Um livro informativo é uma obra de não ficção para crianças. Um livro que pretende explorar um tema, contar um fato, trazer à tona uma realidade escondida, comparar dados, discutir ideias, fazer perguntas e, melhor de tudo, brincar com uma antiga criação humana, o conhecimento. No contexto contemporâneo, muitos livros informativos para crianças são ilustrados, e é especificamente sobre eles que vamos conversar aqui.
Essas obras formam uma categoria ampla, com inúmeras possibilidades de conteúdos, formatos e usos. Incluem diferentes tipos de jogos com palavras e imagens, de organização das informações, de abordagem e recorte dos assuntos, de manipulação do livro como objeto e de outros truques para comunicar ideias. São muitos tipos de vozes contando e muitas outras lentes mostrando. Pode ser livro brinquedo, de texto, de história em quadrinhos, paradidático, digital, impresso etc. O formato não é determinante nesse caso.
O que um livro informativo quer mesmo é compartilhar a curiosidade e o entusiasmo pelas coisas do mundo: dos limites do universo ao funcionamento do cérebro humano, de dinossauros com asas à vida das abelhas, da história de um povo distante ao dia a dia de crianças em diferentes regiões do mundo, do funcionamento das cidades à importância do cocô para a sobrevivência das espécies. Ou seja, não há limites.
"Lá fora - Guia para descobrir a natureza", Maria Ana Peixe Dias, Inês Teixeira do Rosário e Bernardo P. Carvalho (editora Planeta Tangerina)
"Cá dentro - Guia para descobrir o cérebro", Isabel Minhós Martins, Manuela Manuel Pedrosa e Madalena Matoso (editora Planeta Tangerina)
"Professor Astro Cat's Frontiers of Space", Dominic Walliman e Ben Newman (editora Flying Eye Books)
"Cocô – Uma história natural daquilo que ninguém comenta", Nicola Davies e Neal Layton (editora Girafinha Escrituras)
Como se fossem inventários de conhecimentos expostos em vitrines minuciosamente arranjadas para encantar o leitor, muitos livros informativos infantis exploram recursos literários para tratar de seus temas. Linguagem figurada, personagens ficcionais e organização da informação em estrutura narrativa, por exemplo, são ferramentas que tornam o relato mais convidativo e emocionante e ajudam na compreensão de informações complicadas. São fugas poéticas que transformam os livros informativos em verdadeiros inventórios de saberes entre o real e o imaginário.
Essas estratégias fazem com que os informativos possam ser lidos em diferentes níveis, seja de maneira factual, em busca de informações precisas, seja com uma aproximação sensível e estética dos conteúdos e da obra como um todo. O tipo de leitura e engajamento vai depender não só da curiosidade das leitoras e dos leitores em relação ao tema, mas também das preferências que tenham acumulado ao longo de sua experiência com livros.
"Lá fora – Guia para descobrir a natureza", Maria Ana Peixe Dias, Inês Teixeira do Rosário e Bernardo P. Carvalho (editora Planeta Tangerina)
"Brasil 100 palavras", Gilles Eduar e Maria Guimarães (editora Companhia das Letrinhas)
Há ainda outros recursos fundamentais para conquistar quem lê, como o recorte do assunto e o olhar do autor – ou dos autores, já que muitos livros informativos são construídos por muitas mãos, em equipes multidisciplinares. Os assuntos mais banais podem render abordagens variadas, ultrapassar a mera exposição dos fatos e puxar papos instigantes acompanhados pela filosofia, pela física, pela geografia e tantas outras amizades.
Quando se conta de um jeito novo, de um ponto de vista diferente e com um olhar específico, textos e imagens comunicam juntos e compõem uma abordagem única. Dessa forma, o texto verbovisual passa a ser mais que a somatória das informações que carrega e se converte em espaço livre para reflexões e descobertas. Aí reside a riqueza do livro informativo. Por isso, se o objetivo da leitura for a busca por informações compiladas e não processadas, melhor procurar outras fontes (o Google costuma ser bom nisso!).
Outra forma de amizade entre leitor e autor no livro informativo se dá pelo diálogo. Os autores se identificam, mostram suas posições frente aos assuntos tratados, deixam questões em aberto se elas não tiverem resposta, e podem expor dúvidas, contradições e lacunas de seu conhecimento. Assim colocam-se bem juntinho do leitor, mostram por meio de seu próprio discurso como os saberes são construídos e têm limitações, tornando-os humanos, factíveis e acessíveis a quem lê.
E para isso, leveza, simplicidade e bom humor ajudam. O livro informativo que amamos é uma peça de design no sentido completo da palavra. Busca atender à curiosidade de maneira eficiente, persegue uma forma ideal para isso, valoriza os aspectos lúdicos e o prazer estético como componentes funcionais. Não à toa, o apelo visual é marcante nos livros informativos ilustrados. Os textos em geral oferecem muitas entradas e permitem uma leitura não linear. Cada página dupla tem um começo-meio-fim parcial e as informações vão se complementando com o avançar na navegação do livro como um todo.
A visualização de informações é outro recurso valioso. Assim como nos livros ilustrados em geral, os informativos exploram diferentes tipos de relação texto-imagem. A narrativa visual joga com a verbal, ora complementando-a, ora reforçando-a ou até contradizendo-a. Representações esquemáticas como mapas, plantas e gráficos, por exemplo, comunicam através de palavras, imagens e formas abstratas – linhas, setas, tarjas – e ajudam a entender visualmente dados e ideias complexas.
"Infographics: Animal kingdom", Simon Rogers e Nicholas Blechman (editora Big Picture Press)
"Lá em casa somos", Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso (editora Cosac Naify)
"Lá fora - Guia para descobrir a natureza", Maria Ana Peixe Dias, Inês Teixeira do Rosário e Bernardo P. Carvalho (editora Planeta Tangerina)
Reconhecer as peculiaridades dos informativos em relação a outros gêneros de livros infantis, perceber suas intenções e discursos subjacentes, entender por que foram escritos, por quem, como e a partir de onde nos permitem apreciar e avaliar a fundo suas qualidades. Com isso, podemos apresentá-los com segurança a leitoras e leitores ávidos por mergulhos no conhecimento e aventuras de linguagem. Daí em diante, podem seguir seu caminho entre perguntas, pensamentos e sensações, guiados pela curiosidade. Avistar em panorama, mirar bem de perto, abrir novas trilhas e continuar caminhando, pelo simples prazer de caminhar rumo a mais perguntas, pensamentos e sensações, com a curiosidade renovada.
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Ana Paula Campos é designer gráfica e mestra pela FAU-USP com a pesquisa Inventório, sobre processos de design e livros informativos para crianças. Integra o Estúdio Voador, onde desenvolve projetos dedicados à infância, como o site O mundo de Bartô, do Itaú Cultural. É editora de infográficos na revista Pesquisa Fapesp e professora na Ebac.