(Bibioteca??? / Texto: Lorenz Pauli / Ilustrações: Kathrin Schärer)
É unânime: para formar leitores, é preciso que as crianças tenham acesso aos livros também em casa, não apenas na escola. Afinal, leitor é aquele que sente prazer com a leitura, que é capaz de fruir as qualidades estéticas e artísticas dessa que é uma das artes mais antiga.
Ler (e ouvir) histórias é preciso, uma necessidade humana.
“Só a literatura oferece a possibilidade de vivenciar mundos diferentes e outras realidades. Através dela, aprendemos a compreender melhor o outro, desenvolvemos empatia”, pondera a jornalista Daisy Carias, editora do blogue
A Cigarra e a Formiga, de literatura infantil, e do
canal homônimo no Youtube, em que recomenda livros e conta sua experiência leitora com seus dois filhos.
Se montar uma biblioteca em casa para as crianças é importante, o desafio de escolher os livros, selecionar os títulos e identificar aquilo que é bacana e o que não é –na imensidão de ofertas literárias para crianças - também é grande.
O blogue da Editora Brinque-Book ouviu especialistas, mães e apaixonados por literatura infantil para ajudar nessa tarefa –desafiadora, é verdade, mas também deliciosa! Confira então a estréia da seção 10 dicas de... como montar a primeira biblioteca.
1. Forme-se leitor.
Para escolher bons livros para as crianças e formar leitores é preciso, antes de tudo, ser leitor também. Ter repertório, olhar treinado, estar acostumado às características e sutilezas da linguagem literária. O que não significa já ser leitor. A especialista em literatura infantil Denise Guilherme, fundadora e curadora de
A Taba, comunidade de leitura virtual e clube de assinaturas, explica que os pais podem formar-se leitores junto com os filhos buscando informação jornais, revistas, sites e canais sobre o tema, dedicando tempo à leitura de literatura infantil, frequentando livrarias e bibliotecas especializadas, conversando com livreiros, trocando experiências com outras famílias. Ou seja, experimentando, sem pressa, livros de literatura para crianças. O que leva à próxima dica:
2. Passeie em livrarias e bibliotecas.
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O livro do Lívio / Texto e ilustrações: Hrefna Bragadottir[/caption]
Experimentar literatura quer dizer frequentar livrarias e bibliotecas. Daisy sugere que pais e mães “fujam” dos livros em destaque e deixem-se perder entre as prateleiras, fuçando as obras mais “escondidas”. Emprestar livros é outra dica importante, tanto para ampliar o repertório quanto para testar as escolhas e ir refinando o olhar. Além disso, como lembra a psicóloga Cassia Bittens, criadora do projeto Literatura de Berço e uma das juradas do prestigioso Prêmio Jabuti entre 2013 e 2016, é importante que a relação com o livro não seja apenas de consumo, de compra.
3. Descubra o leitor.
Um bom modo de refinar o olhar e fazer melhores escolhas –além de exercitar escolhendo- é observar atentamente o que faz brilhar os olhos das crianças e o que as interessa. Quais temas apaixonam? E como as crianças se relacionam com esses interesses? Há crianças que levam tempo fruindo literatura e outras cuja atenção se dispersa mais facilmente. Para cada perfil, há livros mais ou menos atraentes.
4. Não subestime os pequenos leitores.
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O homem que amava caixas / Texto e ilustrações: Stephen Michael King[/caption]
Um critério importantíssimo na escolha de livros para crianças é evitar as opções que subestimam a inteligência e as capacidades de compreensão estética dos pequenos. Denise Guilherme exemplifica: “crianças não gostam só de tons pastéis e de personagens de desenho infantil, ao contrário”. Narrativas muito simplificadas, sem densidade emocional, que não proponham desafios ou que não surpreendam geralmente não são de grande qualidade e duração.
Outro ponto importante, lembra Cassia Bittens, é oferecer variedade de gêneros, estilos, conteúdos, tipos de ilustrações. Um pouco de poesia, um pouco de prosa, um pouco de livros informativos, um pouco de livro-imagem (em que a narrativa é feita sem palavras, só com ilustrações).
5. Repare nas qualidades literárias.
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Onde começa a história / Texto e ilustrações: Marie-Louise Gay[/caption]
“Não se trata de ter muitos, mas bons livros. Livros de qualidade duram porque se renovam a cada leitura”, explica Denise Guilherme. Para ter qualidade literária, o livro precisa trabalhar a linguagem, a palavra, o modo como conta a história. Numa poesia, por exemplo, trabalha as rimas e não faz uso de rimas “pobres”, fáceis, óbvias, como “amor” rimando com “dor”.
O mesmo vale para a ilustração. Que enquadramentos e perspectivas propõe? Como é o traço? Que cores usa? Que surpresas e camadas reserva ao leitor atento? Complementa a história ou é apenas decorativa? Supreende?