Ilan Brenman e As 14 Pérolas

30/01/2015
Convidamos o premiado autor Ilan Brenman para falar em vídeo sobre seu mais recente lançamento: o livro "As 14 Pérolas da Mitologia Grega", publicado pela Editora Escarlate. Entre hoje e 27 de fevereiro, traremos para o nosso blog uma série de contos dessa coleção. Fique de olho para não perder as novidades! E agora, um conto do livro. Com vocês, Não conte vitória antes do tempo! Ailha grega de Samos tinha fama de produzir excelentes vinhos. A melhor plantação de uvas ficava nas terras pertencentes ao soberano da ilha: o corajoso filho de Posídon, o rei Ergino. Ergino era tão obcecado por suas plantações e seus vinhos que acompanhava de perto todo o trabalho dos escravos. Ele não queria um único erro no processo de plantação, cultivo, colheita e fabricação do vinho. A exigência do rei era tanta que os escravos ficavam exaustos ao fim de cada dia de trabalho. Certo fim de dia, um escravo mais próximo ao rei não aguentou e disse ao soberano: — O senhor não viverá o bastante para provar o vinho da próxima colheita! O rei de Samos não acreditou no que ouvira. Ele estava prestes a castigar o escravo quando um emissário chegou, esbaforido, e deixou uma carta na mão de Ergino. Os olhos do rei brilhavam ao ler a carta e, sem nem olhar para trás, pegou o escudo, a armadura e a espada, montou no seu cavalo e saiu em disparada. Ergino fora convocado para participar de uma das mais famosas e épicas aventuras humanas, a busca do velocino de ouro. Navegou com outros cinquenta e quatro heróis lendários sob o comando de Jasão, que queria retomar o trono do seu pai, usurpado por Pélias. ??????????? O soberano de Samos teve um papel importante nessa aventura. Quando o timoneiro do navio dos argonautas (como eram chamados) morreu, foi ele que assumiu o comando da navegação e com muita coragem voltou da Cólquida com o velocino de ouro, laureado de triunfo e fama. Entretanto, o que Ergino mais ansiava era o retorno ao saudoso e amado lar, pois queria rever suas plantações e suas uvas. Assim que o rei pisou no palácio, largou a pouca bagagem que trazia e saiu correndo para ver as videiras. Ao chegar, ficou emocionado; aquele cheiro de terra e uvas maduras inebriava o corpo de Ergino. Um dos escravos mais íntimos se aproximou e disse: — Que bom que o senhor voltou, Majestade. O senhor quer experimentar o primeiro vinho saído da última colheita? — Claro! É o que mais quero na vida! O escravo deu-lhe uma taça de prata e despejou um líquido vermelho vivo nele. Porém, antes de beber, o rei se lembrou da profecia daquele outro escravo e mandou chamá-lo imediatamente. — Quer dizer que não viverei o bastante para beber o vinho da próxima colheita? — gritou o rei para o escravo que o havia amaldiçoado. — Majestade, entre a taça e a sua boca ainda existe uma grande distância. O senhor ainda não bebeu o vinho — respondeu corajosamente o escravo. Ergino ficou surpreso com a resposta do escravo, mas para pôr fim àquela bizarra conversa começou a levar a taça à boca, quando, de repente... — Majestade, Majestade, corra! Um javali furioso está destruindo a plantação! O soberano de Samos, ao ouvir os gritos de um dos servos, deixou a taça cair no chão, pegou uma lança e saiu em disparada para matar o animal que arruinava sua propriedade. A luta com o javali foi feroz e o rei ficou mortalmente ferido. Antes de se esvair a última gota de vida daquele corpo, Ergino balbuciou: “ — Entre a taça e a sua boca ainda existe uma grande distância.”?
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