Ler para resistir, ler para existir

28/09/2017

 

Nos últimos tempos, depois de anos de um fomento crescente à leitura, as notícias envolvendo a rede de livros no país têm sido desalentadoras: editoras e livrarias fecharam as portas, eventos literários foram cancelados Brasil afora, políticas de acesso ao livro foram praticamente extintas. Em meio a tanto desmonte no setor, pairou um silêncio. Editores, escritores, ilustradores, livreiros, mediadores de leitura, entre outros atores da cadeia do livro, pareciam atônitos com o cenário. Um grupo de profissionais, principalmente ilustradores, no entanto, resolveu agora fazer barulho com o movimento Literatura e Resistência.

Para reivindicar a valorização da leitura no país, o primeiro passo do movimento acontece já neste sábado, dia 30, às 13h30, na Livraria NoveSete, em São Paulo. Nessa casa especializada em literatura para a infância, o grupo inaugura seu manifesto com uma exposição que reunirá as artes originais de 40 ilustradores. No dia de lançamento, ainda haverá um bate-papo com transmissão ao vivo pela fan-page do Literatura e Resistência. Participarão Aline Abreu, Daniela Padilha, Zeco Montes, Silvana Gili, Silvana Tavano e Gislene Gambini. Todas as obras expostas estarão à venda, e o dinheiro arrecadado será destinado a outras ações nos demais Estados brasileiros.

 

Ilustração Mateus Rios

 

“O movimento é uma manifestação artística e surgiu da inquietação das idealizadoras – Daniela Padilha, Aline Abreu, Rosinha e Gislene Gambini – contra a desarticulação da rede de literatura para crianças e jovens no atual governo”, conta Raquel Matsushita, escritora, ilustradora e uma das integrantes do Literatura e Movimento. A proposta, ela explica, é “provocar, chacoalhar a nós mesmos, envolvidos na cadeia dos livros, para nos posicionarmos de maneira mais ativa em relação ao que acontece no nosso entorno”. E então “atrair outros olhares que conduzam para a reflexão da importância da literatura no nosso país”.

Segundo a autora, todas as ações reforçarão a importância da literatura e do ato de ler. “A arte – e isso inclui a literatura – é essencial na construção do pensamento crítico. Por meio da arte, dos livros, da ficção, crescemos conscientes de quem somos, condição primordial para enxergarmos o que os outros também são. Esse espelhamento que encontramos na arte e na ficção ajuda na formação de indivíduos pensantes, críticos e ativos. O contrário disso é uma massa despreparada e ignorante, altamente manipulável. Uma sociedade crítica, infelizmente, não parece ser o interesse dos nossos políticos.”

 

Ilustração de Katia Canton

 

As ações do movimento são coletivas. Alguns contribuíram com as ilustrações disponíveis na exposição, outros ajudaram na organização do evento. Raquel, por exemplo, foi responsável pela elaboração dos cartazes de divulgação e da logomarca, que remetem ao construtivismo russo, marcante para o design gráfico ao contemplar questões social e política. A logomarca representa “um grito pela literatura e pela resistência”. “Juntos, nesse coro, formam um sólido tijolo. E com esse tijolo seguimos construindo a nossa casa. Nesse sentido, a composição carrega uma boa dose de esperança.”

 

 

O movimento ultrapassa barreiras partidárias em favor de uma causa maior – a literatura. No manifesto divulgado, um recado: “O silêncio precisa ser urgentemente rompido”. Assim, depois de tanto calar-se, os profissionais do livro estão prontos para dizer o que defendem.

“Penso que o silêncio faz parte de um processo de reflexão. A política de acesso ao livro está sendo muito prejudicada. A reação a tudo isso leva um tempo de maturação. Acho natural que, diante de uma crise, exista esse hiato do silêncio para que, enfim, haja espaço para nascer uma resposta.”

 

Ilustração Ciça Fittipaldi

 

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Abaixo, leia o manifesto na íntegra.

 

“Carta de intenções

Uma das consequências dos desmandos políticos sofridos pelo país é a desarticulação da rede de literatura para crianças e jovens. Seja pela diminuição ou enfraquecimento dos eventos do livro, pelo fechamento de várias editoras e livrarias, pela extinção ou deformação das políticas de acesso ao livro com encerramento de atividades e bibliotecas públicas, pelo deslocamento dos profissionais para outras áreas, ou ainda, e talvez principalmente, pelo silêncio dos atores que compõem a cadeia do livro.

Esse silêncio precisa ser urgentemente rompido.

A ideia é fazer uma manifestação artística, com exposição e encontro com os ilustradores, que tenha como tema a Literatura e Resistência, agindo como uma ação provocadora do encontro desses atores.

O evento acontecerá na Livraria NoveSete. No sábado, dia 30 de setembro, junto à abertura da exposição, haverá uma conversa com o público. Na mesa, as idealizadoras do Movimento, Daniela Padilha, Rosinha, Aline Abreu, Gislene Gambini, e convidados, conversarão sobre o tema Como resistir? A cadeia produtiva dos livros de literatura.

Os originais expostos estarão à venda. Parte da renda financiará custos do movimento, como reprodução de cartazes, desenvolvimento de materiais para divulgação, entre outros.

O movimento é político e apartidário. Nossas ações são coletivas. Não há uma pessoa responsável, mas um grupo em busca de aproximações e diálogo entre ilustradores, escritores, mediadores de leitura, editoras e livrarias independentes.
Vamos em frente!”

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Anote na agenda

O que: Exposição Movimento Literatura e Resistência

Onde: Livraria Novesete (r. França Pinto, 97, Vila Mariana)

Quando: de 30/9 a 4/2/2018

Quanto: grátis

Contato: (11) 5573-7889 ou www.livrarianovesete.com.br

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