Quando chega a adolescência, não acaba só a infância. Nessa fase de mudanças, é comum garotos e garotas perderem também o hábito de ler cultivado nos anos anteriores. Para afastar tais fins e perdas, a escritora espanhola Ana Punset encontrou uma chave de comunicação com jovens leitores. Com uma linguagem ágil, ela tem conquistado fãs: a série O Clube do Tênis Vermelho já vendeu mais de 200 mil exemplares na Espanha.
“Acho que as pessoas param de ler quando encontram algo melhor para fazer, e isso acontece quando não conseguem ler nada que as motive”, arrisca a autora, grande defensora da leitura pelo prazer. “É importante que haja um bom catálogo dedicado a essas idades, com temas que formem parte deles, para mantê-los atentos e fiéis à leitura.”
Ela atribui o sucesso às temáticas que aborda, sempre conectadas ao universo de suas leitoras (sim, a maioria meninas!), que costumam ter entre 9 e 14 anos. Escreve sobre amizade, viagens, sonhos… Recorre também à linguagem audiovisual que carrega de sua formação em televisão e cinema. Sua escrita dialoga com a geração atual, imagética.
No primeiro título da série, que acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letrinhas, está a história de amizade de quatro garotas, Lúcia, Marta, Frida e Bia. Lúcia é a criativa, artista: dança, desenha, escreve. Marta é mais sonhadora: gosta de ler e é muito romântica. Frida é ativa, está sempre em movimento, adora praticar esportes. Amante da música, Bia é tímida até que toque a sua canção favorita.
“São muitas as meninas que me escrevem dizendo que cada uma de suas amigas poderia ser perfeitamente uma componente do Clube do Tênis Vermelho”, conta a escritora, que conversou com o Blog da Letrinhas sobre a série, interesses do leitor jovem e processo criativo. Leia mais a seguir.
Por que acha que seus livros fazem tanto sucesso com os jovens?
Acho que gostam dos livros porque eles tratam de temas que fazem parte da vida cotidiana dos jovens: a amizade, as aulas, os meninos e meninas, as viagens, os sonhos… Além do mais, tento fazer com que as histórias sejam ágeis, com uma mensagem clara que possa chegar até os leitores.
Cada personagem do livro tem uma personalidade marcada. Como as leitoras podem se identificar com cada uma?
É verdade que cada personagem tem uma personalidade, mas o mais importante é que todas as amigas se complementam muito bem. Além do mais, cada uma tem um passatempo que hoje em dia marca a vida de muitos jovens: o esporte, o desenho, a música, a dança, a escrita… São muitas as meninas que me escrevem dizendo que cada uma de suas amigas poderia ser perfeitamente um componente do Clube do Tênis Vermelho.
Há quem aponte O Clube do Tênis Vermelho como o Clube dos Cinco do século XXI. Você concorda com isso? Existiu alguma inspiração na série?
Como acontece no Clube dos Cinco, em O Clube do Tênis Vermelho a amizade vem em primeiro lugar e, juntas, as amigas vivem diversas aventuras. Enid Blyton é a autora de livros juvenis mais famosa da história, eu acho, e é uma honra que a minha série lembre de alguma forma uma das suas. Não me inspirei nela para criar os personagens e as histórias, mas pensamos sim em O Clube do Tênis Vermelho como uma série desde o primeiro livro que, tomara, durará tanto quanto os da autora inglesa.
Quando e como você decidiu escrever para o público jovem? Quais são os desafios de escrever para esse público?
Passei um tempo me dedicando a escrever para adultos com um grupo de escritores, e depois surgiu a oportunidade de fazer uma prova com a editorial Montena para escrever um primeiro livro para essa série. Fiz a prova e escrevi o primeiro livro, depois vieram os seguintes. Os desafios são buscar um estilo que prenda este tipo de público, que os livros sejam ágeis, que os diálogos, os gestos e, inclusive, a maneira de se vestir reflitam os meninos e meninas de hoje em dia, que os temas sejam atrativos e que sirvam para aprender algo útil. E tudo isso é o que procuro cada vez que escrevo um livro novo.
O que você gostava de ler quando tinha essa idade (9 a 14 anos)?
Com essa idade, eu lia de tudo. Sempre gostei da fantasia, mas também seguia Enid Blyton e suas Torres de Malory, ou Elena Fortún e a sua Celia, por exemplo. Pouco tempo depois descobri Romeu e Julieta e li a minha primeira obra de teatro.
Como é o seu processo criativo?
O meu processo criativo é baseado em uma rotina bastante fixa. Todos os dias tenho que dedicar umas horas aos meus livros. Primeiro estabeleço um argumento detalhado de todos os personagens, e depois começo a escrever o primeiro capítulo. Dessa forma, sempre encontro uma forma de seguir avançando.
Você defende muito a ideia de que a leitura deve ser um momento de prazer e não uma obrigação. Muitos consideram que entre 9 e 14 anos é quando a maioria das pessoas para de ler. Por que isso acontece? Quando escreve a sua obra, pensa nisso de alguma maneira?
Acho que as pessoas param de ler quando encontram algo melhor para fazer, e isso acontece quando não conseguem ler nada que as motive. Até pouco tempo atrás, era difícil para o público de 9 a 14 anos encontrar algo de que gostassem. As mães me diziam sempre: ou eram muito infantis ou eram muito adultos. Então é importante que haja um bom catálogo dedicado a essas idades, com temas que formem parte deles, para mantê-los atentos e fiéis à leitura. Procuro estar a par dos temas que possam interessar a esse público para que os meus livros não se desfalquem.
Você tem formação em audiovisual. Isso influencia de alguma forma a sua narrativa? Poderia comentar sobre a geração imagética de hoje?
Minha formação em audiovisual afeta sim a minha maneira de escrever. Sempre comentam isso comigo. Por exemplo, as cenas parecem ser bastante visuais, de modo que o leitor possa criar uma imagem mental. Além disso, em termos narrativos, sempre desenvolvo a estrutura dos três atos. As novas gerações vêm espertas em temas que temos que aprender já adultos. Quando vejo crianças de três anos mexendo em tablets, fico alucinada. Mas é que as novas gerações também os usam nos colégios e temos que aceitar que estão integradas nas nossas vidas. No entanto penso que, como em tudo, a virtude está no equilíbrio.
Você tem obtido bastante sucesso, não apenas na Espanha, mas também em outros países. O que observa na relação entre os jovens e os livros? Como espera que os leitores brasileiros recebam a sua obra?
Nesses quatro anos publicando a série de O Clube do Tênis Vermelho descobri que os leitores jovens são os mais agradecidos do mundo. Acho que só buscam um livro que os “compreenda” e, quando o encontram, mantêm-se fiéis a ele. Muitas jovens têm escrito pra mim agradecendo por fazer livros de que gostam tanto, e esse é o melhor presente que alguém pode ter. Espero que as leitoras brasileiras acolham a série com o mesmo entusiasmo. Por favor! hehe