Quanto mais leitores, mais leituras. Uma pluralidade de mentes decifrando um código – vivendo uma história. Crianças têm menos ideias preconcebidas, adultos já leram mais livros. Uns reparam em alguns detalhes, outros inventam outras interações. Um livro que não se fecha em si mesmo é o que busca ser Clap, obra da editora Planeta Tangerina trazida ao Brasil pela Companhia das Letrinhas.
O livro, de autoria de Madalena Matoso, uma das fundadoras da Planeta Tangerina, propõe uma brincadeira com diferentes sons e o abrir e fechar do próprio objeto. A editora portuguesa é especializada no gênero de álbuns ilustrados (ou livros de imagens), em que o texto e a imagem se unem para contar uma história. “É como uma canção que é feita de música e letra. Quando são separadas, perde-se alguma coisa”, explica.
A ideia é de que as leituras sejam abertas e desafiadoras. “O respeito pelo leitor é enorme. Ele tem ideias próprias e não quer um livro que siga um ‘manual de normas para agradar ao leitor’. Isso seria muito desonesto”, conta a autora. E é com essa honestidade que o livro fez sucesso internacional: já foi editado em francês (Suíça e França), polaco, alemão, inglês (Inglaterra e Estados Unidos), coreano, chinês, flamengo (Holanda e Bélgica), catalão e espanhol (Espanha e América do Sul).
Uma combinação de diversos elementos enriquece a leitura: “Ao texto e à imagem, juntam-se o design gráfico, o papel, a sequência da páginas, o ritmo, os espaços vazios. E o leitor, claro! A história só começa quando estão todos juntos”. Para ler os desenhos, o convite é observar, imaginar, sentir. Estão impostos questionamentos, os caminhos não são óbvios. Sequência do virar de páginas: curiosidade que é fomentada.
O livro surgiu depois de a autora ser questionada muitas vezes se iria criar livros digitais. A reposta foi Clap, uma obra interativa, em papel. “Acho que a tecnologia tem coisas muito boas, mas não pode tomar conta da nossa vida. Tem de se proporcionar também outra experiências. Nada substitui a vida real em sítios reais, com pessoas reais, que pensam discordam de nós, por exemplo”, explica. Por isso a escolha pelos livros físicos, pela experiência do papel. “De alguma forma os livros digitais ajudaram a que as possibilidades infinitas do livro em papel se tornassem mais evidentes!”
Os projetos também surgem do papel. Quando o texto vem primeiro – das mãos de Isabel Minhós Martins, sócia da editora –, ele é impresso e acompanha Madalena pela cidade. Vai enchendo a ilustradora de ideias. São sete ou oito desenhos até o resultado final. Pelas andanças, há de se definir o caminho a ser tomado. Já Clap nasceu de um jeito diferente: primeiro em desenhos. Surgiu após a equipe desistir de um outro projeto, o Atlântida-Cine, que foi para a gaveta. O desejo virou outro: desenhos grandes e simples, de duas páginas.
Perguntada sobre o seu trabalho, Madalena – que não gosta da palavra ilustradora – não vê diferença entre o design para crianças e para adultos. O importante é que a obra faça sentido. Como na literatura, não há uma receita a seguir. É um jogo sem regras.