Numa cidade acinzentada como São Paulo, os parques e as praças são verdadeiras ilhas verdes, onde folhas, flores, sementes, paus e pedras são elementos ricos para uma brincadeira de criança. A imaginação corre solta quando a infância encontra a natureza. Pensando nisso, o Instituto Alana, dedicado às causas e aos direitos das crianças, criou um projeto que busca retomar essa relação cada vez menos comum de meninos e meninas que vivem nos grandes centros urbanos.
O projeto Criança e Natureza tem a proposta de criar grupos que ocupem espaços públicos. São os chamados Grupos Natureza em Família, simples e democráticos, que podem ser organizados por qualquer pessoa que deseje trazer essa aproximação a um ambiente mais livre. “O benefício principal é a convivência mesmo, de uma forma mais saudável e um pouco mais relaxada, mais livre, sem necessariamente estar dentro de um programa”, conta a assessora pedagógica do projeto, Paula Mendonça.
Qualquer um pode montar o grupo. Basta planejar como onde os encontros vão acontecer, por quanto tempo, se o local tem banheiro, quem levará a comida – piqueniques e refeições coletivas, feitas pelos próprios participantes, são recomendáveis. Para ajudar nessa etapa, o Alana oferecerá, no dia 8 de abril, um curso gratuito aos interessados em serem mobilizadores desses grupos, na sede da UMAPAZ, em São Paulo.
A relação da criança com a natureza, quando proporcionada ainda nos primeiros anos de vida, traz inúmeros benefícios ao desenvolvimento da criança, de maneira integral. São vastas as pesquisas que indicam melhorias quanto à criatividade e ao melhor desempenho escolar, em áreas como ciências, artes da linguagem, estudos sociais e matemática.
Tal contato também impacta na inteligência emocional da criança, melhorando a sua habilidade de convívio em grupo e de desenvolver a capacidade de autocontrole e autodisciplina, por exemplo. Além disso, afeta a saúde física. “Algumas pesquisas falam que as crianças que ficam em ambientes muito fechados e não enxergam tanto o horizonte mais distante podem desenvolver miopia. Há ainda estudos que falam da relação entre transtorno de déficit de atenção e hiperatividade com a ausência de espaços em ambientes naturais, onde as crianças possam brincar ao ar livre”, explica a especialista.
Um exemplo? Escalar uma árvore é grande o exercício de concentração. “Dá para pensar em pessoas que têm um déficit de atenção, que podem ser beneficiadas com uma atividade como essa. É preciso estar totalmente concentrada, saber o que vai fazer para subir ou para descer.”
Em meio a tantos benefícios para o desenvolvimento infantil, o maior obstáculo para a realização de tais grupos é a cultura do confinamento, persistente nas grandes cidades. “As crianças dos centros urbanos têm tido um estilo de vida dentro de quatro paredes. Você vai buscá-la na escola, de lá vai para a escola de inglês, sempre em salas de aula fechadas”, aponta. Meninas e meninos urbanos estão sendo privados do sol e, consequentemente, da vitamina D, necessária para o desenvolvimento infantil.
Muito dessa cultura parte do medo que a família tem ao frequentar espaços públicos. Por isso, a criação desses grupos apresenta um duplo benefício: “Por um lado, é da família que tem maior prazer ali, junta, de superação da cultura do medo. E porque não, também, um benefício para a própria cidade. À medida que elas ocupem mais as áreas verdes, como praças e parques, também gera maior motivação do poder público para cuidar desses espaços. Achamos que nessa relação todos são beneficiados: crianças, famílias e a própria cidade”, finaliza.