Após o filme No caminho para a escola, o diretor francês Pascal Plisson volta a abordar questões da educação no seu mais recente trabalho, O grande dia, que estreia hoje nos cinemas. Assim como no documentário de 2013, o tema da superação na infância é central.
No longa anterior, Plisson havia trabalhado com trajetos de crianças de diferentes partes do mundo, mostrando as verdadeiras aventuras que viviam para conseguir chegar à escola. Agora, a narrativa é outra, cada personagem com a sua pequena saga. São diferentes desafios que os personagens se propõem a passar para alcançar seu objetivo.
Alberto, por exemplo, é um garoto cubano de 11 anos que sonha em ser boxeador. Já a indiana Nidhi, de 16, quer cursar engenharia. Deegii, por sua vez, ensaia para entrar em uma escola de contorcionismo na Mongólia. E Tom, de 19 anos, estuda para ser guarda florestal na Uganda e proteger os animais na selva. Os desafios entrelaçam-se em uma trama de superação, com um objetivo claro para cada um. Crianças tornam-se protagonistas, e, mesmo com o apoio de familiares, responsáveis pelo seu sucesso. Mais que protagonistas do documentário, os meninos e as meninas do longa são condutores de suas próprias vidas.
Tudo é contado com tom ficcional, com poucas exceções, momentos em que o diretor introduz alguns depoimentos de familiares, lembrando o espectador que estamos no campo da não ficção. Isso proporciona uma certa unidade narrativa, já que as quatro histórias passam pelos mesmos estágios, com o ápice no Grande Dia de cada criança, a prova pela qual têm de passar. Tudo embalado numa bela fotografia e num ritmo suave.
Esse clima de ficção colabora para a abordagem mais emotiva do trabalho. A trilha sonora e as falas dos personagens fazem com que a obra chegue a ser, em certa medida, dramática. O diretor diz, em entrevista, que crianças são mais emocionais, e a busca por esse sentimento é evidente no longa.
Um dos acertos é a busca por realidades diferentes, quebrando estereótipos. Apesar de distantes, os personagens carregam dramas reais e até semelhantes em algum aspecto. Apesar de todo o machismo que temos notícia da Índia, por exemplo, Nidhi é apoiada pelo pai para seguir a carreira de engenheira. Enquanto isso, Tom não corresponde ao típico cenário de miséria com que se costuma retratar o continente africano em geral, mesmo que o personagem não tenha condições de vida fáceis.
O filme vencedor do Prêmio César tem classificação indicativa livre, é recomendado tanto para adultos quanto para crianças, principalmente as maiores de oito ou nove anos. É uma obra leve e real, que traz inspiração para os desafios proporcionados pela vida.