O texto abaixo foi publicado originalmente na Revista Emília. Por Denise Guilherme, do Leitura em Rede.
O lenço Autora e ilustradora: Patricia Auerbach Editora: Brinque-Book Ano: 2013 32 páginas
O livro-imagem “O lenço” explora um tema muito presente no universo infantil: o “faz-de-conta” a partir de objetos. Para dar asas à imaginação das crianças, qualquer coisa serve. Nesse caso, um lenço retirado sorrateiramente de uma gaveta, transforma-se em tudo que o que uma menina quer.
Inicialmente, as ilustrações retratam as sensações da criança em uma primeira aproximação ao lenço. Interessa-lhe tocá-lo, cheirá-lo, envolver-se nele. Em seguida, uma ideia – sugerida pela imagem da menina com o indicador levantado (como quem pede a palavra) – anuncia que aquele objeto pode ser mais do que algo que evoca sensações. A partir desse momento, o lenço torna-se também personagem/cenário para todas as experiências imaginadas pela menina, até que um simples detalhe no canto da página – um pé em movimento – evoca a presença de um terceiro personagem. Esse adulto, até então ausente do jogo, é convidado a colocar-se do outro lado do lenço/cortina e, assim como o leitor, a ser plateia nesse delicioso espetáculo de “faz-de-conta”.
As ilustrações de Patrícia Auerbach remetem muito ao trabalho da autora e ilustradora coreana Susy Lee, cujos premiados livros certamente lhe serviram de inspiração. Nos desenhos, os tons de cinza utilizados para retratar a menina e seu entorno ajudam a destacar, ainda mais, o vermelho do lenço, conferindo certo protagonismo ao objeto em sua interação com a criança. Além disso, a escolha da autora em posicionar a criança nos diferentes espaços das páginas atribui movimento às ações da protagonista e abre espaço à imaginação do leitor, permitindo-lhe preencher com suas próprias imagens os grandes vazios.
Dessa forma, somos convidados a sentir, descobrir e participar de cada uma das brincadeiras e cenas inventadas pela personagem a partir dos diferentes usos dados ao objeto. O adulto também poderá entrar nesse jogo, se resgatar a criança que um dia foi e a riqueza que experimentou ao fazer de lenços, lençóis, caixas, garrafas e tantos outros objetos verdadeiros portais para os diferentes mundos da imaginação.
[por Denise Guilherme]