Era uma casa... cheinha de histórias

23/02/2017

Era uma vez uma casa, totalmente abandonada e um tanto assombrada, localizada no número 109 na rua Ministro Godoi, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. Quem pelas redondezas passava apressado nem reparava em sua bonita fachada, tombada, cheia de memórias. Até que certo dia a casa chamou a atenção do casal Giuliano Tierno e Ângela Castelo Branco, ambos educadores e escritores, que logo imaginaram que muitas histórias caberiam ali!

Há quase dois anos, virou A Casa Tombada, que oferece cursos de pós-graduação, extensão e livres, além de intensa programação cultural, com lançamentos de livros, performances, bate-papos e narrações de histórias, entre outras atividades, com convidados especiais, como escritores, políticos e artistas. Confira mais aqui.

Ângela conta que foi em sua licença-maternidade que viu a casa e bateu uma vontade forte de mudar de vida. “Passávamos na frente da casa e estava sempre fechada – abandonada, meio casa assombrada mesmo. Uma casa tão linda, ociosa. Um dia resolvemos ligar para perguntar o preço do aluguel. Estávamos nesse momento de fazer coisas que, se você não faz, depois você se sente um bundão, sabe? É quando você fala: ‘A gente tá no meio da vida, a gente precisa dar algum salto’”, lembra.

Giuliano já coordenava a pós-graduação A arte de contar histórias em um outro local. Veio, então, a ideia de levar o curso para a casa, com o desejo de abraçar o lugar, com a Ângela escrevendo histórias e Giuliano contando outras. “Será que é aí que a gente queria colocar nossas energias? A gente não tinha um projeto, só sabia que aquilo a gente não queria mais e que de alguma forma queria espaço para trabalhar”, conta.  

A energia que move A Casa é o afeto, a troca e a partilha de experiências. “É esse lugar potente, da arte e da educação como criação, como diluição de fronteiras. A gente precisa ter um papel político de encorajar as pessoas para trazerem seu jeito de dizer – e isso não está escrito na ABNT”, provoca Ângela, referindo-se a um modo diferente de olhar a pesquisa acadêmica.

A jornalista Cristiane Rogerio, que tem uma experiência sólida em literatura infantil, embarcou no projeto logo após deixar seu antigo emprego na revista Crescer. O ponto de congruência entre os três foi o livro dedicado à infância.

Ela começou com uma disciplina dentro do curso da pós A arte de contar histórias, e a discussão ganhou tamanha importância que logo conquistou o espaço de uma outra pós-graduação, o segundo curso a ser oferecido n'A Casa: O livro para a infância: textos, imagens e materialidades. “O livro para infância mexe de modo bem particular com as pessoas”, afirma Cristiane.

“Tragam suas coisas para colocarmos em cima da mesa e discutirmos”, esse é o convite da casa onde ninguém fica calado. Nas conversas em que são discutidos os pontos cegos, as diversidades, a práticas de cada participante em relação a si mesmo e ao mundo, é despertado o impulso da mudança, em ver e fazer diferente.

Nos últimos dois anos, Giuliano foi descobrindo que A Casa é lugar que se mantém vivo pelas relações entre as pessoas, pela construção partilhada, pela experiência que antecede o verbo. Mas qual palavra definiria o local? No percurso, o educador foi delineando melhor o espaço que, mais do que um território, constitui-se por um “mapa de afetos”, com conexões estabelecidas por seus muitos habitantes-frequentadores.

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Ilustração Marcelo Tolentino

 

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