A menina que dissemina leitura

27/07/2017

 

“Leia este livro, você não vai se arrepender. Se você não tiver o livro, pode pedir emprestado para mim. Mas, se você não me devolver, eu vou cobrar, hein?” É assim que Catarina Bertulucci Trigo, de 10 anos, encerra os vídeos de A menina que indica livros, canal no YouTube em que há quase três anos se dedica a falar das suas leituras.

A iniciativa começou como uma brincadeira: “Minhas amigas faziam vídeos de maquiagem, mas eu não queria imitá-las. Então eu resolvi fazer vídeos dos livros que gostava”, conta Catarina, que, no início, publicava conteúdo em sua própria página do Facebook. Com a popularização do material, decidiu criar a página de A menina que indica livros, além do canal.

Para disseminar o hábito da leitura entre as crianças, criou também o Piquenique Literário, realizado aos domingos, em datas marcadas antecipadamente. Nos encontros, as crianças reúnem-se em algum parque e realizam saraus, rodas de leituras e trocas de livros. Cada um lê o que quer. O evento já contou, inclusive, com a participação de alguns escritores, que levaram livros para sorteio e autógrafos.

 

 

As obras são divididas em caixas: primeira leitura, infantil, juvenil e adulto, apesar do evento ser mais frequentado por crianças entre sete e doze anos. O modelo foi tirado da troca de livros que acontece no Parque da Água Branca, em São Paulo. Mas os piqueniques de Catarina também têm um varal com livros disponíveis para quem não trouxe nenhum para troca. Ela relata que cerca de cem pessoas chegam a frequentar o evento, muitas a parabenizando pelo seu trabalho de incentivo à leitura. “Já me falaram que começaram a ler mais por causa do meu canal”, conta.

Outra ação que gosta de realizar – geralmente nas férias escolares – é o A menina passou por aqui, inspirado no Esqueça um livro, em que deixa livros em lugares públicos, em especial em parques e shoppings. Quem encontrar o livro pode levá-lo para casa. “Uma vez um menino não queria pegar [o livro], ele até pegou, mas a mãe não queria deixa-lo levar o livro. Aí ele deixou lá, e eu saí correndo atrás dele com o livro. A mãe não tinha entendido a brincadeira”, relata Catarina, que costuma esperar por perto, curiosa para ver quem será o novo portador do objeto.

O hábito de leitura é cultivado desde quando era “pequenininha”. Conta que sua primeira leitura Bibi toma banho, de Alejandro Rosas: “Eu não sabia ler ainda, mas de tanto que os meus pais liam para mim eu decorei aquele livro”. Hoje, destaca, entre seus personagens favoritos, Emília e Narizinho, de Monteiro Lobato. “Gosto da imaginação delas.” E explica: “Vivo no mundo da lua, sempre fico imaginando as coisas, tudo. E gosto bastante desses livros sem imagens, porque dá para imaginar ainda mais.”

Desenvolta, já entrou em contato com a sua autora favorita: Ana Maria Machado. Ganhou de presente um livro autografado, O gato Massamê e aquilo que ele vê. Conta que tem quatro obras da escritora, sendo o primeiro vídeo do canal dedicado a Menina bonita do laço de fita.

 

 

O trabalho é elaborado com cuidado: geralmente, prepara antes um roteiro do que vai falar. Às vezes, grava até cinco vezes até acertar. “Sempre falo um pouquinho do começo e do meio [da história], porque o final eu não posso falar, né?”, explica a menina, cujos pais cuidam de sua segurança na internet. A mãe sempre verifica quem é que procura a filha para conversar e sempre acompanha sua repercussão na internet.

Nos vídeos, é possível perceber o crescimento da menina ao longo dos anos, a evolução de suas leituras. “Quando eu comecei, era pequena e eu lia livros menores, não eram tantas páginas, e agora são muitas páginas, e não dá para eu ler em uma semana. São livros mais compridos e mais difíceis”, destaca. Termina com uma reflexão sobre a leitura: “Traz mais conhecimento. Quem lê fala melhor, tem uma imaginação mais fértil, entende melhor as matérias da escola”, conclui a menina que indica livros.

 

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