“Foi a palavra a origem desta história narrada em imagens”, avisa um texto logo na entrada da exposição Escola de histórias, inaugurada hoje (27/10) no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo. É que as fotografias da capixaba Bárbara Bragato, 23, nasceram da criação de uma biblioteca, localizada “em uma sala de aula escondida no fim do corredor”, em uma escola da periferia da cidade de Hyderabad, uma das maiores da Índia.
Em dois meses atuando como professora voluntária na Vision Model High School, localizada no centro-sul indiano, a brasileira conviveu com uma realidade em que o contato com os livros era praticamente exígua. E foi durante uma conversa com um grupo de alunos do nono ano, empenhados em discutir melhorias na escola, que surgiu a ideia da criação da biblioteca. “A palavra era o fim, e a fotografia, o meio.”
As fotos, então, nasceram da necessidade de mostrar aquela realidade, pois era urgente engajar pessoas num financiamento coletivo e arrecadar a verba necessária para o projeto de construção do espaço – a empreendedora da ideia arrecadou R$ 7.504, mais do que a meta inicial (R$ 4.000). Foi quando a câmera de Bárbara passou a entrar diariamente nas salas de aula, algumas sem paredes, com uma superlotação de crianças, como revelam as imagens.
O projeto se desenrolou entre diversos desafios de adaptação enfrentados pela jovem fotógrafa naquele contexto. “O barulho era tremendo. Eu dava aula competindo com a agitação da rua e a gritaria dos alunos”, conta a fotógrafa, que ficou tocada ao receber de uma aluna uma cartinha certo dia. As palavras (de novo, elas) reforçavam a violência costumeira, presenciada e relatada, naquele ambiente; diziam o seguinte: “Gosto da minha professora porque ela não me bate”.
Um ano depois de viver essa experiência arrebatadora, inaugura uma exposição que reúne 22 imagens – ou flagrantes daquele cotidiano escolar. As fotos registram os momentos de forma espontânea, às vezes com enquadramentos e ângulos pouco pretensiosos. Uma figura escapa no canto da imagem, várias crianças se espremem no quadro. A câmera, que em diversos momentos espia e observa, aparenta em algumas fotografias uma estrangeira já familiar, tal qual a fotógrafa brasileira.
“Há fotos de crianças no corredor, das tradicionais pinturas das mãos das meninas, de um olhar estranho deles pra mim, para uma câmera que assusta e também seduz”, conta Bárbara, que investiu a verba extra arrecadada na implantação de outras duas bibliotecas. E a fotógrafa não pensa em parar por aí. Já tem planos de retornar para a Índia com a missão de expandir o projeto de disseminar a leitura.
Ainda hoje, depois de retornar ao Brasil, acha difícil mensurar a dimensão da experiência vivida na Índia. “Foi um aprendizado e tanto. Entrei em contato com uma infância muito diferente da que vivi. E, apesar do ambiente caótico e da precariedade, as crianças me contagiaram.”
Anote na agenda
Escola de Histórias, de Bárbara Bragato
Quando: de 27/10 até 11/12, terças a sábados, das 12h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h
Onde: MIS (av. Europa, 158; tel. 0/xx/11/2117-4777)
Quanto: grátis