa entrevista! Foi minha primeira entrevista e me deu a oportunidade de refletir sobre o meu processo de trabalho e de como surgiu minha paixão pelos livros e pela contação de histórias. Eu também escrevo histórias e desde criança sonho um dia fazer minhas histórias morarem em livros e serem lidas pelos confins do Brasil. Quem sabe um dia, não volto aqui neste blog para divulgar que o sonho de menina se tornou realidade? [risos]. Desejo aos leitores do blog boas histórias para viver, ler e contar! E que cada vez mais o Brasil se torne um país de leitores. Pois ler e contar histórias é um ato de amor. Muito obrigada pela oportunidade de contar as histórias da Brinque-Book e por contar minha história nesta entrevista. >> Clique aqui para curtir a página da Marina no Facebook e acompanhar suas histórias!
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