A liberdade do processo de criação

18/01/2017

Quanto tempo para uma ideia – daquelas que surgem no meio da noite ou num passeio no parque – virar um livro? No caso de O que é a liberdade?, de Renata Bueno, foram alguns anos, todos cheios de investigação. Bem, não era lá tarefa simples responder à pergunta do título.

Inspirada no livro O pato, a morte a e tulipa, do premiado autor alemão Wolf Erlbruch, ela escreveu um primeiro texto sobre uma ave, “normalmente símbolo da liberdade”, fazendo perguntas a coisas, bichos e personagens com o desejo de desvendar o significado da palavra. Era só o começo de sua incursão pelos caminhos do processo criativo do livro.

Já nos primeiros estudos, as respostas à questão feita insistentemente por um passarinho surgiam visualmente. “O lápis dançando e riscando o papel, a borracha abrindo espaço na escuridão do grafite”, lembra a autora. E o texto foi se transformando, tudo com liberdade de criação, sem medo de abandonar algumas ideias e abraçar tantas outras.

Em 2013, quando a ideia já martelava sua cabeça há uns dois anos, ela inscreveu num edital do governo do Estado de São Paulo um projeto chamado Conversas sobre a liberdade, no qual propôs desenvolver o tema durante oito encontros com crianças de escolas municipais na região de Mairiporã (SP) ao longo de dez meses. Ganhou. E sua ideia ganhou asas.

Como ela bem relata ao final do livro, foi com as crianças que melhor investigou o que é a tal liberdade a partir das perguntas do passarinho. Juntos, descobriram que a liberdade pode ser algo diverso para cada pessoa – animal ou coisa – e criaram respostas visuais em colagens, pinturas, desenhos e bolhas de sabão. “Desenhamos, pintamos, olhamos para diferentes imagens da Lua e lemos juntos verbetes no dicionário.” Essas experiências todas foram ganhando forma de livro.

Renata, também autora de 2 cores e Monstro que é monstro, entre outras, agora abre seu caderninho de criação para compartilhar o processo - leia mais a seguir. “A liberdade do outro aumentou minha liberdade e possibilitou a construção de uma obra complexa, mas, ao mesmo tempo, simples e especial.”

Mas antes, para saber mais sobre esse livro que nasceu num processo tão livre, confira a animação especialíssima feita pelo artista Daniel Medina, companheiro da autora.

 

 

Como foram as oficinas nas escolas?

Em cada escola, trabalhou alguns personagens e experimentou técnicas diferentes. “Na escola Municipal Ramira Felix da Silva, por exemplo, trabalhamos o lápis vermelho, a borracha e o camaleão. As crianças não só me mostravam soluções gráficas como, depois, em palavras, despertavam minha imaginação para modificações importantes no texto.” As escolas Moacyr Anchanjo dos Santos e Santa Inês também integraram o projeto.

 

E depois das oficinas?

“Foram momentos de muita dedicação e confesso que saía exausta de cada encontro. Mas com a cabeça cheia de ideias. Cartas de agradecimento, abraços apertados, novos amigos num processo que marcou minha trajetória.” Mas as investigações não paravam ali... “Em casa, meu filho me acompanhou no processo e também soprou bolhas coloridas, amassou, rasgou e dobrou papéis brancos na neblina da Serra da Cantareira.” Depois, durante a edição, abandonou alguns personagens e fez novas perguntas.

 

Quais materiais foram utilizados?

“Os materiais foram muitos, cada personagem pedia sua técnica e encontrá-la era a chave das respostas. Riscar, tirar texturas com o lápis, colocar tinta dentro do pote de bolhas de sabão. Carimbar, fazer a tinta escorrer num papel molhado... Muita coisa foi experimentada.”

 

Quais surpresas surgiam no caminho?

“Ao experimentar, sempre nos deparamos com surpresas, dificuldades e frustrações. Que tinta colocar dentro do pote para fazer as bolhas de sabão colorirem o papel? Como dar a resposta de um camaleão sem revelar o bicho todo? Foram dias brincando de espelho, colocando tintas diferentes e dobrando o papel.  Como abandonar artes que gostava, mas que não faziam mais sentido para a narrativa? A escolha é tão importante como o fazer. A todo momento... Dúvidas e liberdade!”

 

E cadê o passarinho perguntador?

“O passarinho que não aparece no livro... Nasceu em várias técnicas também... Mas foi a decisão de não usá-lo que, na minha opinião, transformou tudo.”

 

E como é que o livro bate asas por aí?

“O livro pronto agora retoma às escolas onde foi trabalhado, entra em muitas casas e recebo carinhosamente fotos de novas experiências. Filhos de amigos, adultos e crianças desconhecidos que brincam de ser neblina, de ser dragão, brincam com liberdade!” A autora continua fazendo oficinas em livrarias e escolas... “Mas O que é a liberdade? constrói seu caminho independentemente de mim...  Voa como um pássaro livre a tocar infâncias!”, diz a autora, que comemora ao receber o Selo Altamente Recomendável FNLIJ e ter seu livro também publicado em espanhol.

 

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