Os contos terapêuticos de Clara Haddad

07/11/2014

Brasileira radicada em Portugal, Clara Haddad está passando pelo Brasil e levando, em sua mala de histórias, uma série de cursos interessantes. Coordenadora da Escola de Narração Itinerante, ela bateu um papo com o Blog da Brinque-Book, como você vê abaixo, em que conta como os livros são importantes para também nos ajudar a lidar com dificuldades.

Brinque-Book: De que forma as histórias podem nos ajudar a enfrentar medos e olhar para demais emoções?

Clara Haddad: Desde os tempos imemoriais as histórias nos ensinam profundas lições sobre nós mesmos e sobre o mundo. Elas nos conectam com os mistérios da vida e às outras pessoas. Seus enredos falam de sentimentos comuns a todos nós, como: amor, ódio, alegria, morte, medo, rejeição ,frustração…. Os contos de fadas, as histórias literárias funcionam como um "manual" para a descoberta desses sentimentos dentro da criança- e até mesmo de adultos. Ao mergulhar com prazer no "faz-de-conta", desenvolvemos nossos sentimentos e aprendemos a lidar com essas sensações que dão vazão às nossas próprias emoções.

Você acredita a leitura compartilhada e a autônoma apresentam esses resultados?

Quando a criança ouve ou lê uma história, ela é capaz de comentar, indagar e construir o significado do texto e entender as imagens para aplicar na própria vida, à sua maneira. Ao narrador, educador e pais cumpre escolher - tendo em vista, principalmente, a qualidade literária. Não basta só uma linda ilustração, o conteúdo textual deve ser o quesito mais importante. Para entender as fases de vida dos pequeninos é fundamental a fantasia dos contos de fada. As histórias servem de guia para aprender a escalar as montanhas, vencer obstáculos e perigos, enfrentar medos e monstros, vencer uma etapa difícil e dolorosa.

Quais livros da Brinque-Book você apresenta no seu curso, e de que forma?  

Eu amo os livros da Brinque-Book. Muitos são os livros que carrego comigo para todo lado e em vários países com a minha "mala de histórias". Os que mais me acompanham, e fazem parte das indicações do curso sobre os contos terapêuticos, são: "Bruxa, bruxa venha à minha festa": que considero já um clássico. E que aborda de forma lúdica e magistral o tema medo procurando desmitificá-lo. As ilustrações e o texto são excelentes e cumprem essa função, ao meu ver.

Outro livro que é incrível e de uma sensibilidade ímpar é: "O urso e o gato montês". Essa publicação é uma pequena joia que fala de amizades improváveis, da valorização do hoje, de perdas, do tempo de chorar, de enxugar as lágrimas e voltar a sorrir. Outra obra que indico para pessoas de todas as idades é: "O homem que roubava horas" porque nos leva a refletir o que fazemos do nosso tempo. Como nos relacionamos com ele? Porque vivemos com pressa? Será que olhamos nos olhos das pessoas que amamos? Percebemos neste livro que quem tem tempo de olhar a vida e os outros faz história… a sua própria história!

"O homem que amava caixas" é uma obra de muita sensibilidade que nos faz pensar sobre os afetos e relacionamentos familares, ao contar a história de um pai com dificuldade em expressar seu amor em palavras ao filho e que busca na construção das caixas um elo e um vínculo com a criança. Enfim, é uma lista imensa de opções, como "O campo dos gigantes", "O catador de pensamentos", "Por Favor, obrigado, desculpe", "O urso rabugento" e outros. Independente da forma, do método, o importante é criar hábitos de acesso à leitura e partilhar um momento único e mágico com quem amamos.

Trabalhar com a literatura é precisamente tocar no universo de representação do mundo simbólico, do poético e do sagrado. Quanto mais a criança for provocada na sua capacidade de ser e sentir, mais probabilidade ela terá de ser um adulto feliz e transformador. Ler e contar histórias cumpre perfeitamente essa função.  

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