O que sonham os jovens que inventam o mundo?

06/06/2017

 

De norte a sul do Brasil, uma nova geração de adolescentes na iminência de se tornarem adultos. Já sentem as pressões do mundo. Ao mesmo tempo, sonham mais do que nunca, perdidos numa diversidade de possibilidades. É o que tenta capturar Cacau Rhoden – diretor de Tarja branca – em seu novo documentário Nunca me sonharam, que estreia no dia 8 de junho nos cinemas e na internet, disponível na plataforma Videocamp.

A narrativa é construída a partir de depoimentos que se interpelam, recolhidos de adolescentes, professores, pais, pensadores da área. A proposta: ouvir. Quando a sociedade diz que a educação é solução para os problemas do país, o que tem a dizer quem a vive todos os dias?

 

 

Um tema bastante abordado é a adolescência. O que é esperado dos jovens que já estão prestes a adentrar o mercado de trabalho, mas que não  conseguem arranjar emprego por falta de experiência; como é viver nesse não lugar, em que se lamenta o fim da infância e se espera pelo amadurecimento. Os questionamentos são vistos como uma “fase”, as possibilidades são tantas, e as oportunidades, nem sempre visíveis nesse período denominado pelo psicanalista Christian Dunker como tempo de “tempestades e trovões”.

 

 

O período é marcado de sonhos, alguns modestos, outros ousados. A jovem Thaianne de Souza, uma das personagens do longa, não tem medo de pensar além: quer ser professora e posteriormente presidente do Brasil. “Como sonhar? Você tem que prestar atenção naquelas pessoas que te motivam, porque o que te desmotiva está cheio. Precisa olhar com atenção. Por mais difícil que pareça, alguém pode estar sentado do seu lado, pode estar longe, vai acreditar em você e isso vai motivar que você acredite em si mesmo. E é um caminho, e a gente vai precisar lutar, mas a gente vai lutar junto, porque se a gente não chegar junto, ninguém chega”, declarou após a exibição do documentário na Ciranda de Filmes, em maio.

A obra também discute o sistema educacional, além de problemas como evasão escolar, tráfico de drogas e gravidez na adolescência. O autoritarismo como revelação de uma fraqueza imposta a uma geração, que a cada dia ansia mais por relações horizontais, pelo conhecimento em redes. As grades, curriculares e físicas, que se assemelham às das prisões. Em meio a isso, qual é o papel que a escola tem em ouvir seus alunos, ajudá-los a alcançar seu potencial?

Nesse ponto, o estudante Felipe Lima, outro personagem do documentário que esteve no debate do filme durante a mostra Ciranda de Filmes, provoca: quer ver “cada professor se tornar um vendedor de sonhos”. Ele é o mesmo a surgir com a expressão que dá nome à obra, ao declarar: “Acho que nunca me sonharam sendo um psicólogo, nunca me sonharam sendo professor, nunca me sonharam sendo um médico, não me sonharam. Eles não sonhavam e nunca me ensinaram a sonhar. Estou aprendendo a sonhar”.  Como essa escola ainda reflete uma sociedade que não queremos mais e como transformá-la? “Solução não existe. Existem caminhos”, completa alguém da plateia durante o debate.

Assim, podemos pensar a sociedade pelo viés do jovem brasileiro. Quem tem oportunidade em um país ainda desigual? Qual jovem tem sido sonhado durante todos esses anos? Uma das falas que acompanham a narrativa: “Não existe escola emancipatória em sociedade opressora”. Ao mesmo tempo, a história é feita de avanços e recuos: “O filme é um elo de pertencimento para a gente não sucumbir à resistência”. Vozes pessimistas e otimistas divergem. É lugar comum falarmos de educação, futuro, mudança. A partir deste filme, podemos ouvir o que as pessoas envolvidas nisso têm a dizer. Ouvir, nos tempos de hoje, é um ato revolucionário.

 

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